O consumo dos recursos naturais da Terra aumenta a cada ano, ao ponto em que a recuperação desses recursos exaure a capacidade do planeta. No último dia 29, chegamos ao limite antecipado de 2019. O déficit ecológico é monitorado desde a década de 1970, e só tem piorado de lá para cá. A biosfera em que habitamos, uma ilhota na vastidão árida da nossa galáxia e do universo conhecido, vem sendo devorada pela civilização. Os distúrbios decorrentes do consumo exacerbado dos recursos naturais são evidentes, afetando a qualidade do ar, das águas e dos solos. A poluição toma conta não apenas das cidades, mas também das regiões distantes das concentrações urbanas, indicando o tamanho do problema – um problema do tamanho do planeta.
As mudanças climáticas são consequências inegáveis, segundo os cientistas, da voracidade civilizatória. A realidade extrema de secas e furacões, inundações e nevascas, provém da retirada indiscriminada dos recursos da natureza. O colapso está a caminho em escala planetária, afetando a temperatura e o nível dos oceanos e a aceleração da extinção de espécies inteiras. Está em risco a biodiversidade que regula a Terra, fazendo com que as condições que favoreceram o surgimento da vida venham a ser anuladas. Para as gerações atuais e as seguintes, o perigo atinge níveis impensáveis há poucas gerações. A escassez de recursos naturais e a crise gerada pela sobrecarga planetária podem ser a raiz de sérios problemas sociais, econômicos e políticos, incluindo a deflagração de epidemias após desastres naturais. E as previsões apocalípticas de guerras por causa de água, por exemplo, talvez deixem de ser tema de ficção.
Desde segunda-feira o uso dos recursos da natureza pela humanidade entrou no vermelho – na imagem comumente adotada para quem está em dívida. O padrão de consumo mantido hoje precisaria de quase duas Terras para ser atendido, respeitando a regeneração dos recursos extraídos. A estimativa é da Global Footprint Network, que calcula a pegada ecológica, quantidade de recursos naturais demandados, coletiva ou individualmente. No passo em que estamos, podemos necessitar de dois planetas antes da metade do presente século. Por quanto tempo a biosfera suporta esse volume de uso? Difícil responder. Mas os cientistas não se cansam de afirmar que o abuso tem trazido, e vai trazer muito mais, drásticas consequências.
Dia da Sobrecarga
Para se ter uma ideia da escalada do déficit, basta observar a velocidade com que o Dia da Sobrecarga tem sido atingido. No ano 2000, a data foi 5 de outubro. Em 2005, já foi em 6 de setembro. Em 2010, 31 de agosto, e em 2015, 13 de agosto. Parar a contagem regressiva da insustentabilidade é desafio para mais de uma geração. Entretanto, na perspectiva do desastre anunciado para a vida na Terra, um desafio que não pode esperar.
