Ucrânia

Kiev destitui poderoso governador do leste e prende autoridades

Segundo a polícia, os funcionários teriam realizado compras públicas de combustível "a preços muito mais elevados" que os de mercad

Da AFP
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Publicado em 25/03/2015 às 16:29
Foto: President of the European Council
Segundo a polícia, os funcionários teriam realizado compras públicas de combustível "a preços muito mais elevados" que os de mercad - FOTO: Foto: President of the European Council
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O presidente da Ucrânia destituiu o poderoso governador de Dnipropetrovsk, um magnata que tinha inclusive sua própria milícia para combater os separatistas, uma mostra de autoridade que ocorreu horas antes da prisão de dois funcionários de alto escalão durante uma reunião do governo.

O poderoso magnata havia sido nomeado em março de 2014 para dirigir a região de Dnipropetrovsk, fronteiriça com as zonas controladas pelos separatistas pró-russos, que enfrentam o governo de Kiev desde abril passado, em um conflito que já deixou mais de 6.000 mortos.

Igor Kolomoisky, de 52 anos, se reuniu com Poroshenko na noite de terça-feira e apresentou sua renúncia, depois que as relações com Kiev ficaram tensas após a aprovação de uma norma que limita o poder dos acionistas privados nas empresas estatais, que afeta os interesses do poderoso magnata.

Após a destituição do poderoso governador, dois funcionários de alto escalão ucranianos foram detidos diante das câmeras, durante uma reunião do governo. Os jornalistas presentes no conselho de Ministros viram os funcionários saírem algemados da sala.

Segundo a polícia, os funcionários teriam realizado compras públicas de combustível "a preços muito mais elevados" que os de mercado. As autoridades apontaram que estas aquisições envolviam várias empresas de energia, incluindo a petroleira russa Lukoil.

A polícia deteve Sergiy Bochkovsky, diretor do serviço de Emergências da Ucrânia, e seu adjunto, Vasyl Stoyetsky, diante dos olhares de jornalistas e fotógrafos.

O primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, advertiu durante a detenção que isso "pode acontecer com qualquer pessoa que viole a lei e engane o Estado".

"Num momento em que o país está em guerra, estamos contanto cada centavo, e eles roubaram o povo e o Estado", acrescentou.

O ministro do Interior, Arsen Avakov, afirmou que os dois homens são suspeitos de desviar fundos a um paraíso fiscal.

"Não estou infringindo o segredo da investigação, o que fazemos é uma investigação pública", disse Avakov.

O ministro também afirmou que isso não é "um espetáculo". "É uma vacina e é necessário que seja feito publicamente".

As prisões foram captadas pelas câmeras e divulgadas em sites como YouTube, gerando muitos comentários na internet.

"Foi muito divertido ver os rostos de preocupação dos ministros, cada um pensando que vinham por eles", disse o jornalista ucraniano Peter Shuklinov.

O atual governo ucraniano chegou ao poder após a deposição do presidente pró-russo, Viktor Yanukovytch, após uma série de revoltas pró-ocidentais. O novo executivo anunciou que a luta contra a corrupção, um problema que atingia o país há vários anos, era uma prioridade de sua administração.

 

A milícia privada de Kolomoisky

Kolomoisky, que após o início do conflito com os rebeldes separatistas financiou uma milícia de voluntários que foi muito efetiva na resistência ao avanço dos pró-russos, foi acusado de utilizar a violência para garantir seu vasto império, que inclui entidades financeiras, empresas metalúrgicas e meios de comunicação.

As relações entre o magnata e Kiev ficaram tensas depois que o governo impôs uma lei que limita o poder dos acionistas privados nas empresas estatais, que afeta os interesses do então governador.

Depois que o governo afastou pessoas próximas a Kolomoisky da direção de empresas estatais de energia, vários homens armados e encapuzados tomaram a sede das petrolíferas UkrTransNafta e Ukrnafta.

Muitos consideram que Kolomoisky literalmente comprou a paz e impediu que a insurgência das regiões do leste se propagasse.

Nesta quarta-feira, Anton Guerashenko, conselheiro do ministro do Interior, elogiou a eficácia de Kolomoisky na luta contra os separatistas, em comparação com a paralisia sofrida pelas forças de ordem ucranianas, após a deposição de Yanukovytch depois das revoltas da Maidan.

"Não ocorreram avanços dos separatistas em Dnipropetrovsk porque logo após a nomeação de Kolomoisky as forças russas foram expulsas às florestas", afirmou em sua conta do Facebook.

No entanto, para Mustafa Nayem, deputado do bloco de Poroshenko, a destituição de Kolomoisky "deve ser o início de uma cruzada contra os oligarcas, sua influência e seu enriquecimento às custas do Estado".

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