Donald Trump prometeu durante toda a campanha mão de obra e produção legitimamente americanos, mas os produtos de sua filha Ivanka são uma exceção e desde sua chegada à presidência toneladas de sapatos, bolsas e roupas saíram da China rumo aos Estados Unidos, segundo registros da alfândega examinados pela AFP.
Enquanto o novo presidente dos Estados Unidos acusou em campanha a China de "roubar" empregos americanos produzindo mais barato, os produtos de sua filha Ivanka são fabricados neste país.
Desde a eleição de Trump, ao menos 1.600 carteiras de couro, duas toneladas de blusas 100% poliéster e 23 toneladas de sapatos de Ivanka "made in China" cruzaram o Pacífico.
Mercadorias divididas em mais de 80 carregamentos: praticamente um por cada dia de trabalho passou pela alfândega americana das eleições de 8 de novembro até o fim de fevereiro. E isso, apesar de Donald Trump ter atacado fortemente as multinacionais que transferem sua produção para fora dos Estados Unidos.
Os pedidos seguem chegando, segundo as empresas chinesas que fabricam estes produtos.
Os negócios da filha do presidente são alvo de polêmica desde que o distribuidor Nordstrom decidiu, no início de fevereiro, retirar a linha Ivanka Trump de suas prateleiras. A Nordstrom negou que a decisão obedecesse a motivos políticos e limitou-se a explicar que a marca já não gerava lucros, especialmente desde o fim do ano passado.
A decisão da Nordstrom foi fortemente criticada pelo presidente americano, que inclusive encorajou seus simpatizantes a comprar os produtos de sua filha, e por seu círculo.
Ivanka Trump não ordena diretamente que seus produtos sejam fabricados na China: esta decisão é proveniente das empresas de confecção como G-III, bolsas Mondani ou calçados Mark Fisher, a quem a filha do presidente confiou sua marca.
A G-III vendeu em 2015 29,4 milhões de dólares (27,7 milhões de euros) em produtos com a marca Ivanka, segundo o relatório anual do grupo, que não especifica os países nos quais estas mercadorias foram fabricadas.
No entanto, a de Ivanka não é a única linha da marca Trump de fabricação chinesa. Nos últimos 10 anos, mais de 1.200 carregamentos de produtos com o sobrenome Trump chegaram aos Estados Unidos a partir da China continental ou de Hong Kong, segundo dados das alfândegas americanas consultadas pelo escritório anti-Trump "Our Principles PAC".
Atacado durante sua campanha, Donald Trump defendeu que sua família cedeu seu sobrenome a empresas que produzem na China por razões econômicas bem estudadas, ao mesmo tempo em que criticou grupos como Ford ou Nabispo por suas transferências.
Em seu discurso ante o Congresso, Donald Trump se gabou de ter convencido a Ford e outras multinacionais a repatriarem uma parte de sua produção. Mas não disse uma palavra sobre os negócios de sua filha desde que foi eleito.
Tanto Donald quanto Ivanka Trump afirmaram que já não se ocupavam de seus interesses comerciais, confiados a seus parentes enquanto o multimilionário seguir na Casa Branca. Mas também não venderam suas empresas, o que os autorizaria a retomar as rédeas de seus negócios após o fim do mandato de Trump.
No fim de fevereiro, Ivanka participou na Casa Branca de uma reunião na presença de uma dezena de representantes da indústria americana na qual seu pai prometeu "fazer tudo para repatriar empregos".
Um porta-voz da marca Ivanka afirmou à AFP que a empresa "compartilhava o interesse dos chefes do setor para aumentar a presença da indústria nos Estados Unidos" e que "estava ansiosa para participar desta conversa".
Mas, aparentemente, não imediatamente: ao menos uma empresa do sul da China já recebeu um pedido de 10.000 sapatos para a próxima temporada, segundo o jornal chinês Global Times.