Tailândia

Fim da prostituição na capital tailandesa do vício é uma ilusão

Em Pattaya, profissionais do sexo não têm vontade de mudar de atividade

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Publicado em 19/04/2017 às 17:57
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Em Pattaya, profissionais do sexo não têm vontade de mudar de atividade - FOTO: AFP Arquivos
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Por mais que a junta do governo prometa voltar a colocar a cidade de Pattaya no bom caminho, May está convencida que continuará vivendo durante muito tempo da prostituição na capital tailandesa do vício.

Primeiro porque, como milhares de profissionais do sexo, não tem nenhuma vontade de mudar de atividade. E além disso porque não há nada que sugira que o número de clientes estrangeiros irá diminuir.

Pattaya, a duas horas de carro do sul de Bangcoc, perdeu sua "virgindade" há meio século, quando os militares americanos começaram a chegar à cidade para tentar esquecer os horrores da guerra do Vietnã.

Hoje suas prostitutas podem esperar uma renda de entre 70.000 e 150.000 bahts (1.900 a 4.100 euros) mensais, dez vezes o salário médio na Tailândia.

"Ganho bem a vida e isso beneficia também minha família", explica May em uma entrevista à AFP enquanto espera um cliente na "Walking Street", rua repleta de bares e boates.

Vários crimes recentes, incluindo assassinatos de estrangeiros, obrigaram as autoridades a agir devido à repercussão que os casos tiveram na imprensa internacional.

Segundo May, que é transgênero, o ambiente mudou na rua onde trabalha na medida em que se multiplicaram as batidas policiais ligadas à vontade da junta de moralizar a cidade.

O tenente-coronel Sulasak Kalokwilas faz parte dos oficiais que receberam uma missão impossível: erradicar a prostituição.

Tabu, Ponto G e Fahrenheit 

"Estamos suprimindo os espetáculos obscenos e sujos. Vamos fazer eles desaparecerem", explica, enquanto a poucos metros dali mulheres com pouca roupa tentam atrair clientes em bares com nomes sugestivos como Tabu, Ponto G e Fahrenheit.

Esse último diz ter "as garotas mais fogosas de Pattaya".

Surpreende a opinião do chefe de polícia de Pattaya, o coronel Apichai Kroppeth, que afirma que essas mulheres "não estão envolvidas com a prostituição".

"Trabalham como garçonetes, se sentam e conversam com os clientes, algumas dançam", assegura.

Para os habitantes da cidade, a campanha das autoridades segue um esquema conhecido. As batidas em geral acontecem depois de manchetes negativas na imprensa internacional.

Mas essa repressão sempre é limitada, porque é difícil atacar um setor tão lucrativo.

"Espera realmente que o caçador ilegal proteja suas presas?", diz um ocidental que mora em Pattaya quando perguntado se as últimas operações policiais vão funcionar.

As prostitutas não são as únicas que lucram com a atividade, que também beneficia os proprietários de bares, casas de massagem e táxis, além da máfia e, segundo dizem alguns, até mesmo os policiais encarregados de combatê-la.

A prostituição "gera somas de dinheiro enormes e não poderia existir sem a conivência da polícia", afirma o jornalista britânico Andrew Drummond, que cobriu as notícias na Tailândia durante 20 anos.

Acusações desmentidas pelo coronel Apichai, que afirma que seus homens não recebem propinas.

12 milhões de turistas

A prostituição é ilegal na Tailândia, mas os proprietários de bares burlam a lei ao não empregar oficialmente as garotas, que se ocupam dos clientes e falam com eles.

Cobram, no entanto, uma comissão de 500 bahts (13 euros) cada vez que um cliente quer sair do bar com uma dessas "funcionárias". O que acontece em "privado", oficialmente, só diz respeito a eles.

As autoridades anunciaram o fim próximo desse comércio, mas sem dizer como viveriam os profissionais do sexo e suas famílias.

Um relatório da Unaids avaliou, em 2014, em 140.000 o número de prostitutas na Tailândia. Só em Pattaya trabalhariam milhares.

Para Suladda Sarutilavan, diretora do escritório de turismo local, Pattaya começou sua transformação buscando atrair um público familiar que quer praticar, por exemplo, atividades náuticas ou golfe.

Em 2016, 12 milhões de turistas - 70% deles estrangeiros - visitaram a cidade, que oferece mais de 100.000 quartos de hotel.

Essa transformação, reconhece Sarutilavan, é complicada pela reputação ácida de Pattaya.

Os ocidentais que vivem ali asseguram, apesar disso, que a cidade é segura.

"Cada vez que saía em Coventry (cidade inglesa) via uma ou duas brigas", lembra o britânico Bryan Flowers, que mora há quase uma década em Pattaya, onde tem vários bares.

"Aqui me sinto completamente seguro", diz.

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