Economia

Cristina defende 'Bricsa', com a Argentina, em evento com Lula

Nesta quarta-feira, Cristina pediu que o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva intercedesse em nome da Argentina

Da Folhapress
Cadastrado por
Da Folhapress
Publicado em 09/09/2015 às 21:50
Foto: Presidência da Argentina
Nesta quarta-feira, Cristina pediu que o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva intercedesse em nome da Argentina - FOTO: Foto: Presidência da Argentina
Leitura:

A economia da Argentina representa pouco mais de 20% da brasileira, e sua população cresce por ano a dois terços da velocidade sul-africana. Mas para a presidente argentina, Cristina Kirchner, o país deveria pertencer aos Brics -sigla que dá nome aos países que têm potencial para liderar o crescimento mundial neste século: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

O tamanho das economias, suas populações e riquezas naturais são alguns dos indicadores que levaram, em 2001, Jim O'Neill, então economista do banco americano Goldman Sachs, a criar o acrônimo.

Nesta quarta-feira (9), Cristina pediu que o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva intercedesse em nome da Argentina.

"Lula, você tem que ser o embaixador para que a Argentina integre os Brics. E que já não sejam mais Brics, e sim Bricsa", afirmou a presidente, em discurso que contou com a presença do brasileiro. Lula assentiu com a cabeça.

"Esse é nosso lugar. E que nesse Bricsa se incorporem mais países emergentes", acrescentou a presidente.

O contexto do pedido foram as críticas que Cristina costuma fazer aos "países do Norte". Dessa vez, além de tentativas de manipular a política e a economia da América do Sul, a presidente argentina também os acusou de pouca compaixão com os refugiados sírios.

"Por favor, não nos venham nos dar como exemplo os países do Norte", disse Cristina, com a voz embargada. "Não quero me parecer com países que expulsam imigrantes e que deixam morrer crianças nas praias. Isso é decadência cultural."

CAMPANHA ARGENTINA

Lula desembarcou nesta quarta (9) na campanha eleitoral da Argentina. Ele participou de um evento político de Daniel Scioli, candidato de Cristina a sucedê-la na Casa Rosada.

O ex-presidente brasileiro participou da inauguração de uma UPA (unidade de pronto atendimento) na pobre cidade de José C. Paz, na periferia de Buenos Aires. Ela foi batizada com o nome de Lula da Silva.

Projeto inspirado nos hospitais de atendimento de baixa complexidade brasileiros, as UPAs são uma das principais vitrines do candidato governista nas eleições de outubro deste ano.

Nos muros da principal via que levava ao evento, uma das lideranças políticas da região, o senador Mário Ishii, mandou pintar: "Bem-vindo, Lula da Silva", sugerindo que o ex-mandatário brasileiro conserva boa popularidade no país vizinho.

Para o analista político Ricardo Rouvier, que faz pesquisas eleitorais e consultoria de imagem para políticos alinhados ao governo, os escândalos de corrupção no Brasil, envolvendo o PT e Lula, não reverberam na sociedade argentina.

"Essas informações estão restritas aos setores muito informados e com alto nível educacional. Não têm efeito sobre a população, menos ainda teriam impacto sobre os votantes de Scioli", afirmou.

Para o analista, entretanto, as fotos do candidato governista ao lado de Lula tampouco tendem a agregar votos ao kirchnerismo.

"Experiências de eleições passadas nos indicam que aparições de lideranças de outros países não têm influência na campanha", disse. "Não é negativo, mas tampouco deve agregar votos".

O objetivo, na visão de Rouvier, é mostrar Scioli como uma liderança globalizada, "um homem do mundo, bem relacionado". No próximo dia 17, o candidato deverá receber o apoio do boliviano Evo Morales.

"Efeito eleitoral teria uma visita do papa Francisco", arrisca o especialista.

'DANIEL CORREA'

Lula foi bastante aplaudido pela multidão, formada principalmente por militantes de movimentos simpáticos ao governo de Cristina.

Em seu discurso, o ex-presidente reafirmou a proximidade de Brasil e Argentina e foi ainda mais aplaudido quando citou o ex-presidente Néstor Kirchner.

"Foi junto com Kirchner, com Cristina, Evo Morales, Chávez, Daniel Correa [sic] que nós enterramos a Alca [Área de Livre-Comércio das Américas] aqui em Mar Del Plata e fortalecemos o Mercosul", disse, trocando o nome do líder equatoriano Rafael Correa.

Não foi a única gafe do dia. Em seu discurso, Cristina disse a Lula que a Argentina havia sido o país do continente que mais pessoas levou à classe média: 23 milhões. Os números do Brasil dizem outra coisa. Na terça (8), em Assunção, Lula afirmara que, em seu mandato, o país tinha feito 40 milhões de pessoas ascenderem à classe média baixa.

Últimas notícias