Diplomacia

Crise diplomática entre Turquia e Holanda

Após a Holanda permitir uma visita do primeiro-ministro turco das Relações Exteriores, uma crise diplomática se instalou na Europa

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Publicado em 11/03/2017 às 14:50
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Após a Holanda permitir uma visita do primeiro-ministro turco das Relações Exteriores, uma crise diplomática se instalou na Europa - FOTO: AFP
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A proibição da Holanda de permitir uma visita do ministro turco das Relações Exteriores para fazer campanha em favor do presidente turco provocou uma crise diplomática neste sábado (11), com Recep Tayyip Erdogan acusando Haia de manter "vestígios do nazismo".

O ministro Mevlut Cavusoglu, que realizaria neste sábado em Roterdã um comício em favor do referendo que reforça os poderes do presidente Erdogan, recebeu a ordem de que seu avião não seria autorizado a aterrissar na Holanda, após "as autoridades turcas ameaçarem publicamente com sanções", declarou o governo holandês em um comunicado. "Isso impossibilita a busca de uma solução razoável e, por esta razão, a Holanda informou que retira o direito de aterrissagem" do avião do ministro turco, explica o comunicado.

A decisão de Haia provocou a ira do presidente turco, que denunciou "vestígios do nazismo", em declarações chamadas de "malucas" e "deslocadas" pelo primeiro-ministro holandês, Mark Rutte. "Vocês podem proibir nosso ministro das Relações Exteriores de voar, mas a partir de agora, veremos como os voos de vocês vão aterrissar na Turquia", ameaçou ainda Erdogan durante um comício em Istambul.

Pouco depois, a Turquia convocou o representante dos assuntos holandeses em Ancara para protestar contra a decisão de Haia. "Convocamos o responsável pelos assuntos holandeses hoje", declarou uma autoridade da chancelaria turca que pediu anonimato.

O chanceler turco já havia desafiado as autoridades holandesas ao manter a visita e alertando para possíveis "pesadas sanções" se as autoridades holandesas proibissem a sua visita. Mas após a polêmica, Cavusoglu considerou "inaceitável" a proibição, enquanto cerca de cinquenta manifestantes se reuniram em frente ao consulado da Holanda em Istambul para incitar o governo turco a se "manter firme".

Solução aceitável

O prefeito de Roterdã, Ahmed Aboutaleb, havia anunciado na quarta-feira (8) que este comício seria anulado, indicando que o auditório onde aconteceria o evento não estava mais disponível. E na quinta-feira (9), o ministro holandês das Relações Exteriores, Bert Koenders, declarou a oposição do governo a vinda de seu colega turco.

Em seguida, a Holanda iniciou negociações com as autoridades turcas para encontrar "uma solução aceitável" ao impasse. "Havia um diálogo em andamento para decidir se as autoridades turcas poderiam viajar e realizar a reunião em caráter privado, em pequena escala, no consulado ou na embaixada", indicou o governo no comunicado.

Mas para as autoridades holandesas, "após um apelo público aos turco-holandeses a participar maciçamente em um evento público com o ministro Cavusoglu em Roterdã neste sábado, 11 de março, a ordem e a segurança pública estariam comprometidos". "A Holanda lamenta o desfecho dos acontecimentos e apoia um diálogo com a Turquia", afirmou o governo holandês.

Cerca de 400.000 pessoas de origem turca vivem na Holanda, de acordo com o Bureau de Estatísticas da Holanda (CBS). "O governo holandês não tem objeções contra comícios em nosso país para informá-los" sobre o referendo turco, ressaltou no comunicado. "Mas essas reuniões não podem levar a tensões em nossa sociedade, e todos aqueles que desejam realizar um comício tem que respeitar as instruções das autoridades competentes para que a paz e a segurança possam ser garantidas". "Deve-se notar que o governo turco não quer respeitar estas regras", disse ele.

Mal-estar na Europa

A campanha lançada na Europa visando a diáspora turca em vista do referendo turco de 16 de março tem causado grande tensão entre os países e a Turquia, começando pela Alemanha, que cancelou vários comícios pró-Erdogan. Neste contexto, o presidente turco já havia acusado, em 5 de março, a Alemanha de "práticas nazistas", observações que irritaram Berlim - e Bruxelas. Mas a chanceler Angela Merkel pediu "cabeça fria". Vários países manifestaram desconforto com a campanha. Assim como a Alemanha, Suíça e Áustria proibiram na sexta-feira a realização em seu território de encontros eleitorais na presença de membros do partido governista turco AKP, citando riscos de distúrbios à ordem pública.


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