Europa

Novo presidente pró-russo sacode panorama político na Bulgária

Situação vivida na Bulgária é mais um reflexo de um ''contexto internacional que alenta a vontade de mudança''

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Publicado em 14/11/2016 às 15:58
Foto: DIMITAR DILKOFF / AFP
Situação vivida na Bulgária é mais um reflexo de um ''contexto internacional que alenta a vontade de mudança'' - FOTO: Foto: DIMITAR DILKOFF / AFP
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A Bulgária entrou, nesta segunda-feira, em um novo panorama político após a demissão de seu primeiro-ministro pró-europeu Boiko Borisov e a eleição de um presidente sem experiência e considerado próximo à Rússia.

Rumen Radev, candidato apoiado pelos socialistas e favorável à Rússia, ganhou as eleições presidenciais de domingo com 59,35% dos votos, segundo os resultados oficiais comunicados na segunda-feira pela comissão eleitoral.

A candidata do primeiro-ministro Borisov e de seu partido conservador Gerb, Tsetska Tsatcheva, obteve apenas 36,17% dos votos.

Após a derrota de sua candidata, o conservador Borisov, admirador declarado da chanceler Angela Merkel, anunciou oficialmente nesta segunda-feira ao Parlamento sua demissão como primeiro-ministro, dois anos antes do fim de seu mandato.

O novo chefe de Estado, Rumen Radev, ex-piloto e comandante do Exército do Ar, assumirá o mandato como presidente em 22 de janeiro.

No domingo, Radev se declarou favorável a "um bom diálogo com os presidentes dos Estados Unidos e da Rússia". Também se comprometeu a "trabalhar para que sejam retiradas as sanções" europeias contra a Rússia.

O Kremlin respondeu que deseja uma maior "cooperação" com a Bulgária, país "muito importante" devido seus vínculos históricos e culturais com a Rússia.

A nova situação política na Bulgária reflete um "contexto internacional que alenta a vontade de mudança", segundo Parvan Simeonov, diretor do instituto Gallup, citando "a queda das autoridades tradicionais na Europa ocidental" e a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, que quer uma aproximação de Washington com Moscou.

A isso se acrescenta uma União Europeia com muitas dúvidas sobre seu futuro, que enfrenta o surgimento de correntes populistas e fragilizada pela conturbada situação após o Brexit.

No sistema parlamentar búlgaro, é o governo que define a política geral tanto no plano interno como internacional, enquanto o presidente é o chefe dos exércitos e representa o país no exterior.

Esta divisão de competências faz com que o cientista político Antoniy Todorov duvide de uma mudança brusca nas posições pró-russas por parte da Bulgária, membro da UE e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

"Não haverá mudança em matéria de política estrangeira" já que "o presidente não tem tais poderes", explica.

Cenário pró-Rússia?

Para Evgueni Daynov, analista e diretor do Centro de Práticas Sociais, "as declarações do general Radev foram tiradas de contexto" e o novo presidente tem uma posição "europeia e pró-atlântica", declarou.

"O pertencimento da Bulgária à União Europeia e à Otan não tem alternativa, o que não significa que devemos nos declarar inimigos da Rússia", afirmou o novo presidente durante sua campanha.

Na Moldávia, ex-república soviética, o candidato pró-russo Igor Dodon também ganhou no domingo a eleição presidencial no país.

A vitória de Radev é a "realização de um cenário pró-Rússia" e uma boa notícia para Moscou, que busca aliados no seio da UE e da Otan, opinou Antoniy Galabov, cientista político na Nova Universidade Búlgara.

Asen Dragov, eleitor de 39 anos, pequeno empresário em Sofia, assegurava no domingo buscar "um novo rosto [para a Presidência] que defenda os interesses nacionais no lugar de dizer sempre 'sim' à Europa e aos Estados Unidos".

Agora, após uma rodada de consultas, o presidente búlgaro em fim de mandato, Rossen Plevneliev, nomeará um governo interino. Mas corresponderá ao novo presidente dissolver o Parlamento e fixar a data das eleições antecipadas, o mais rápido possível em março de 2017.

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