CIDADANIA NO ESGOTO

Nordeste é a região que mais sofre com falta de saneamento

Índices na região comprometem a qualidade de vida da população

Fabiane Cavalcanti
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Fabiane Cavalcanti
Publicado em 03/03/2012 às 14:40
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SÃO LUÍS – São Luís, capital do Maranhão, apresenta índices de saneamento semelhantes ao do Brasil: 82% da população tem abastecimento de água e 46%, coleta de esgoto. Isso resulta em gravíssimos problemas ambientais e de saúde pública, que se repetem em outros Estados.
Pesquisas da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) indicam a iminência de surtos de esquistossomose e hepatite A. O litoral de São Luís está totalmente contaminado pelos dejetos da cidade: todas as cinco praias têm níveis de coliformes fecais acima do permitido. Até mesmo a Lagoa do Jansen, um dos principais pontos turísticos, cercada de bares e restaurantes, exala mau-cheiro durante todo o dia.
“É uma questão de direitos humanos. Nossa sociedade não sabe o que é qualidade de vida”, diz o biólogo Flávio Henrique Morais. Foi ele quem detectou o estado de calamidade pública nas praias de São Luís, há dois anos. Professor do Centro Universitário do Maranhão (Uniceuma), ele monitorou a qualidade da água em seis pontos do litoral maranhense, da praia da Ponta D’Areia até o Olho D’Água, e encontrou taxas de 2 mil a 25 mil coliformes fecais por 100 ml. Conforme a legislação ambiental, o máximo permitido para banho são mil coliformes fecais por 100 ml.
“O esgoto é lançado in natura no Rio Anil e no Aterro do Bacanga, que deságuam no oceano. Quando a maré enche, vem tudo para a praia”, diz Flávio. E o mais preocupante foi que em todos os pontos foi verificada
a presença da bactéria Escherichia coli, que provoca diarreia. “O maior problema não é a quantidade, mas o fato de que as variedades encontradas são produtoras de toxinas e com um alto grau de virulência”, explica.
A professora Ivone Garros, do Instituto de Biologia da UFMA, também encontrou resultados alarmantes em seus estudos sobre esquistossomose, doença parasitária conhecida como barriga d’água, que ataca o fígado e o baço. Sua equipe detectou caramujos infectados que transmitem o parasita em todos os oito bairros da cidade pesquisados. “A doença só existe quando o caramujo e o homem convivem numa área sem saneamento.
Se tem saneamento, fecha o ciclo”, afirma. “O surto já está implantado, não vemos isso nas estatísticas porque muitas vezes o exame de fezes comum não revela”, acrescenta.
De acordo com o Ministério da Saúde, o Maranhão é o quarto Estado do País em número de casos de esquistossomose. Outra pesquisa da UFMA indica que 60% das crianças de 7 a 14 anos da rede pública de ensino
já entraram em contato com o vírus da hepatite A.
RECIFE
A Região Metropolitana do Recife, maior aglomeração urbana do Nordeste, também sofre com a falta de saneamento. A cidade é conhecida como Veneza Brasileira, pela quantidade de rios e canais que cruzam seus bairros, mas a maior parte dos cursos d’água está poluída pela falta de coleta e tratamento de esgoto.
Na Zona Sul, com seus enormes edifícios de classe média e grandes lojas, um canal a céu aberto, a poucos quarteirões da Praia de Boa Viagem, é conhecido pelo mau cheiro.
Segundo funcionários da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) que preferem não se identificar, parte do esgoto jogado ali vem dos prédios residenciais, que fazem a ligação dos dejetos direto nas
galerias pluviais, por onde deveria escoar apenas a água da chuva.
Mesmo o esgoto que é coletado e enviado à Estação de Tratamento do Cabanga, uma das mais antigas do País, é despejado sem tratamento na natureza, já que o complexo não consegue processar todo o volume que chega ali.
O professor Ronald Vasconcellos, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), afirma que o Recife só consegue manter suas praias limpas por uma “dádiva da natureza”. “O esgoto que é jogado nos rios e nos mangues acaba no Porto do Recife e de lá vai para o mar adentro, longe das praias”, explica. “Fosse em outro lugar, seria um problema ambiental de grandes proporções”, completa.

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