Por conta do modelo de disputa com divisão por grupos regionais, a Série C sempre apresenta confrontos inéditos, até mesmo para clubes centenários do futebol brasileiro. É o caso do duelo entre Santa Cruz e Operário-PR. As equipes se enfrentarão pela primeira vez na história do Campeonato Brasileiro, valendo o acesso à Série B. Para deixar o torcedor tricolor por dentro do que virá pela frente, o JC fez um levantamento da história do clube e do atual momento do Operário na competição.
Assim como o Santa Cruz, o Operário também surgiu de um movimento popular e é, inclusive, mais velho que o próprio Tricolor. Apesar de apresentar versões alternativas para a sua fundação, em 1912, a mais aceita pelos pesquisadores e pela própria CBF consta que o clube nasceu devido aos trabalhadores da construção ferroviária no interior do Paraná, daí o nome Operário Ferroviário. O berço escolhido foi a cidade de Ponta Grossa, que tem cerca de 345 mil habitantes, localizada a cerca de 115 km da capital Curitiba. Dados bastante semelhantes à cidade de Caruaru, em Pernambuco.
Ao longo da história, o clube sofreu altos e baixos. A única vez que disputou a Primeira Divisão nacional foi em 1979, onde terminou como 88° entre os 94 competidores. Realizando mais uma campanha pífia na Segunda Divisão do ano seguinte. Após oito anos longe das competições nacionais, voltou ao cenário e teve seu auge no ano de 1990.
Naquele ano, inclusive, poderia ter ocorrido o primeiro encontro entre ‘operarianos’ - como são conhecidos os torcedores - e corais, mas foram Central e Sport que duelaram com os paranaenses, que se sobressaíram. Contra a Patativa, um empate sem gols em Caruaru e vitória por 2 a 0 no alçapão do Germano Krüger. Contra o Leão, a mesma receita. 2 a 1 no Paraná e empate em 1 a 1 na Ilha. A surpreendente campanha do Fantasma - mascote do clube e símbolo do escudo entre as décadas de 60 e 70 - parou no Atlético-PR, que conseguiu o acesso no quadrangular final. O Sport se sagraria campeão daquela edição.
Daí em diante, o Operário amargou rebaixamento no ano seguinte, passando por períodos de inatividade (de 1995 a 1998, e 2001 a 2003) e até mesmo com outras denominações (Ponta Grossa Esporte clube, em 1999 e 2000, e Associação Pontagrossense de Desportos, em 2009).
No início da década, o Operário passou perto de conseguir o acesso na Série D em 2010, mas ficou pelo caminho, assim como o próprio Santa Cruz naquela temporada. A redenção começou a ser desenhada sob a administração do atual presidente de futebol, Álvaro Góes, que assumiu o cargo em 2015. O time conquistou o emblemático título do Campeonato Paranaense, desbancando os gigantes da capital, Curitiba, Paraná e Atlético. No entanto, o acesso bateu na trave na Série D, eliminado pelo Joinville em um campeonato atípico.
A situação ficaria ainda pior com o rebaixamento de divisão no campeonato estadual, no ano seguinte ao título. Por consequência, a ausência no nacional. Mas a recuperação veio logo em seguida. Mesmo permanecendo na Série B paranaense, conseguiu não só o acesso mas o incontestável título da Série D, praticamente seguindo invicto jogando em casa. A invencibilidade só caiu na grande final, com a derrota por 1 a 0 para o globo. No entanto, a goleada por 5 a 0 na ida deu segurança suficiente para a conquista da taça.
O ano começou embalado para o operário. Campeão absoluto da Série B paranaense, com 13 vitórias e dois empates. E se confirmou com a boa campanha na Série C. Novamente baseando-se na boa campanha dentro de casa, os alvinegros terminaram a fase de grupos em segundo lugar, após cair de produção na reta final, sem vencer nas últimas quatro partidas.
A palavra ‘alçapão’ não é utilizada à toa para descrever o Germano Krüger. Pequeno, com capacidade para 8.872 torcedores, o estádio faz homenagem ao técnico em estradas de ferro alemão que o projetou. O Operário levou nesta Série C uma média de 3.615 torcedores, mas para o mata-mata contra o Santa Cruz, deve ter casa cheia, assim como na decisão da Série D contra o Globo, quando levou a campo 8.830 espectadores, apenas 42 a menos que a capacidade total.
O maior destaque da equipe fica no banco de reservas. O técnico Gérson Gusmão, de 44 anos, esteve presente como auxiliar na conquista do título estadual, em 2015, mas deixou o clube em seguida, rodando por outras equipes do sul do país. A volta para o Fantasma aconteceu em 2016, na tentativa de evitar a queda de divisão no paranaense. Mesmo caindo, foi mantido no cargo e desde então comanda o time que não tem nomes mais tarimbados no cenário nacional.
Mesmo sem contar com medalhões, o time de operários faz jus ao nome do clube. O protagonismo é dividido e baseado na manutenção de atletas vencedores que ajudaram na reconstrução do time, lembrando bastante o processo atravessado pelo Santa Cruz de 2011 a 2015, quando retornou da Série D para a A
Na defesa, o goleiro Simão e o lateral Peixoto são dois dos destaques do time principal, compondo uma espinha dorsal da equipe com danilo Báia, o zagueiro uruguaio Sosa e o volante Chicão (ex-Paraná).
No setor de criação, o experiente meia Xuxa, de 36 anos, e o jovem volante Erick são destaques, ao lado dos atacantes Bruno Batata (ex-Coritiba) e Schumaker (ex-Atlético e futebol europeu). No elenco, o atacante Vinícius, ex-Santa Cruz e Náutico, é o mais conhecido do cenário pernambucano.