CRISE MIGRATÓRIA

Grécia quer transferir 10 mil migrantes para Turquia até o fim de 2020

Decisão foi anunciada nesta segunda-feira (30) após conselho de emergência, convocado no dia seguinte aos distúrbios e um incêndio ocorrido em um acampamento em Lesbos

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Publicado em 30/09/2019 às 19:33
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Decisão foi anunciada nesta segunda-feira (30) após conselho de emergência, convocado no dia seguinte aos distúrbios e um incêndio ocorrido em um acampamento em Lesbos - FOTO: Foto: FABIEN PERRIER / AFP
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O governo grego anunciou nesta segunda-feira (30) que pretende enviar cerca de 10 mil migrantes para a Turquia até o final de 2020, após um conselho de ministros de emergência, convocado no dia seguinte aos distúrbios e um incêndio ocorrido em um acampamento na ilha de Lesbos

Dos 1.806 migrantes retornados em quatro anos e meio sob o governo anterior, liderado por Alexis Tsipras, o executivo do primeiro-ministro Kyrakos Mitsotakis quer passar para 10.000 retornos até o final de 2020, segundo comunicado divulgado após o conselho de ministros. 

As autoridades gregas confirmaram nesta segunda a morte de uma refugiada no incêndio no acampamento de migrantes de Moria, que, segundo os migrantes, começou num pequeno comércio ambulante. 

Mas, de acordo com a imprensa grega, um cobertor queimado encontrado ao lado da mulher morta conteria resíduos de pele que poderiam pertencer ao bebê da falecida, um recém-nascido.

Dezessete migrantes feridos - nove homens, seis mulheres e duas crianças, incluindo um bebê - foram transportados para o Hospital de Mytilene, de acordo com o ministério da Saúde.

"Tal tragédia podia acontecer a qualquer momento no acampamento de Moria", lamentou Kostas Moutsouris, prefeito do norte do Mar Egeu (que inclui Lesbos).

"Trata-se de uma estrutura que acolhe mais de 12.000 pessoas de diferentes culturas", acrescentou no site Newsbomb. 

"A situação é muito trágica", acrescentou à AFP Boris Cheshirkov, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) na Grécia, considerando "extremamente urgente acelerar as transferências para o continente".

Desde a multiplicação de chegadas nas últimas semanas nas ilhas do Mar Egeu a partir da Turquia, Moria abriga 13.000 migrantes, para uma capacidade de 3.000.

Refugiados revoltados

Neste acampamento à beira de asfixia pela superlotação, os exilados se revoltaram contra as autoridades e provocaram tumultos durante a madrugada, subindo nos contêineres e nas paredes do centro de abrigo.

A polícia disparou gás lacrimogêneo contra a multidão, irritada com a demora dos bombeiros em extinguir o incêndio, disseram eles a um correspondente da AFP. 

Esta manhã, a situação parecia mais calma, mas com uma presença policial reforçada, segundo Astrid Castelein, porta-voz do ACNUR em Lesbos.

"Muitos policiais chegaram hoje. Checam os documentos das pessoas, olham dentro dos contêineres... tudo isso nos estressa ainda mais", confirmou Farid, um jovem afegão por telefone à AFP.

"Muitos refugiados estão tristes e estressados. Têm medo de um novo acidente", disse ele.

Para o ACNUR, "o incêndio ocorreu em um contexto de aumento de chegadas" de migrantes da vizinha Turquia.

Em três meses, quase 10 mil pessoas chegaram à ilha de Lesbos, segundo Lefteris Oikonomou, vice-ministro da Defesa Civil.

Pior período desde 2016

"Estamos em um contexto diferente da crise migratória de 2015, onde as fronteiras estavam abertas. Mas desde o acordo UE-Turquia (de março de 2016), atravessamos o pior período", disse durante uma coletiva de imprensa em Mitilene.

As autoridades prometeram uma nova transferência de 250 pessoas nesta segunda-feira. "Estamos tentando transferir gradualmente os refugiados para esvaziar o acampamento de Moria". 

Segundo o ACNUR, de 2 a 15 de setembro, 2.510 refugiados foram transferidos das ilhas do mar Egeu para o continente grego.

O prefeito de Lesbos Stratos Kytelis também pediu "o descongestionamento imediato de nossas ilhas e o fortalecimento do controle de fronteiras".

No auge da crise migratória, a UE e a Turquia assinaram um acordo em 2016 que levou a uma redução significativa no fluxo de migrantes e refugiados pelas ilhas gregas, perto da Turquia.

Mas, no início de setembro, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, cujo país abriga mais de quatro milhões de refugiados, ameaçou "abrir as portas" aos migrantes, se não conseguir mais ajuda internacional.

Na semana passada em Nova York, os líderes grego e turco "concordaram em fazer todos os esforços para reduzir o fluxo de migrantes", de acordo com uma autoridade grega.  

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