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EUA e México apostam na Iniciativa Mérida

Medida lançada com foco de combater narcotráfico mexicano é inspirada no Plano Colômbia

Thiago Neuenschwander
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Thiago Neuenschwander
Publicado em 03/10/2011 às 14:44
Lawrence Jackson/Casa Branca
Medida lançada com foco de combater narcotráfico mexicano é inspirada no Plano Colômbia - FOTO: Lawrence Jackson/Casa Branca
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CIDADE DO MÉXICO - Com o sucesso do Plano Colômbia, pelo menos no que se refere ao combate à violência, o México decidiu aceitar a ajuda externa para combater o narcotráfico. Em 2008, os presidentes Felipe Calderón e George W. Bush fecharam um acordo e iniciaram um programa similar ao que foi implantado na nação sul-americana, chamado Iniciativa Mérida. Os objetivos eram idênticos aos estabelecidos para a Colômbia: acabar com o narcotráfico, desmantelar os cartéis e restabelecer a ordem social no país.

O Congresso americano aprovou um pacote de US$ 1,5 bilhão para os três primeiros anos, que inclui helicópteros, aviões, tecnologia operacional e de inteligência, além de treinamento para os policiais e militares mexicanos. O pacote também foi estendido a países centro-americanos, como: Belize, Haiti, Costa Rica, El Salvador, República Dominicana, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá.

Os resultados práticos ainda não foram sentidos pela população mexicana, mas o atual presidente americano, Barack Obama, já confirmou que seu governo dará continuidade ao plano com o apoio do Congresso dos EUA e de Calderón.

Esta iniciativa bilateral, no entanto, vem enfrentando muitas críticas da sociedade civil mexicana. A diretora do Programa das Américas na Cidade do México, Laura Carlsen, escreveu em seu artigo México: a violência exponencial, que a Iniciativa Mérida só transfere a ajuda militar direta para o controle do tráfico, mas não aumenta o apoio a programas sociais e nem confere obrigações básicas aos EUA, que são a fonte da maior parte das armas e do dinheiro do crime transnacional.

A especialista preconiza que há outros meios para tentar reverter o atual panorama no México e estender os exemplos para os demais países do continente, sobretudo da América Central. “A primeira é tratar o problema da demanda de drogas como um problema de saúde, com prioridades na prevenção, reabilitação, tratamento e redução de danos no México e sobretudo nos EUA, onde o governo não assumiu plenamente sua responsabilidade. Faltam oportunidades e emprego para jovens que têm projetos de vida”, explica Carlsen.

Outras frentes de ação que poderiam ser bem sucedidas, segundo o relatório, são a legalização das drogas, começando com a maconha, o desmantelamento das estruturas financeiras que permitem a lavagem de dinheiro e a movimentação dessa verba pelo crime organizado, e o fomento de projetos que partam da sociedade, para que a população não ocupe apenas o papel de vítima nessa conjuntura.

“Quando se utiliza o Exército e a polícia como ferramentas principais contra o crime organizado, a sociedade fica marginalizada e exposta a abusos. Cria-se uma situação perigosa, que se aproxima de uma ocupação interna, com a perda de direitos humanos e civis. Uma sociedade forte e participativa é capaz de resistir melhor à infiltração do crime organizado”, acrescenta Laura Carlsen.

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