Meio Ambiente

Luta contra as mudanças climáticas é travada a nível diplomático

EUA ameaçam a luta contra o aquecimento global e defensores do clima apostam em diplomacia

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Publicado em 19/05/2017 às 13:35
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Com o fim das negociações de Bonn, os defensores do clima apostam na diplomacia e, em primeiro lugar, no G7 para resolver a questão dos Estados Unidos, que ameaça a luta contra o aquecimento global.

Durante dez dias, os negociadores de 196 países se reuniram na sede da Convenção da ONU para as Mudanças Climáticas para discutir como implementar o Acordo de Paris. Uma tarefa difícil, considerando que o segundo país em emissões de gases de efeito estufa, os Estados Unidos, ameaça abandonar o processo.

O presidente americano, Donald Trump, prometeu durante sua campanha que iria retirar seu país do pacto global adotado no final de 2015 para desacelerar um aquecimento global sem precedentes. Desde então hesitante, anunciou finalmente que não iria se pronunciar antes da sua primeira reunião do G7, a ser realizada na Sicília, em 26 e 27 de maio.

Mais do que em Bonn, "é nas cúpulas que o impulso político se traduz", afirma David Levaï, do Instituto para o Desenvolvimento Sustentável (IDDRI). "O G7 será o indicativo das novas parcerias".

"Se Donald Trump não vê de forma clara as implicações de suas decisões, então cabe aos outros líderes do G7 se certificar de que ele compreenderá", argumenta Mohamed Adow, responsável pelo clima da ONG Christian Aid.

Canadá, Alemanha e França são considerados pilares essenciais. No entanto, não há garantias que esta questão será incluída na declaração final.

E então virá o G20, em julho, em Hamburgo.

"Trabalhamos duro com muitos amigos em todo o mundo para convencer os Estados Unidos de permanecerem no Acordo de Paris", afirmou Jochen Flasbarth, secretário de Estado alemão para o Meio Ambiente.

Em Bonn foi elaborado um texto sobre o clima para o G20. Os americanos acrescentaram uma nota de suas "reservas", indicou Flasbarth à AFP. "Os Estados Unidos estão revendo sua política climática", segundo aponta a nota.

"Todo mundo está esperando, é a grande espada de Dâmocles", ressalta David Levaï. "Mas este período de hesitação americana permitiu que a comunidade internacional, as empresas e os países refinassem os argumentos políticos, diplomáticos e econômicos sobre a importância de seguir" no acordo.

Papa entra no jogo

"Não podemos nos afastar do Acordo de Paris, do quadro jurídico. Mas existem flexibilidades", afirma Flasbarth. Quais? "é preciso analisar detalhadamente, é muito cedo para dizer".

"Queremos que os americanos fiquem, mas não a qualquer preço", insiste Yamide Dagnet, do laboratório americano WRI.

Em particular, a revisão em baixa dos compromissos de redução das emissões firmados por Washington em Paris em 2015, seria desaprovada por alguns.

"Isso seria politicamente e moralmente inaceitável", considera o negociador do Mali, Seyni Nafo.

Enquanto isso, Donald Trump já anunciou cortes no financiamento da ONU e a revisão dos programas ambientais do governo de Barack Obama.

No momento, é difícil avaliar o impacto nas emissões globais. Perguntado em Bonn durante as reuniões formais, o delegado americano não forneceu quaisquer detalhes sobre as emissões futuras de seu país e disse apenas que a questão "será revista".

Em qualquer caso, em termos financeiros, Washington só investirá dois dos três bilhões de dólares que havia prometido ao Fundo Verde da ONU, o que afetará o orçamento do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

Finalmente, teme-se um efeito dominó.

"A decisão americana pode ter um efeito corrosivo sobre a disposição dos outros países", aponta o especialista americano Elliot Diringer, do laboratório de ideias C2ES. A ação climática "continua a ser um desafio para muitos, e um passo atrás da maior economia do mundo daria asas aos defensores de certos interesses" como, por exemplo, indústrias de combustíveis fósseis.

Neste contexto, a China, maior poluente e em plena ofensiva pró-clima, poderia ter um papel mobilizador, considera Mohamed Adow.

De acordo com observadores, outros compromissos importantes poderiam servir para aumentar a pressão, como a cúpula UE-China em 2 de junho em Bruxelas ou o "Diálogo de Petersberg", uma reunião ministerial que a Alemanha organiza desde 2010 e que vai reunir 35 países na segunda-feira.

Além disso, Trump vai se reunir em 24 de maio com o papa Francisco, outro fervoroso da luta contra as mudanças climáticas.

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