AMEAÇAS

Trump e Coreia do Norte: uma retórica muito arriscada para analistas

Com sua última ofensiva verbal, Trump corre o risco de levar a Coreia do Norte a lançar o ataque que ele procura evitar, denunciam os críticos

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Publicado em 09/08/2017 às 10:09
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Com sua última ofensiva verbal, Trump corre o risco de levar a Coreia do Norte a lançar o ataque que ele procura evitar, denunciam os críticos - FOTO: Fotos: AFP
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Com sua última ofensiva verbal contra a Coreia do Norte, Donald Trump corre o risco de levar esse regime recluso e imprevisível a lançar esse mesmo ataque que ele procura evitar - denunciam os críticos do presidente americano.

Falando de seu clube de golfe em Nova Jersey, Trump prometeu "fogo e fúria" à Coreia do Norte, país que acaba de realizar dois bem-sucedidos testes de Mísseis Balísticos Intercontinentais (ICBM, na sigla em inglês).

As declarações do presidente dos EUA remontam ao próprio registro oratório de Pyongyang, conhecida pelas grandiloquentes intimidações contra seus inimigos. Entre eles, a Coreia do Sul, com frequência ameaçada de ser transformada em um "mar de chamas".

"A Coreia do Norte faria melhor se não proferisse mais ameaças aos Estados Unidos", afirmou o presidente americano, sob pena de ser exposta - segundo ele - "ao fogo e à fúria, como mundo nunca viu até hoje".

Trump deu essas declarações algumas horas antes do 72º aniversário do ataque nuclear americano a Nagasaki, no Japão. Para os analistas, Pyongyang vai estudá-las atentamente.

Os Estados Unidos deveriam "evitar a retórica inflamada que corre o risco de provocar esse mesmo ataque que tenta evitar", sugeriu Laura Rosenberger, que foi diretora para China e Coreia no Conselho de Segurança Nacional durante o governo Barack Obama.

"A maior preocupação é que eles tenham medo de que uma ação americana seja iminente e que ajam de uma maneira que considerem preventiva", acrescentou Laura, no Twitter.

"As declarações de Trump hoje representam o tipo de ameaça que poderia acelerar e/ou fazê-la tomar essa decisão", completou a especialista.

Em entrevista a uma rádio americana, o senador republicano John McCain também avaliou que Trump deveria ser mais cuidadoso com a Coreia do Norte: "tudo o que isso vai fazer é nos aproximar de uma confrontação grave".

O primeiro ICBM lançado por Pyongyang colocou o Alasca na mira, relatam os especialistas, acrescentando que o segundo mostra que boa parte do continente americano - incluindo Chicago e, talvez, Nova York - poderia ser ameaçada.

A ONU acaba de adotar uma sétima série de sanções que podem custar a Pyongyang um terço de sua receita em exportações. Além disso, Washington, Seul e Tóquio organizaram exercícios militares conjuntos para sinalizar sua força.

Pyongyang reagiu à pressão, afirmando que pretende lançar mísseis contra o território americano de Guam, no Pacífico.

Efeitos colaterais

Qualquer ataque americano contra o Norte pode deflagrar represálias imediatas e uma escalada rápida, com consequências devastadoras, sobretudo, para a Coreia do Sul, aliado dos Estados Unidos. Seul, onde vivem cerca de 10 milhões de habitantes, está no perímetro mais imediato das forças de artilharia convencionais de Pyongyang.

"Ao se baixar ao nível da retórica do estilo norte-coreano, sem boas opções na sequência, Trump corre o risco de colocar sua credibilidade em xeque em relação a seus aliados e a seus inimigos", adverte também no Twitter Rory Medcalf, da Universidade Nacional Australiana.

Se, há décadas, sul-coreanos se acostumaram a ouvir as declarações hostis de seus vizinhos, a escalada verbal de Trump e seus discursos de geometria variável trazem um novo e grande elemento de preocupação.

"Vocês acham que sairemos ilesos, se os Estados Unidos transformarem a Coreia do Norte em um mar de chamas? Vamos todos morrer", dizia um internauta no site sul-coreano Naver.

Os Estados Unidos são o fiador de segurança do Sul democrático e capitalista, onde há cerca de 28.500 soldados americanos estacionados. A guerra da Coreia (1950-53) terminou com um cessar-fogo, mas nunca se assinou um tratado de paz.

Em Seul, já se pergunta se os Estados Unidos estariam dispostos a continuar a proteger o país, se isso pudesse levar a represálias contra cidades americanas ao alcance dos ICBMs norte-coreanos.

Na web, muitos falavam em uma "briga de cachorro grande" para descrever seu país dividido entre correntes diplomáticas e os conflitos entre potências vizinhas.

"Se esses dois loucos realmente começarem uma guerra, a Coreia do Sul será a maior vítima", lamentava um internauta, referindo-se a Trump e ao presidente norte-coreano, Kim Jong-Un.

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