Violência

Com medo, família enterra jovem condenado por estupro coletivo em Teresina

O sepultamento ocorreu por volta das 18h desta sexta-feira (17), após exames no IML (Instituto Médico Legal). A família teve que se deslocar de Castelo no Piauí (a 190 km de Teresina) para realizar o enterro

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Publicado em 17/07/2015 às 22:00
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Com medo de represálias, a família do adolescente morto dentro do CEM (Centro Educacional Masculino) teve que realizar o enterro do garoto às pressas em Teresina, no Piauí. Gleison Vieira da Silva, 17 anos, foi espancado até a morte em um alojamento do centro de interação na última quinta-feira.

O sepultamento ocorreu por volta das 18h desta sexta-feira (17), após exames no IML (Instituto Médico Legal). A família teve que se deslocar de Castelo no Piauí (a 190 km de Teresina) para realizar o enterro. Devido o clima de tensão na cidade, os familiares resolveram enterrar o adolescente na capital piauiense.

Muito abalada e chorando, a mãe do adolescente Elisabete Vieira da Silva, 43, pediu perdão ao filho. Ela está gravida de três meses.

"Perdão meu filho por estar te enterrando aqui e não em sua casa", disse a mãe. Ela estava acompanhada do marido, padrasto de Gleison, e de duas filhas - uma de 14 anos e outra de 15 anos, que está gravida de cinco meses.

A irmã do adolescente pediu para ver o irmão, mas não foi autorizada a abertura do caixão. A cerimônia foi acompanhada por policiais.

Maria Francisca Vieira, 65 anos, tia de Gleison, jogou flores em cima do caixão e disse que foi melhor fazer o enterro em Teresina. Ela disse que o clima é de insegurança e de ameaças a atear fogo no corpo.

"A gente decidiu enterrar aqui porque quando a família estava saindo de Castelo, algumas pessoas disseram que, se levasse o corpo para lá, iam tocar fogo e ficamos com medo", contou.

Gleison Vieira da Silva, 17, morreu após levar socos e pontapés e de ter a cabeça batida contra o chão, por volta das 23h, na cela "D" do centro educativo. Ele chegou a ser socorrido por uma equipe de enfermeiros, mas não resistiu e morreu.

O adolescente foi o responsável por delatar os outros três adolescentes. Ele deu detalhes do caso à polícia e participou da reconstituição do crime. Ao contrário dos outros acusados, Gleison, perante o juiz, manteve a confissão feita pelos quatro anteriormente à polícia de que estupraram e agrediram as quatro vítimas - uma delas, Danielly Rodrigues Feitosa, 17, que morreu.

"Eles já confessaram o crime, e este foi um ato de vingança. A princípio a rotina iniciou-se bem, mas fomos surpreendidos e é como um lobo na pele de cordeiro. Foi uma abordagem covarde e de traição", disse Anderlly Lopes, diretor de Atendimento Socioeducativo da Secretaria de Estado da Assistência Social.

Os quatro adolescentes foram transferidos nesta quarta-feira (15) para o CEM. Antes, estavam no Ceip, unidade de internação provisória, sendo que Gleison permanecia sozinho, isolado dos outros três colegas, o que não ocorreu no CEM.

CONDENAÇÃO

Os adolescentes suspeitos do homicídio, de 15 e 16 anos, foram condenados a 24 anos de internação pelo crime de estupro coletivo, tentativa de homicídio e pela morte da estudante Danielly Rodrigues Feitosa.

Na decisão, o magistrado entendeu, de acordo com a jurisprudência do STJ (Superior Tribunal de Justiça), que o tempo de internação deveria ser de 24 anos para eles - oito vezes os três anos previstos no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Na prática, porém, nenhum dos adolescentes ficará internado 24 anos, já que o ECA estabelece que, ao completar 21 anos, o condenado deve ser liberado automaticamente.

O juiz da 2ª Vara da Infância e do Adolescente, Antônio Lopes, determinou a transferência dos três adolescentes para o Complexo da Cidadania, no bairro Redenção. Eles estão em celas separadas. "Eles não têm condições de voltar para o CEM, pois se eles voltarem, podem morrer. Já existem ameaças dos internos lá dentro".

No CEM, onde há 80 adolescentes mas a capacidade é de 60, os internos fizeram motim e não aceitam a presença dos três adolescentes de Castelo.

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