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Professor de Arcoverde está criando Atlas Linguístico de Pernambuco

Ideia é colher expressões típicas das diversas regiões do Estado

Edmilson José de Sá
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Edmilson José de Sá
Publicado em 17/05/2011 às 21:37
Diego Nigro
FOTO: Diego Nigro
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Você já passou por um tucaniço, já encontrou um boi mavu, já viu um olho-de-boi em dias de chuva? Talvez a maioria dos brasileiros não conheça esses termos, mas em algumas cidades de Pernambuco certamente são mais frequentes. Significam passagem por cima de um riacho, boi sem ponta e arco-íris.

Essas e outras expressões estão sendo colhidas para a elaboração do primeiro atlas linguístico do estado de Pernambuco, cujas pesquisas estão bastante avançadas. O projeto de tese de Doutorado está sendo executado por mim, que sou professor da Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde (AESA), Edmilson José de Sá, e curso doutorado na Universidade Federal da Paraíba, sob a orientação de uma das maiores especialistas na área, a professora Maria do Socorro Silva de Aragão, diretora executiva do Atlas Linguístico do Brasil e criadora do Atlas Linguístico da Paraíba.

Para entender melhor, a ideia é reunir respostas de falantes de 21 cidades do Estado com, no máximo, quarta série do ensino fundamental ou quinto ano, de modo a facilitar a descoberta de palavras ou expressões mais conservadoras e pouco proferidas por quem tem escolaridade mais avançada. Além de investigar o conhecimento lexical, ou seja, o vocabulário do informante, também estão sendo pesquisados os campos fonético e morfossintático, a partir dos quais serão documentadas particularidades de pronúncia e concordância. Também são feitas perguntas específicas sobre o estado de Pernambuco, e os temas escolhidos foram folguedos e danças, abrangendo o frevo e o maracatu, assim como o artesanato, abrangendo a renascença e o barro.

Após colher as respostas de sua pesquisa, serão organizadas cartas linguísticas, distribuindo as realizações mais relevantes pelas cidades investigadas através do mapa do Estado. Serão contempladas as cidades de Afrânio, Ouricuri, Petrolina, Santa Maria da Boa Vista, Floresta, Tacaratu, São José do Egito, Salgueiro, Serra Talhada, pertencentes ao Sertão do Estado; Arcoverde, Custódia, Tupanatinga, Águas Belas, São Bento do Una, Garanhuns, Caruaru, pertencentes ao Agreste; Limoeiro, Palmares, Taquaritinga do Norte e Goiana, pertencentes à Zona da Mata e a capital Recife, que também terá informantes com nível superior.

Os inquéritos já foram concluídos em Afrânio, Águas Belas, Arcoverde, Caruaru, Custódia, Garanhuns, Ouricuri, Petrolina, Serra Talhada e Tupanatinga, e iniciados em Limoeiro e na capital do estado, Recife. Alguns aspectos já demonstram o comportamento dialetal do estado. No campo fonético, o acréscimo de um /e/ depois de /z/ na pronúncia de Jesus, e em outras cidades, o /z/ não é sequer pronunciado. Também foi percebida a grande quantia de palavras com trocas de letras, como vrido, frevendo, partileira. No campo lexical, para a pergunta sobre a ponta roxa do cacho da banana, as respostas foram: flor, naibo da banana, mangará, mango, mangará, coração, imbigo da banana.

A referência ao caminho que se abre com machado, facão ou foice para passar por um mato fechado apresentou como resultados trilha, varedo, estrada, madeira, camim, mata, abre o mato e vareda. Quando perguntados sobre a dança típica de Pernambuco, as respostas mais recorrentes foram frevo, quadrilha, maracatu, forró, bloco de carnaval, axé e boi bandeira. Em questões de concordância, foram percebidas, até agora, a não preferência pelo artigo diante de nomes próprios, a despluralização das palavras como em duas mão, dois leão, três anzol e a variação de gênero como em um/uma guaraná; um/uma alface. A importância de um trabalho dessa natureza para o nosso estado só reforça a necessidade de valorizar a cultura nordestina, reconhecendo e autenticando a heterogeneidade da língua falada. Basta esperar para 2013, quando o trabalho for concluído...

Maiores informações em https://alipeedmilsonjsa.blogspot.com

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