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Uma troca de experiência para pernambucanos

Representantes da Cure Violence conheceram realidade do Estado

Do JC Online
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Publicado em 08/06/2014 às 8:31
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Num Pernambuco onde a taxa de homicídios ainda é três vezes maior do que considera tolerável a Organização das Nações Unidas (ONU), apesar da redução de 35% de 2007 a 2013, experiências bem-sucedidas também são bem-vindas. O diretor internacional da Cure Violence, Brent Decker, e o interruptor Frankie Sanchez visitaram o Estado na semana passada, numa parceria com o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Criminalidade, Violência e Políticas Públicas de Segurança da UFPE.

Além da participação em palestras, os norte-americanos visitaram o bairro de Santo Amaro, andaram pelas ruas da comunidade e conversaram com jovens em vulnerabilidade assistidos pelo Centro da Juventude. Brent e Frankie também participaram de uma reunião de monitoramento do Pacto pela Vida. E ainda conheceram o Complexo Professor Aníbal Bruno, a maior unidade prisional de Pernambuco, no Sancho, Recife. O périplo dos norte-americanos tem um motivo: O núcleo de estudos da UFPE trabalha para fechar uma parceria com a Cure Violence, adaptando o método e a filosofia do trabalho à realidade local.

No Centro da Juventude, além do jeito de barra pesada e a cara de poucos amigos reforçada pelos óculos escuros, Frankie, 48 anos, impressionou os jovens com sua história de vida. Nunca conheceu o pai e perdeu a mãe aos 5 anos. Aos 11, já integrava uma das maiores gangues de Chicago e trocava tiros. Um ano depois, feriu um rival e, pelo crime, passou anos preso no que seria a Funase norte-americana. Voltou à liberdade e chegou à liderança da gangue. Matou um inimigo e amargou uma pena de 25 anos de prisão em penitenciárias de segurança máxima. O regime era severo: 23 horas na cela e uma de banho de sol.

De lá de dentro, ainda conseguiu ter influência sobre os parceiros que estavam em liberdade. Quando viu que chegava a hora de deixar a prisão, passou a se questionar e aproximou-se dos livros. Até conhecer a Cure Violence. Botou os pés na rua novamente em 2008. E, desde então, já perdeu as contas de quantas brigas evitou. “Não atribuo o meu passado ao fato de ter perdido minha mãe e não ter conhecido o meu pai. Fiz as escolhas erradas. Era uma época de poucas escolhas. Por isso, tento mostrar aos filhos dos meus amigos, que já estão mortos, que é possível ir por outro caminho.”

Em Chicago, a porta de hospitais públicos é um dos locais em que Frankie atua com frequência. Quando uma vítima de tiroteio dá entrada na unidade, é comum a gangue rival querer invadir o local para eliminá-la. Nessas horas, Frankie – com jeito manso e a mesma cara de barra pesada que impressionou os jovens de Santo Amaro – convence que ali, naquele momento, a continuidade do ciclo da violência não é a solução mais adequada.

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