Vaticano

Papa condena 'silêncio cúmplice' ante fúria jihadista contra cristianismo

Jorge Bergoglio condenou na manhã de sexta-feira a "insensata brutalidade" do massacre dos jihadistas shebab contra os estudantes de uma universidade no Quênia

Da AFP
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Publicado em 04/04/2015 às 9:15
Foto: FILIPPO MONTEFORTE / AFP
Jorge Bergoglio condenou na manhã de sexta-feira a "insensata brutalidade" do massacre dos jihadistas shebab contra os estudantes de uma universidade no Quênia - FOTO: Foto: FILIPPO MONTEFORTE / AFP
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O papa Francisco celebrou a Páscoa criticando o "silêncio cúmplice" e a "indiferença" diante da fúria jihadista contra os cristãos, dois dias depois do massacre no Quênia.

Francisco, que celebrou na sexta-feira (03) a "Paixão de Cristo" e sua crucificação em Jerusalém, presidirá na noite deste sábado (04) a Vigília pascal que comemora, segundo a tradição cristã, a ressurreição de Jesus.

Sob o impacto da tragédia do Quênia, a denúncia da violência jihadista desbanca os demais temas, como a paz ou a justiça, assuntos habituais todos os anos na Páscoa.

Jorge Bergoglio condenou na manhã de sexta-feira a "insensata brutalidade" do massacre dos jihadistas shebab contra os estudantes de Garissa, no leste do Quênia, que deixou 148 mortos. "Todas as autoridades devem intensificar seus esforços para acabar com semelhante violência", pediu o chefe dos 1,2 bilhão de católicos.

Antes de executar friamente suas vítimas, os shebab separaram os muçulmanos dos não muçulmanos em função de suas vestimentas, e mantiveram como reféns os segundos. "Não tememos a morte, serão boas férias de Páscoa para nós", ironizaram os criminosos em suaíli, segundo o testemunho de um sobrevivente.

No Vaticano há comoção pela multiplicação de perseguições contra cristãos do Iraque ao Quênia, passando por Líbia, Paquistão ou Nigéria, e teme-se que elas não sejam denunciadas, inclusive pelas próprias autoridades ocidentais e muçulmanas.

"Hoje vemos nossos irmãos perseguidos, decapitados e crucificados por sua fé em Ti, diante de nossos olhos ou frequentemente com nosso silêncio cúmplice", acusou com tom sombrio o Papa, ao fim do Caminho da Cruz, na noite de sexta-feira, ao se dirigir a Cristo.

"Senhor, apoia interiormente os perseguidos. Que o direito fundamental à liberdade religiosa se expanda", pediu o pontífice.

Anteriormente, em uma celebração solene na Basílica de São Pedro, "a fúria jihadista" já havia sido denunciada.

O pregador da Casa pontifícia, o franciscano italiano Raniero Cantalamessa, lembrou os 21 coptas egípcios assassinados em fevereiro por um grupo jihadista na Líbia, enquanto murmuravam o nome de Jesus.

 

Vítimas designadas

"Os cristãos não são as únicas vítimas, mas não se pode ignorar que são as vítimas designadas e mais frequentes em muitos países", afirmou o pregador.

Diante desta situação, "não é possível permanecer indiferente", acrescentou, em palavras que parecem dirigidas aos muçulmanos.

O Vaticano - em particular, nas palavras do enérgico ministro do diálogo interreligioso, o cardeal francês Jean-Louis Tauran - defende de forma incessante que seus interlocutores muçulmanos, como a universidade sunita Al-Azhar no Cairo, tomem posição distanciando-se dos islamitas e de qualquer perseguição anticristã.

A inesperada tomada da cidade iraquiana de Mossul, no último verão boreal, pelo grupo Estado Islâmico (EI), foi um momento crucial e levou a Santa Sé a ser mais incisiva diante das ambiguidades de algumas autoridades muçulmanas.

Segundo um editorial do jornal La Stampa, "o Islã deve proibir o acesso às mesquitas do que pregam o terrorismo. Muitas vezes por trás da condenação do terrorismo pelo mundo muçulmano ressoa o eco de uma compreensão. O Islã deve sair da ambiguidade".

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