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Entrevista: Entenda as consequências do encontro entre os líderes das Coreias

O Jornal do Commercio conversou com um dos poucos brasileiros que tiveram acesso à Coreia do Norte, o jornalista pernambucano Marcelo Abreu

Maria Eduarda Bravo
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Maria Eduarda Bravo
Publicado em 27/04/2018 às 14:46
Foto: KOREA SUMMIT PRESS POOL / AFP
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O dia 27 de abril se tornou um dos mais importantes para a Coreia do Norte e Sul. O motivo é que foi realizada a primeira reunião de cúpula intercoreana em mais de 11 anos. O encontro histórico aconteceu na Zona Desmilitarizada entre os dois países em Panmujon. Durante o encontro, o dirigente norte-coreano Kim Jong Un e o presidente sul-coreano Moon Jae-In conversaram sobre ‘desnuclearização e paz permanente’ e firmaram a paz com abraço e aperto de mãos nesta sexta-feira (27). Foi a primeira vez em 65 anos que um líder norte-coreano visitou o Sul.

Foto: KOREA SUMMIT PRESS POOL / AFP
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O encontro ilustra a espetacular distensão na península desde que Kim surpreendeu o mundo ao anunciar, no último mês de janeiro, que seu país participaria nos Jogos Olímpicos de Inverno, organizados em fevereiro pelo Sul. E precede um encontro com o presidente americano, Donald Trump. A Coreia do Norte registrou um rápido avanço dos programas nuclear e balístico sob o comando de Kim, que herdou o poder após a morte de seu pai em 2011.

E para detalhar mais sobre o encontro histórico, o Jornal do Commercio conversou com um dos poucos brasileiros que tiveram acesso à Coreia do Norte, o jornalista Marcelo Abreu, autor do livro: ‘Viva o Grande Líder - Um repórter brasileiro na Coreia do Norte’. O jornalista esclareceu o encontro realizado pelos dois países e explicou sobre o futuro dos dois países.

Confira a entrevista:

JORNAL DO COMMERCIO – Sobre o encontro das Coreias que aconteceu na última sexta-feira, o que a diferencia das outras duas cúpulas que ocorreram nos anos de 2000 e 2007?

MARCELO ABREU – Nessa história que se arrasta há 73 anos, ocorreram várias diferenças neste encontro quando comparado aos outros. O fato do encontro ter acontecido na fronteira entre os dois países torna ele mais dramático, porque lembra todo um confronto da Guerra da Coreia (1950-1953). Então, eles estavam em um território neutro. Os outros dois haviam sido realizados na capital sul-coreana. Isso já torna o encontro de ontem (sexta) diferente.

JC – Então podemos concluir que o encontro entre representantes das duas nações foi significativo, ainda mais para um lado positivo?

ABREU – Pelo meu visto, o encontro foi positivo, sim, pelo menos para os próximos meses. Para dois Estados que mal se conhecem, um considera que outro temporariamente está fora do seu controle. Mas na verdade cada um reivindica a Coreia inteira. Neste contexto, a visita de ontem (sexta) foi muito significativa, porque, a partir do momento em que o Kim Jong-Un aceita as tropas da Coreia da Sul, é uma forma de reconhecimento.

JC – Em suma, levando em consideração o comunicado oficial divulgado em conjunto, a questão principal discutida no encontro foi a desnuclearização?

ABREU – Agora é a parte prática da coisa. É muito vago. Realmente, o principal ponto foi a desnuclearização em toda a península coreana, que envolve a Coreia do Sul também, que não tem armas nucleares, mas tem o apoio nuclear dos Estados Unidos. É aquela velha história, o demônio está nos detalhes. Se prestarmos atenção nos detalhes, aí a situação complica. Se por um lado falaram de paz, recomeço, entre outras coisas, por outro lado, quando a gente cai nos detalhes, o rumo da história vai para outro lado. Se lembrarmos dos outros encontros, sobretudo o de 2000, que foi o primeiro, foi extremamente significativo, mas com o tempo gerou confrontos que só depois foram amenizados.

JC – A Coreia do Sul é um país capitalista altamente desenvolvido, graças ao apoio dos EUA desde o fim da Guerra da Coreia. Por este motivo, o senhor acredita que a Coreia do Norte vai melhorar sua relação com os norte-americanos?

ABREU – A Coreia do Norte afirma que os sul-coreanos foram ocupados por imperialistas norte-americanos. Kim Jong-Un tem um encontro marcado com Trump para os próximos meses. Mas que o presidente norte-americano pode cancelar a qualquer momento. A forma de como Trump aceitou o encontro, eu acredito que seja uma coisa sem precedentes na história da diplomacia, ele topou na hora, e encontros assim não acontecem dessa forma, existem vários assessores e diplomatas por trás. Com relação aos Estados Unidos, o objetivo é manter o apoio da Coreia do Sul e evitar mais um país com armas nucleares. Até hoje, nenhum país que desenvolveu armas nucleares se livrou dos armamentos. O Irã foi diferente, é diferente porque ainda não tinha um programa de armas nucleares que foi supostamente abandonado, não tinha realizado testes nucleares como a Coreia do Norte. Seria outra coisa inédita se Kim Jong-Un decidisse entregar o arsenal dele.

JC – Em 2011, ano de lançamento do livro Viva o Grande Líder – Um Repórter Brasileiro na Coreia do Norte, o senhor afirmou que o mais provável seria que nos próximos anos existissem gestos conciliatórios. Esse momento está acontecendo agora?

ABREU – Toda essa expectativa de reconciliação não é de curto, médio ou longo prazo. A tendência é ter pela frente os dois tipos de momentos, os de tensão, que envolvem ameaças, e os momentos de reconciliação, que se tratam da esperança. Neste último encontro, há um detalhe muito importante que será o encontro das duas famílias que foram separadas pela guerra. Dentro de alguns meses, se organizam alguns encontros muitos restritos. Digamos que 100 famílias de cada lado, que hoje já são pessoas velhinhas, que atravessaram ainda crianças. Até o próprio presidente do Sul é filho de uma família que fugiu do Norte. Então, são coisas muitos boas, são produtos do momento de reconciliação. Mas, infelizmente, isso não resolve porque o problema é muito maior.

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