Um tribunal egípcio ordenou nesta quinta-feira a libertação de dois jornalistas da rede de televisão catariana Al-Jazeera detidos no país por seu suposto apoio à Irmandade Muçulmana.
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O tribunal ordenou a libertação do jornalista canadense Mohamed Fahmy em troca de uma fiança de 250.000 libras egípcias (32.980 dólares), enquanto seu colega egípcio Baher Mohamed foi solto, constatou a AFP.
A próxima audiência do julgamento será realizada em 23 de fevereiro, anunciou o tribunal.
A decisão ocorreu cerca de duas semanas após a expulsão do australiano Peter Greste. Este jornalista do canal de notícias catariano foi condenado junto a seus dois companheiros, mas abandonou o país em 1º de fevereiro em virtude de um decreto presidencial.
No Catar, a Al-Jazeera comemorou nesta quinta-feira a libertação dos dois jornalistas. "Todos estamos muito agradecidos. É um grande dia para nós e esperamos que o caso seja abandonado", declarou à AFP Hether Allan, uma funcionária da Al-Jazeera English.
Em seu primeiro julgamento, em junho, Fahmy e Greste foram condenados a sete anos de prisão e Baher Mohamed a 10 anos, mas o Tribunal de Apelação anulou estas sentenças em janeiro e ordenou um novo processo. O caso provocou grande indignação na comunidade internacional.
As autoridades egípcias detiveram os jornalistas no fim de 2013 no Cairo, acusados de ter falsificado informações para apoiar a Irmandade Muçulmana do antigo presidente islamita Mohamed Mursi, deposto pelo exército em julho de 2013.
Pesadelo
Fahmy precisou renunciar a sua nacionalidade egípcia e espera ser expulso com a mesma base jurídica que Greste. Suas chances de abandonar o país são, no entanto, escassas.
Seu advogado, Khaled Abu Bakr, pediu sua libertação antes que o próprio Fahmy se dirigisse ao tribunal.
"Não escolhi renunciar a minha nacionalidade egípcia, um funcionário de segurança me visitou e pediu que eu abandonasse minha nacionalidade porque o Estado quer abandonar deste caso que se tornou um pesadelo", afirmou Fahmy, enquanto agitava uma bandeira egípcia.
Na abertura do julgamento, o juiz convocou os acusados, incluindo Greste. "Não está aqui", respondeu um policial.
O caso de Greste continua incerto. Pode ser condenado à revelia, depois que as autoridades egípcias o expulsaram do país. O tribunal também pode abandonar as acusações feitas contra ele.
"É um imenso passo adiante. Não é o momento de dizer que terminou, mas ao menos pode voltar para casa", comemorou Greste em sua conta no Twitter.
Julgamento
A Anistia Internacional exigiu a libertação imediata e incondicional dos jornalistas, considerando que "não eram culpados de nada que não fosse o exercício de seu trabalho de jornalistas".
A Al-Jazeera denunciou a dimensão política do caso, enquanto o regime do presidente Abdel Fatah al-Sissi criticou o Catar e o canal de notícias por seu apoio à Irmandade Muçulmana.
O meio de comunicação catariano mostrou-se muito crítico à repressão dos partidários do ex-presidente Mursi no Egito, onde 1.400 manifestantes islamitas morreram e 15.000 foram detidos pelo regime de Sissi.