FOME E POBREZA

Editorial: Josué de Castro denunciava a extrema pobreza bem antes do Nobel

As informações que chocaram os integrantes do Prêmio Nobel em 2019 acompanharam o pernambucano por toda vida

JC Online
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Publicado em 16/10/2019 às 7:29
Foto: Fundação Joaquim Nabuco/Divulgação
As informações que chocaram os integrantes do Prêmio Nobel em 2019 acompanharam o pernambucano por toda vida - FOTO: Foto: Fundação Joaquim Nabuco/Divulgação
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O júri de Estocolmo que escolheu três americanos para o Prêmio Nobel de Economia ilustra a escolha com números escandalosos: mais 700 milhões de pessoas sobrevivem com rendas “extremamente baixas” e a cada ano cerca de 5 milhões de crianças menores de 5 anos morrem por males da desnutrição, que poderiam ser prevenidas ou curadas com tratamentos que não são caros, o que faz os juízes do prêmio classificarem o problema como um dos mais urgentes da humanidade. Nada que o recifense Josué de Castro desconhecesse 70 anos atrás. Pelo contrário, essas informações que chocam os integrantes do Prêmio Nobel em 2019 acompanharam o pernambucano por toda vida e por isso ganhou o reconhecimento do inteiro, com prêmios e honrarias, entre os quais o Prêmio Franklin D. Roosevelt, da Academia de Ciências Políticas dos Estados Unidos, a Grande Medalha da Cidade de Paris, o Prêmio Internacional da Paz do Conselho Mundial da Paz, e Oficial da Legião de Honra da França.

A atualidade do tema que levou Josué de Castro a escrever mais de 30 livros – entre os quais Geografia da Fome e Geopolítica da Fome – mostra a recorrência dos males denunciados no passado, na geração de profundas desigualdades que persistem, recebem dos economistas de hoje o alerta de um dos mais urgentes problemas da humanidade. Um problema histórico e fartamente documentado e denunciado muitos anos atrás através de obras como “O livro negro da fome”, “Homens e Caranguejos”, “A Explosão Demográfica e a Fome no Mundo”, “El Hambre – Problema Universal”, ou “Fome: um Tema Proibido”, entre outras dezenas de obras de Josué de Castro. Fica a dúvida se o Nobel deste ano será poderoso bastante para mudar esse relato, produzindo resultados diferentes, quando a desigualdade vira marca agravada de um mundo globalizado.

O que afirma o comitê com a escolha dos economistas dos Estados Unidos é que eles, e ela, a mais jovem ganhadora de um Prêmio Nobel, “mostraram como o problema da pobreza global pode ser resolvido com a divisão de perguntas em uma série menor e mais precisa em níveis individual ou de grupo. Em apenas 20 anos, essa abordagem reformulou completamente a pesquisa no campo conhecido como economia do desenvolvimento”. Essa é uma perspectiva ilusória de que trabalhos acadêmicos serão suficientes para corrigir uma das mais graves deformações da humanidade, o aprofundamento das desigualdades.

Geopolítica da Fome

Essa perspectiva deveria nos levar à Geopolítica da Fome, nestes dias em que cientistas políticos trabalham os mais diversos aspectos da geopolítica que persiste com os mesmos padrões de dominação dos anos 60, quando lutar contra a desigualdade e a fome no mundo tinha como pressuposto combater o colonialismo, o furor hegemônico de nações mais desenvolvidas que sempre estiveram fundadas sobre as menos desenvolvidas, mais pobres e com maior número de famintos. Assim no chamado “terceiro mundo” algumas décadas atrás, assim hoje, não apenas em um ou alguns países, mas em continentes inteiros.

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