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Editorial: Atlas revela briga entre facções como pano de fundo da violência

Diante desta nova realidade, o País precisa de uma nova maneira de encarar o problema da violência a partir dos grandes centros urbanos e das regiões

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Publicado em 08/08/2019 às 7:46
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Diante desta nova realidade, o País precisa de uma nova maneira de encarar o problema da violência a partir dos grandes centros urbanos e das regiões - FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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O Atlas da Violência – Retrato dos Municípios Brasileiros 2019 – mostra que o tráfico de drogas e a disputa entre facções criminosas estão por trás das taxas de homicídios nas cidades mais violentas do País e que houve – e continua havendo – crescimento da violência no Norte e Nordeste, criando-se um mapa da criminalidade com base na mobilidade das facções que estavam concentradas no Sudeste. Esse novo mapeamento exige da mesma forma uma nova maneira de encarar o problema da violência a partir dos grandes centros urbanos e das regiões.

Entretanto, para tornar mais complexo o problema, não se pode excluir de qualquer análise o que foi detectado pelo Atlas 2018, que destacou a desigualdade das mortes violentas por raça/cor “que veio se acentuando nos últimos dez anos”, e revelou que “71,5% das pessoas que são assassinadas a cada ano no País são pretas ou pardas”. Isso, quando o Atlas de 2017 tinha as mesmas cores sombrias para nós nordestinos e os nortistas, mostrando que um crescimento superior a 100% nas taxas de homicídio no período analisado estava localizado nas regiões Norte e Nordeste.

Norte e Nordeste

A leitura desses retratos contém explicação para o corte regional, o crescimento das mortes nas regiões Norte e Nordeste, influenciado pela guerra do narcotráfico, disputa por rotas de drogas, pelos conflitos entre facções, e até pelo que o estudo identifica como “mercado ilícito de madeira e mogno nas zonas rurais”. Isso aí deveria ser suficiente para uma interpretação possível do Atlas da Violência atual, mas não é tão simples, como fazem ver estudos similares, como o Monitor da Violência – traçado em parceria do Portal G1, Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, segundo o qual o Brasil registrou uma queda expressiva no número de assassinatos nos dois primeiros meses de 2019 e que essa queda foi puxada pelo Nordeste, que teve redução média de 34% e quedas expressivas no Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará, que teve a maior redução do País: 58%. 

Essa diferença mostra discrepâncias de estudos, mas além das aparências consolida cenários estruturais como a preponderância do largo fosso social que separa regiões mais desenvolvidas e as menos desenvolvidas, assim como a distinção de raça e cor como fatores predominantes, qualquer que seja o estudo. Também é forçoso constatar que a questão que se sobrepõe à estatística ainda não começou a ser detectada nesses Atlas, mas existe e pode ser percebida nos dias de hoje noutras formas de violência. Assim, por exemplo, quando se sabe que o Conselho Regional de Medicina de Rondônia está investigando o caso de uma mulher grávida que morreu em um hospital de Porto Velho logo depois de enviar áudios pelo WhatsApp pedindo socorro, enquanto no outro extremo da perversa realidade brasileira – e não apenas regional ou estadual – o País fica sabendo que o tratamento dentário de um só deputado custou mais de R$ 150 mil, “patrocinado”, como se sabe, por todos os brasileiros que pagam impostos.

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