A decisão do Vaticano de colocar em prisão domiciliar e julgar o ex-núncio na República Dominicana Josef Wesolowski pode acabar com o período em que a igreja protegia os padres pedófilos, afirmou o cardeal Walter Kasper, ligado ao papa Francisco.
"Estamos diante de uma mudança de paradigma. Houve um tempo em que os padres estavam protegidos. Agora, as coisas são vistas pelo lado da vítima", declarou ao jornal Corriere della Sera o cardeal e teólogo alemão.
Pela primeira vez, o Vaticano se dispõe a julgar penalmente um religioso, o polonês Josef Wesolowski, por abusos sexuais contra menores e posse de pornografia infantil.
"A linha do papa é clara, não podemos parar agora, ainda mais quando se trata de um bispo. Devemos ser claros", disse o cardeal Kasper.
De acordo com Valesio de Paolis, que recebeu a missão do papa de renovar a congregação conservadora dos Legionários de Cristo após um escândalo de pedofilia, "até então a igreja não julgava o crime de pedofilia do ponto de vista sexual, e sim do ponto de vista disciplinar".
"A detenção do arcebispo Wesolowski é uma importante decisão política e sem ambiguidade por parte de Francisco", afirmou ao jornal La Stampa.
O ex-portavoz do papa João Paulo II Joaquín Navarro-Valls declarou ao jornal La Repubblica que a decisão do papa Francisco era "a consequência lógica e coerente de uma posição adotada plenamente e compartilhada completamente por seus predecessores".
O Vaticano anunciou em maio que os tribunais eclesiásticos puniram pelo menos 3.420 padres e religiosos nos últimos 10 anos.