Reencontros

Editorial: Rivânia, a menina que ama livros

A história de Rivânia vai ser contada por muitos anos, para felicidade de quem ainda acredita na capacidade das pessoas de pensar, formular juízos e valores

JC Online
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Publicado em 10/09/2019 às 7:21
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A história de Rivânia vai ser contada por muitos anos, para felicidade de quem ainda acredita na capacidade das pessoas de pensar, formular juízos e valores - FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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O Projeto Reencontros, deste JC, é uma forma de produzir pós-jornalismo. Para além do factual, a notícia que é feita com a emoção, dos personagens e dos fatos, sem o que os episódios de nossa história seriam apenas datas. Um calendário histórico. O pós-jornalismo contém a narrativa de um Proust, não apenas uma volta ao passado, em busca de todos os tempos, para desenhar o perfil de uma sociedade, a sociedade pernambucana como é vista, lida e percebida nas páginas do jornal, na narrativa das emissoras de rádio e no encontro com a imagem. Isso, através de personagens que fizeram ou são notícias, que criaram as condições de novos tempos, resgatados hoje, agendados para futuros próximos. Um jornalismo de memória histórica, cultural, até meramente cotidiano, mas com pessoas, com nomes, com identidade própria. Como a de uma menina magnífica, Rivânia, que entrou na história porque ama livros.

A história de Rivânia vai ser contada por muitos anos, para felicidade de quem ainda acredita na capacidade das pessoas de pensar, formular juízos e valores. Provavelmente tudo isso é possível sem que se busque no pensamento alheio os fundamentos de seu próprio pensamento, mas essa é uma história diferente: diz do amor que uma criança teve – e seguramente deve ter – por livros. A escolha de um livro de história e outro de ciência como seus bens mais preciosos para salvar de uma enchente não é apenas um modelo, um caso exemplar, uma reação comovente, é a expressão de uma sabedoria emocional, preenchida com valores cotidianos, desta e de todas as Rivânias do mundo, que fazem a diferença.

O amor pelos livros

Por mais atrasada que seja uma sociedade, por menos voltada para a cultural e o conhecimento, a existência de pessoas devotadas a livros, a conhecimento, a emoções trabalhadas, conscientizadas como ponto de partida para a construção de um mundo melhor, isso faz a diferença. E aí será possível sonhar, como provavelmente sonha Rivânia, cujo gesto despertou um mundo pouco conhecido entre nós: o da solidariedade, do apoio, da valorização do gesto. Uma combinação de atitudes coletivas que faz diferente a realidade da menina, com ponto de partida nos livros. A expressão da avó materna Maria Ivone, diz tudo: “Nunca penei que por causa de livros a vida dela ia mudar tanto”. Ninguém poderia pensar, exceto se por trás tivesse um histórico escolar, a soma de sucessos escolares, diplomas, testes, e por aí vai. No caso, nada disso, apenas o abraço com os livros, o que havia de mais precioso na vida de Rivânia. Nas mais é preciso acrescentar. O gesto é um exemplo extraordinário que haverá de ser lembrado não apenas pelos meios de comunicação mas nos estudos acadêmicos capazes de mostrar a história da menina que amava livros e por isso tudo mudou em sua vida.

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