TRAGÉDIA

Ao menos 14 pessoas são mortas na maior chacina registrada no Ceará

Já foram identificadas sete vítimas, que não tiveram seus nomes divulgados. A maioria são mulheres

Agência Brasil
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Publicado em 27/01/2018 às 15:19
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Já foram identificadas sete vítimas, que não tiveram seus nomes divulgados. A maioria são mulheres - FOTO: Foto: Divulgação
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Ao contrário do número de mortos divulgado anteriormente, constatando que 18 pessoas haviam morrido na que já é considerada a maior chacina da história do Ceará, o secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Estado (SSPDS) André Costa, afirmou que 14 pessoas foram vítimas do ataque ocorrido na madrugada deste sábado (27), durante uma festa no bairro Cajazeiras, em Fortaleza. A maioria das vítimas são mulheres. O número anterior havia sido informado pelo presidente da Associação dos Profissionais da Segurança Pública do Ceará (APS) Reginauro Sousa.

Das vítimas fatais, sete já foram identificadas. Os nomes não foram divulgados, mas a secretaria informou que três são homens maiores de idade e quatro são mulheres, duas maiores e duas adolescentes. Pelo menos seis pessoas atingidas no tiroteio seguem internadas no Instituto Doutor José Frota (IJF), maior centro médico de urgência e emergência da capital. O André Costa, afirmou em coletiva de imprensa que duas estão em estado grave.

Uma das que estão internadas é um rapaz de 24 anos, que levou um tiro no rosto. Três adolescentes, três de 16 anos (duas meninas e um menino) e um menino de 12 anos também foram atingidos. A sexta vítima tem 19 anos, mas não há informações sobre o estado de saúde dela.

O secretário André Costa chegou a comparar a ação dos criminosos com um ataque terrorista, mas disse que a população não precisa ter pânico. Em entrevista à imprensa, ele disse que as investigações já foram iniciadas, mas que ainda não é possível precisar o motivo do crime: “O que nós temos de concreto é que, às 0h39min, recebemos uma chamada da Ciops [Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança] de um tiroteio em um local no bairro das Cajazeiras, conhecido como Forró do Gago. De imediato, viaturas do Cotam [Comando Tático Motorizado] compareceram ao local, depois outras viaturas foram. Chegando lá, encontraram corpos e foram feitos trabalhos periciais”.

Tragédia

De acordo com a Polícia Militar do Ceará, por volta da meia noite, três carros com homens fortemente armados chegaram na festa conhecida como Forró do Gago, que acontecida na Rua Madre Teresa de Calcutá, em Cajazeiras, e iniciaram os disparos. Os suspeitos seriam da fação Guardiões do Estado (GDE), que estariam no local para executar membros do Comando Vermelho (CV).

Não há informações de quais seriam os verdadeiros alvos dos criminosos, nem quantos homens invadiram a festa. Os disparos teriam durado 30 minutos e atingiu dezenas de pessoas.

Facções criminosas

A chacina reitera o cenário de violência que marca o estado hoje. O Atlas da Violência 2017, estudo realizado pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que a taxa de homicídios por 100 mil habitantes no estado do Ceará cresceu 47% entre 2010 e 2015, ano em que foram contabilizados 4.163 homicídios.

Professor da Universidade Federal do Ceará e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência, Luiz Fábio Paiva afirma que parte desse número está ligada às facções criminosas. A hegemonia do crime no estado, segundo o pesquisador, tem sido disputada por dois grupos: uma aliança formada pelo Comando Vermelho e pela Família do Norte e, de outro, um grupo local conhecido como Guardiões do Estado, que receberia o apoio do Primeiro Comando da Capital (PCC). Para ele, o poder público é “completamente ineficaz no enfrentamento dessa situação”.

Na coletiva, o secretário de Segurança negou que o estado teria perdido o controle da segurança pública para as facções criminosas. “Não há perda de controle. É um evento isolado”, disse André Costa, acrescentando que “é uma situação criminosa, que foi organizada, que foi planejada e que veio a ser executada”. Ele comparou a situação com ataques em boates e shows em outros países, como nos Estados Unidos. Para ele, “não há motivo para pânico, para temor”.

Já Paiva aponta que não se trata de um fato isolado, mas de uma “sistemática de homicídios”. “Nós tivemos um momento de ‘pacificação’, de acordo entre esses grupos, mas logo em seguida nós tivemos aí uma deflagração de uma guerra entre vários grupos que atuam no Ceará. E, consequentemente, logo em seguida, nós começamos a observar várias chacinas”, diz o pesquisador.

Em junho de 2017, uma chacina matou seis pessoas no bairro Porto das Dunas, também em uma festa. Em novembro, outra chacina vitimou quatro adolescentes privados de liberdade, que foram retirados por criminosos do Centro Educativo Mártir Francisca. "São várias chacinas sem resolução, sem que os responsáveis sejam presos e devidamente punidos", disse Paiva.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que uma pessoa foi presa, suspeita de participação na chacina, e que um fuzil foi apreendido. A pasta informou que mais detalhes não serão divulgados neste momento para não comprometer as investigações, que contam com o trabalho das polícias, perícia forense e outros órgãos.

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