Olimpíada melhora desempenho de estudantes de matemática

Estudo mostra que alunos frequentam aulas preparatórias para a Obmep tiram, em média, 16 pontos a mais na prova de matemática do Enem
Da Agência Brasil
Publicado em 30/08/2014 às 15:31


Estudo encomendado pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), obtido com exclusividade pela Agência Brasil, mostra que alunos frequentam aulas preparatórias para a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) tiram, em média, 16 pontos a mais na prova de matemática do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

“O impacto do preparo no desempenho não é apenas do medalhista, mas de toda a escola”, explica o diretor adjunto do Impa e coordenador-geral da Obmep, Claudio Landim. “A prova da olimpíada é concebida de forma que se possa responder às perguntas sem conhecimento formal. É exigido raciocínio lógico e criatividade”, detalha, apontando esses requisitos como importantes para um bom desempenho também em outras avaliações.

No ensino fundamental, o impacto do preparo para a Obmep é ainda maior. Segundo o estudo, os alunos obtiveram, em média, 15,34 pontos a mais na Prova Brasil de matemática do 9° ano. Isso quer dizer que esses estudantes estão quase um ano mais avançados na disciplina que os das demais escolas, uma vez que um ano de aprendizado equivale a cerca de 18 pontos na prova.

Na avaliação da Prova Brasil, foram analisados dados de 5.681.424 alunos do 9º ano do ensino fundamental de 35 mil escolas públicas, entre os anos de 2005 e 2011. Na avaliação do Enem, foram 3.374.468 alunos de 68.604 escolas públicas. Os dados são de 2010 a 2012.

O Centro de Ensino Médio 9, de Ceilândia, no Distrito Federal, desenvolve o projeto Matemática Todo Dia desde 2007. No ano passado, a escola teve 45 alunos classificados e 25 premiados na segunda fase da Obmep. “Passamos a aprovar um número substancial de alunos na Universidade de Brasília e em outras instituições. Com a formação, o aluno passou a estabelecer não uma relação com a matéria, mas uma relação mais ampla com o conhecimento”, diz o diretor da escola, José Gadelha Loureiro.

O projeto é desenvolvido uma vez por semana, a partir das 19h, e tem duração de três horas. Dos mil alunos, 200 participam das aulas. “O professor é uma liderança para motivar, se o professor não motiva, nada ocorre”, diz Loureiro. A escola estimula também que os pais participem e incentivem os filhos.

Desde a primeira edição, em 2005, a Obmep consolidou-se como política pública na área de educação matemática. Em 2013, foram 18,8 milhões de inscritos em 99,89% dos municípios brasileiros.

“A Obmep serve para despertar o interesse dos alunos. Muitos não achavam que podiam seguir na matemática. Na olimpíada encontram outros alunos que têm o mesmo interesse”, diz Landim.

Segundo ele, a olimpíada serve também para descobrir talentos escondidos nas mais diversas cidades e dos mais diversos níveis socioeconômicos. O incentivo àqueles que se destacam vai além da medalha. Os alunos são preparados para participar de competições internacionais e podem receber bolsas de iniciação científica em programa desenvolvido em parceria com o Impa.

O estudante Felipe Vieira da Costa é um desses talentos. Ele é de Sítio do Mato (BA), cidade com 12 mil habitantes que fica a cerca de 700 quilômetros de Salvador. Com 15 anos e cursando o 1º ano do ensino médio na Escola Estadual Nossa Senhora do Rosário, ele tem no currículo três medalhas de ouro e uma de bronze na Obmep, da qual participa desde o 6º ano. O gosto pelas exatas veio das aulas.

“Sempre buscava aprender mais e achava que matemática era um bicho de sete cabeças que eu poderia domar”, brinca. “Tive professores que às vezes deixavam de dar as aulas [previstas no currículo] para dar assuntos diferentes”, acrescenta. Agora, medalhista, ele ajuda os outros estudantes. “Alguns alunos buscam ajuda quando passam para a segunda fase da Obmep. Eu empresto livros, falo o que sei sobre o assunto.”

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