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Xingamentos e aplausos no último adeus à Dama de Ferro

O funeral da ex-primeira-ministra britânica ilustrou as divisões que persistem na sociedade britânica sobre o legado da Dama de Ferro, que deixou o cargo há 23 anos

Do JC Online
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Publicado em 17/04/2013 às 17:26
Foto: JUSTIN TALLIS / AFP
O funeral da ex-primeira-ministra britânica ilustrou as divisões que persistem na sociedade britânica sobre o legado da Dama de Ferro, que deixou o cargo há 23 anos - FOTO: Foto: JUSTIN TALLIS / AFP
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"Maggie, lixo", gritavam alguns manifestantes durante a passagem do cortejo fúnebre de Margaret Thatcher, enquanto na rua em frente, veteranos das Malvinas com suas boinas vermelhas e medalhas, aplaudiam espontaneamente a procissão puxada por cavalos pretos.

O funeral da ex-primeira-ministra britânica ilustrou as divisões que persistem na sociedade britânica sobre o legado da Dama de Ferro, que deixou o cargo há 23 anos.

"Queime no inferno", dizia uma mulher sob aplausos.  "Maggie, Maggie, Maggie, morta, morta, morta"; "Se Maggie não estivesse morta, eu a enforcaria", gritavam outros.

"Que desperdício de dinheiro!", reclamava um grupo de uma centena de pessoas próximo aos soldados dos três forças armadas que carregavam o caixão.

"Estamos gastando 10 milhões de libras (15 milhões de dólares) neste funeral", se indignou Casper Winslon. "É vergonhoso e inaceitável em tempos de austeridade", considerou esta estudante de Antropologia, de 22 anos, exibindo uma faixa com os dizeres "Descanse com a gente na miséria."

"Os conservadores tentam transformá-la em um ídolo, como Winston Churchill (primeiro-ministro durante a Segunda Guerra Mundial), quando na verdade ela criou muitas divisões no país", acrescentou.

"Thatcher conseguiu acabar com toda a indústria" na Escócia, declarou Katie McDonald, médica de 30 anos e vestida de preto para a ocasião. "Como contribuinte, estou indignada por ter que pagar por isso".

Em um cartaz, uma jovem mãe com sua filha no carrinho de criança expressa um desejo: "Eu gostaria que suas ideias estivessem mortas".

"Nos anos 80, eu literalmente congelei com a minha família", lembra Andrew Holder, engenheiro de 61 anos. "Nós tínhamos uma casa modesta e uma hipoteca a pagar. Entretanto, por causa de suas taxas de juros, que chegaram a aumentar em 15%, perdemos a casa". "É ultrajante pagar" por seu funeral quando "há milionários no governo".

Apesar de os opositores de Thatcher terem aproveitado o funeral para que suas vozes fossem ouvidas, a maioria das milhares de pessoas que se reuniram ao longo do percurso veio saudar uma "grande líder" e uma "mulher corajosa".

"Podemos bater palmas como no funeral de Diana?", perguntou Anne Elliott, uma professora aposentada, antes de juntar-se a ovação respeitosa que saudou a passagem do caixão.

"Os aplausos em funerais são incomuns, mas ela era uma mulher extraordinária", disse, por sua vez, o ex-empresario de 74 anos Michael Almond.

Anthea Wallendahl, maquiagem no rosto e um colar de pérolas, trouxe seu filho Casper, de 10 anos, para assistir a este "momento histórico".

"Eu cresci na década de 70, quando a eletricidade era disponível apenas três dias por semana" por causa das greves. "Não encontrávamos nada nos supermercados. A economia estava estagnada. Margaret Thatcher chegou ao poder, disposta a tomar decisões impopulares. Foi controversa, mas restaurou a estabilidade. Mostrou que as mulheres podiam ter acesso aos mais altos cargos", recitou de uma só vez.

E Colin Gault, que conseguiu um dia de folga no trabalho, acrescentou: "Ela nos devolveu o orgulho" com a vitória nas Malvinas, em 1982.

Um pequeno grupo de amigos de cinquenta anos acompanhava a missa pelo rádio. Um coral com 2.300 convidados se reuniu na Catedral de St. Paul para cantar as músicas impressas na edição especial do The Times.

Um homem aproveitava a oportunidade para vender sob seu casaco, por cinco libras, o DVD do filme "A Dama de Ferro".

No final da cerimônia, um veterano das Malvinas disse que ia "beber em honra a velha senhora".

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