Eleições Argentina

Volta do equilíbrio de poder está em jogo em eleições argentinas, diz jornalista

Segundo o jornalista Carlos Pagni, colunista do "La Nación", As eleições que decidirão o sucessor de Cristina Kirchner, na Argentina, em outubro, também definirão se será possível reconstruir um equilíbrio político após 12 anos de kirchnerismo

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Publicado em 28/04/2015 às 23:33
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Segundo o jornalista Carlos Pagni, colunista do "La Nación", As eleições que decidirão o sucessor de Cristina Kirchner, na Argentina, em outubro, também definirão se será possível reconstruir um equilíbrio político após 12 anos de kirchnerismo - FOTO: Foto: Presidência da Argentina
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As eleições que decidirão o sucessor de Cristina Kirchner, na Argentina, em outubro, também definirão se será possível reconstruir um equilíbrio político após 12 anos de kirchnerismo, segundo o jornalista Carlos Pagni, colunista do "La Nación".

Para ele, o principal debate em questão agora é se o próximo presidente manterá o "formato hegemônico, pelo qual mantém maioria automática do Congresso", característico do período Kirchner.

"A questão central que se coloca nessas eleições é se vai haver ou não a possibilidade de reconstruir um equilíbrio político para que a democracia argentina passe a ser um pouco mais competitiva", disse Pagni, em debate promovido em São Paulo pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso.

O colunista destacou a necessidade de que o próximo a governar "não exerça um monopólio com todos os seus vícios, mas que sinta a ameaça da alternância como uma ameaça virtuosa".

"Se o formato se mantém, vamos ter um populismo de direita, igualmente autoritário", observa.

Pagni e o economista brasileiro Fábio Giambiagi, criado na Argentina, apontaram o pleito que levou à reeleição de Cristina, em 2011, como um momento emblemático do projeto kirchnerista. A presidente teve 54% dos votos, contra 16% do segundo colocado.

"O que aconteceu na segunda eleição de Cristina não foi que ela teve uma votação a la Saddam Hussein, de 90% - havia 46% do outro lado, só que estava completamente disperso porque os elementos não dialogavam entre si", disse Giambiagi.

Na opinião de Pagni, eventuais governos dos três principais candidatos à Casa Rosada - o governista Daniel Scioli, da FpV (Frente para a Vitória) e governador da província de Buenos Aires, o prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, do oposicionista Pro, e o deputado Sergio Massa, da Frente Renovadora– seriam muito mais parecidos entre si do que da gestão de Cristina Kirchner.

"Cristina tem uma vocação hegemônica. Para ela, a essência da política é o conflito. Sua estratégia política é de 'eles e nós', na qual não há centro, não há diálogo. Os demais não têm essa propensão", afirma.

OBSTÁCULOS

Para Pagni, a principal dificuldade do governista Scioli, que aparece em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, é a própria Cristina. Além de estar do lado de um governo que enfrenta uma inflação de cerca de 30% ao ano, economia em recessão e problemas de financiamento das contas externas, o principal nome da FpV também tem que lidar com a inflexão de uma mandatária que não abre mão de seu projeto de poder hegemônico, segundo o jornalista.

"O objetivo de Cristina não é colocar um sucessor. Se ela tiver que escolher entre ceder algo dessa identidade para que vença seu sucessor ou deixar que ganhe outro, vai vencer outro", disse.

Massa, por sua vez, tem como obstáculo Macri. "Há dois anos, Massa era o São Jorge que matou o dragão [ao vencer o candidato de Cristina nas legislativas de 2013 em Buenos Aires]. O único que tinha na gôndola no mercado. Mas agora tem Macri também", diz Pagni.

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