FRANÇA

Presidente francês se apresenta como fiador da democracia a 8 meses das eleições

"A democracia será mais forte que a barbárie que a guerra declarou", destacou o presidente socialista

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Publicado em 08/09/2016 às 15:15
Foto: BERTRAND GUAY / AFP
"A democracia será mais forte que a barbárie que a guerra declarou", destacou o presidente socialista - FOTO: Foto: BERTRAND GUAY / AFP
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François Hollande pronunciou nesta quinta-feira (8) um discurso sobre o problema do terrorismo na França, no qual expôs suas ideias sobre o Estado de direito e os muçulmanos na sociedade, a oito meses de eleições presidenciais de alto risco.

"Por ter conduzido durante mais de quatro anos o combate da República contra um fanatismo assassino, não tenho nenhuma dúvida: (...) venceremos. A democracia será mais forte que a barbárie que a guerra declarou", destacou o presidente socialista no âmbito de um discurso-balanço, no qual se esmerou para se apresentar como fiador das leis e das liberdades diante da oposição de direita, que exige medidas de exceção.

A sensação de uma nova ameaça terrorista se reavivou depois que foram encontrados recentemente botijões de gás em um carro em pleno centro de Paris.

Temas como a identidade (nacional) e a imigração centram os debates diante das novas eleições presidenciais de 2017, e o chefe de Estado aproveitou a ocasião de um colóquio sobre "a democracia diante do terrorismo" para voltar ao primeiro plano da cena política, ocupado nas últimas semanas pelos candidatos às primárias de direita e pela entrada em disputa de quatro ex-ministros de esquerda.

O caminho "que vale, o único que é eficaz, é o do Estado de direito", afirmou, sem esquecer de lançar seus golpes contra a direita, em particular contra o ex-presidente Nicolas Sarkozy.

Hollande questionou as pessoas que "vão por aí" recorrendo a qualquer estratagema para "tentar se diferenciar em seu próprio campo" político.

Julgando que "a imaginação" da direita e do partido de extrema-direita Frente Nacional (FN) "dá guinadas inquietantes" quanto à luta antiterrorista, Hollande reafirmou os princípios da liberdade de culto e de expressão, a presunção de inocência, e descartou a ideia de deter sem julgamento as pessoas radicalizadas.

A França foi vítima em 2015 e 2016 de múltiplos atentados extremistas (com um saldo de 238 mortos), provocando tensões na sociedade quanto ao lugar dos muçulmanos.

O presidente afirmou que "nada no ideal do laicismo se opõe à prática do Islã na França, já que a mesma está em conformidade com a lei".


Islã e laicismo

 

"Não haverá uma legislação de circunstâncias, tão inaplicável quanto inconstitucional", acrescentou, fazendo referência, em particular, aos apelos de uma parte da oposição de direita pela promulgação de uma lei sobre o uso do burkini.

A decisão de vários municípios governados pela direita de proibir neste verão (no hemisfério norte) nas praias francesas este traje de banho integral islâmico provocou uma violenta polêmica na classe política.

"O Islã pode se adaptar ao laicismo como fizeram antes o catolicismo, as religiões reformadas ou o judaísmo?", se perguntou o chefe de Estado. "Minha resposta é sim, claramente sim". Acrescentando: "também faço a pergunta à República: ela está realmente preparada para receber em seu seio uma religião cuja amplitude não havia previsto há mais de um século? A resposta também é sim", sentenciou.

Hollande, que desde sua chegada à presidência, em 2012, teve que lidar com a maior onda terrorista na França em mais de meio século, evocou "tentativas de atentados frustrados nos últimos dias".

Dois casais, um dos quais pertencente ao movimento islamita, estavam nesta quinta-feira em prisão preventiva depois que foram encontrados botijões de gás (embora sem dispositivos de detonação) em um carro estacionado no domingo passado em pleno coração de Paris. Os investigadores antiterroristas também buscam duas jovens detectadas por sua radicalização.

Todas as pesquisas preveem para Hollande uma amarga derrota se ele se apresentar a um novo mandato. Apesar das pressões de alguns de seus partidários para que esclareça rapidamente suas intenções, o presidente mantém seu calendário fixo até dezembro para anunciar uma eventual nova candidatura.

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