O exército sírio voltou a bombardear nesta segunda-feira (2) uma região rebelde perto de Damasco para tentar recuperar o controle de fontes de água vitais para a capital, enquanto os insurgentes denunciam uma violação da trégua global.
Vigente há quatro dias, o enésimo cessar-fogo neste conflito, que já dura seis anos, deveria abrir caminho para negociações de paz previstas para o final de janeiro em Astana (Cazaquistão), patrocinadas por Moscou e Teerã, que apoiam o regime, e Ancara, que apoia os rebeldes.
Mas a trégua é ameaçada pelos bombardeios a Wadi Barada, região controlada pelos rebeldes a 15 km de Damasco, onde estão localizadas as principais fontes de água potável que abastecem os quatro milhões de habitantes da cidade e região circundante.
Há duas semanas, antes da trégua apadrinhada pela Rússia e Turquia, a Força Aérea bombardeou esta área quase que diariamente, e as tropas do governo avançavam nesta segunda-feira para os arredores de Ain al-Fige, uma importante fonte de água.
"Bombardeando Wadi Barada por ar e com artilharia, as tropas do regime, apoiadas pelo Hezbollah xiita libanês, avançaram na área e estão em torno de Ain al-Fige", informou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), que afirma que os combates continuam.
Em 25 de dezembro, o governo acusou os rebeldes de "contaminar com diesel" a rede de abastecimento de água, enquanto estes últimos apontam sua negligência. Há uma semana falta água em Damasco e seus habitantes fazem fila ante caminhões-pipa.
Neste contexto, os rebeldes de Wadi Barada alertaram para o perigo que paira sobre a trégua.
"Pedimos aos patrocinadores da trégua que assumam a responsabilidade e pressionem o regime e suas milícias aliadas para parar as violações flagrantes do acordo", caso contrário, "vamos chamar todas as facções rebeldes que operam na Síria a desobedecer o acordo e inflamar as frentes", disseram em um comunicado.
Membros do grupo extremista islâmico Fateh al-Sham, ex-facção da Al-Qaeda na Síria, lutam ao lado dos rebeldes na região. Este grupo, assim como o Estado Islâmico (EI), está excluído da trégua, por isso este cessar-fogo é muito difícil de ser aplicado.
Enfraquecidos, estes grupos rebeldes não podem se afastar da formação extremista, melhor equipados e fundamental na luta contra o regime.
Por sua vez, o EI atua sozinho nas regiões que controla no norte da Síria, onde continuar a sofrer os bombardeios das aviações russa, americana, turca e síria.
Para dar mais peso à sua iniciativa, a Rússia obteve no sábado o apoio do Conselho de Segurança da ONU, ainda que moderado.
Apoiando "os esforços da Rússia e da Turquia para acabar com a violência na Síria e lançar um processo político, o Conselho de Segurança" se limitou a tomar nota dos termos do acordo, recordando a necessidade de implementar "todas as resoluções pertinentes da ONU".
Entre elas, a 2254 revê, por iniciativa de Washington, estabelecer um roteiro abrangente para acabar com a crise.
Em plena transição política e à espera da posse de Donald Trump, os Estados Unidos, que apoiam a oposição a Damasco, não participou das negociações da última trégua.
As negociações de Astana deverão preceder as discussões em Genebra, em fevereiro, enquanto todos os diálogos intersírios anteriores não permitiram vislumbrar uma solução para o conflito, que já causou mais de 310.000 mortes e milhões de refugiados.