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Mulheres sul-coreanas protestam contra pornografia com câmeras ocultas

s manifestações começaram após a prisão, em maio, de uma mulher por filmar em segredo um modelo masculino posando em uma faculdade de arte em Seul e depois publicar as imagens na internet

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Publicado em 03/08/2018 às 15:43
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Claire Lee se unirá no sábado a dezenas de milhares de sul-coreanas em uma nova manifestação contra o "molka", um fenômeno que consiste em filmar mulheres em momentos íntimos com câmeras ocultas e publicar os vídeos na internet.

Desde maio, quando começaram as manifestações mensais em Seul, a mobilização foi crescendo e já é a maior da história da Coreia do Sul protagonizada por mulheres.

O objeto de sua indignação é uma modalidade de pornografia chamada de "molka", as gravações com câmera oculta de mulheres em escolas, escritórios, trens, banheiros públicos e vestiários que depois são vendidas ou publicadas na internet.

"Entrar em um banheiro público se tornou uma experiência estressante", explica Claire Lee. Ela afirma que cada vez que entra em um olha as paredes procurando "buracos suspeitos" onde se poderia esconder uma câmera.

"Você nunca sabe se há uma câmera oculta te filmando enquanto você faz xixi", explica à AFP esta estudante de 21 anos, que não hesita em enfiar um lápis nos buracos para quebrar a lente de uma possível câmera ou tapá-los com panos.

O fenômeno está em pleno auge e a polícia registrou 6.500 infrações no ano passado, em comparação com 1.100 em 2010.

Os condenados são, em sua maioria, homens, de professores de escola a médicos, passando por religiosos, funcionários públicos, policiais e até mesmo um juiz. Em alguns casos quem faz as gravações são os próprios cônjuges ou familiares das vítimas.

Mas agora as mulheres decidiram se mobilizar. A manifestação do mês passado em Seul reuniu 55.000 pessoas, segundo os organizadores, embora a polícia tenha contabilizado apenas 20.000.

"A indignação reprimida chegou finalmente ao seu ponto de ebulição", disse à AFP uma das organizadoras da manifestação, que se identificou como Ellin.

Um negócio 

Coreia do Sul, a quarta economia da Ásia, é conhecida por seus avanços tecnológicos que também favoreceram o fenômeno dos vídeos roubados, que são publicados em fóruns da internet, serviços de troca de arquivos ou são utilizados como anúncios em sites que promovem a prostituição.

Para evitar o fenômeno, a lei obriga os fabricantes de telefones vendidos no país a fazerem com que suas câmeras emitam um som a cada vez que se tira uma fotografia.

Mas em muitos casos os que gravam as imagens instalam um aplicativo nos telefones para que não façam barulho ou utilizam outros sistemas, como colocar minicâmeras em relógios, chaves de carro ou gravatas.

No mês passado um homem de 43 anos foi preso por ter filmado durante quatro anos as hóspedes de um hotel utilizando câmeras escondidas implantadas em televisões. Em sua casa, a polícia encontrou mais de 20.000 gravações. 

Em junho, um homem de 34 anos também foi preso por filmar com câmeras ocultas mulheres no banheiro e depois vender os vídeos, em alguns casos por 100.000 wons (90 dólares) cada.

No entanto, em muitos casos os culpados só recebem uma multa ou são condenados a penas de prisão com concessão a Sursis (suspensão condicional da pena), exceto quando se trata de uma mulher, denunciam as organizações de direitos civis.

As manifestações começaram após a prisão, em maio, de uma mulher por filmar em segredo um modelo masculino posando em uma faculdade de arte em Seul e depois publicar as imagens na internet.

"A polícia quase nunca responde quando um incontável número de vítimas mulheres pedem a prisão imediata do delinquente", diz à AFP Seo Seung-hui, diretora da ONG Korea Cyber Sexual Violence Response Centre.

"As mulheres viram como a polícia respondia rapidamente a este caso muito pouco frequente em que a vítima era um homem. Este trato injusto alimentou a atual onda de indignação", acrescentou.

Várias organizações pediram penas maiores para os que filmam, distribuem e assistem a este tipo de imagens, assim como restrições à venda de câmeras de espionagem.

Mas o combate não será fácil, como mostra o fato de que muitas mulheres se manifestam com o rosto coberto e não querem ser fotografadas para evitar agressões ou assédio nas redes sociais.

"Temos o poder. Juntas podemos fazer com que as coisas mudem", disse Ellin, a organizadora dos protestos.

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