entrevista

Se processo contra Bolsonaro não for arquivado, tem que rasgar a Constituição, diz presidente do PSC

Pré-candidato à presidência, Bolsonaro virou réu no STF por ter dito que não estupraria uma deputada porque ela não merecia

Paulo Veras
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Publicado em 24/07/2016 às 8:10
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Pré-candidato à presidência, Bolsonaro virou réu no STF por ter dito que não estupraria uma deputada porque ela não merecia - FOTO: Foto: Agência Brasil
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Presidente nacional do PSC, o Pastor Everaldo garante que o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) será candidato a presidência da República em 2018, desde que ele queira. "Tem espaço não só para disputar, como para ganhar as eleições", diz, em entrevista exclusiva ao Jornal do Commercio. Everaldo, que batizou Bolsonaro nas águas do Rio Jordão e teve 0,75% dos votos na eleição presidencial de 2014, defende o aliado, classifica como um "descalabro" a abertura de um processo contra o presidenciável no Supremo Tribunal Federal (STF) por ter dito que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) porque ela não merece, e diz que se o caso não for arquivado, tem que se rasgar a Constituição.

JORNAL DO COMMERCIO - Jair Bolsonaro vai ser candidato a presidente?

PASTOR EVERALDO - Do ponto de vista do partido, ele é pré-candidato. Quando foi recebido no partido em março, ele já veio como pré-candidato do partido. Isso já está estabelecido. Ele hoje é pré e será candidato, se Deus quiser. Se depender da vontade do partido, se ele quiser, vai sê-lo.

JC- E depende de ele conseguir 10% das intenções de voto?

EVERALDO - Não. Ele que propôs: se eu não tiver com 1%, 2% ou 3%, eu não vou colocar o partido em risco. Mas isso é uma questão dele. Eu fui disputar a presidência quando tinha 3%. Então não tem esse negócio, não. Se ele quiser, ele será candidato.

JC -  Esse discurso conservador do Bolsonaro consegue vencer uma eleição no Brasil?

EVERALDO - Na sociedade brasileira, a maioria esmagadora é conservadora. Então, tem espaço não só para disputar, como para ganhar as eleições. Na realidade, por enquanto, as pessas ficam discutindo apenas alguns assuntos polêmicos que foram colocados (sobre o Bolsonaro). Na hora que a gente colocar um plano econômico, de administração, ele pensa conforme a gente colocou na nossa campanha. Reduzir o Estado, privilegiar quem é empreendedor, a livre iniciativa, liberdade de imprensa sem marco regulatório, sem nada disso aí. Então, é aquilo o que a gente defende. Agora estão falando aí em privatização da Petrobras. Quem foi o único candidato que colocou isso aí no Jornal Nacional, no dia 15 de agosto de 2014? Quem foi que falou que privatizaria a Petrobras? Evidente que fui eu. Porque o Estado precisa enxugar essa máquina administrativa pesada do Estado, deixar a iniciativa privada tocar e dar liberdade para o mercado trabalhar e para o empreendedorismo se sobressair.

JC - A privatização da Petrobras é uma agenda que entraria numa campanha do Bolsonaro em 2018?

EVERALDO - Nós nunca discutimos isso. Mas a tendência é essa, não tem jeito. Ele é conservador, mas é liberal no aspecto econômico. Então vamos ver. Essa questão da iniciativa privada é porque o Estado não tem mais dinheiro, não tem mais como colocar carga em cima da população. Então o remédio é esse aí, não tem jeito.

JC - Uma das principais críticas em relação ao Bolsonaro são as declarações dele em relação a didatura, de dizer que ela teve uma "parte boa". O senhor acha que isso inviabiliza uma candidatura dele?

EVERALDO - Eu acredito que não, rapaz. Se você pega o Lula. O Lula diz que o maior período de crescimento, que fez as maiores obras do Brasil, foi o regime militar. O próprio Lula falou isso, entendeu? Então isso é uma questão que a gente tem que reconhecer. Todo mundo fez coisas boas pelo Brasil. A única desgraça que aconteceu no Brasil, de negativo total, foi a dona Dilma. Essa que foi a desgraça do país. O Lula até que fez alguma coisinha que melhorou.

JC - O Bolsonaro é muito lembrado por causa dessas declarações mais polêmicas dele sobre homossexuais, por exemplo. O senhor acha que isso atrapalharia uma candidatura presidencial?

EVERALDO - As declarações deles são as mais claras possíveis sem ofender ninguém. É que lamentavelmente a esquerda sabe fazer esse barulho. Ofender as pessoas. Quem discorda, ela pega e coloca "golpista", "fascista", "homofóbico". Na realidade, as declarações dele não o que o pessoal fala que é politicamente correto. Ele fala a verdade. O povo está gostando dele. Por que ele está se sobressaindo? Porque ele fala a verdade, com tranquilidade e com transparência. Tanto é que quem não é ativista gay, tem muitas pessoas aí que tem declarado... Você já deve ter visto aí os "gays de direita" que estão com ele. É mais uma perseguição. Porque estão vendo que ele é uma pessoa que fala a verdade e coloca com clareza o que pensa, não é enganando as pessoas.

JC - O Bolsonaro tem feito várias viagens para percorrer o país. Isso já é a pré-candidatura?

EVERALDO - Não. Isso é uma coisa natural. Ele está em um partido agora que deu espaço para ele. E nessa fase de convenções, todo mundo quer. Eu, por exemplo, desde quarta estava no Pará, em Belém e mais 11 cidades que eu passei lançando candidatos a prefeito do partido. Todo mundo queria que ele fosse comigo. Saí ontem de madrugada, na quinta-feira, para Imperatriz, no Maranhão. Cheguei hoje (sexta-feira) aqui no Rio. Todo mundo quer a presença dele. É natural. Nós somos lideranças do partido. Querem ver o presidente do partido, o Everaldo, e querem ver as outras lideranças. Querem o Feliciano. Nós temos o Irmão Lázaro, que é o irmão cantor lá da Bahia, você já deve ter ouvido falar dele. E todo mundo diz: traz aqui o Lázaro. O pessoal gosta. São as lideranças do partido.

JC - Mas não é um processo já de consolidação dessa pré-candidatura?

EVERALDO - Não. Não um fato com esse objetivo. Mas o que acontece é que vai consolidando. Ontem (quinta-feira) me exigiram lá no Pará. Disseram que eu ia ter que assumir um compromisso, num auditório lá com 600 pessoas. Então eu falei: eu vou trazer ele aqui em Imperatriz. Aí foi aquela salva de palmas, todo mundo querendo ele lá.

JC - No mês passado, o Bolsonaro virou réu no Supremo por causa daquela discussão com a Maria do Rosário. E a gente sabe que tem a Lei da Ficha Limpa. Esse processo é algo que pode inviabilizar a candidatura?

EVERALDO - Mais Ficha Limpa do que Bolsonaro não tem nesse país, no mundo político, com todo o respeito. Esse é um processo meramente político, que não tem base. Lamentavelmente o Supremo abriu um processo desse. É um descalabro. Eu não sou advogado, mas para mim é um descalabro jurídico. Mas enfim... Vai responder lá. Não tem como condenar por causa de opinião. Isso foi lá uma opinião dele lá no plenário como parlamentar. Ele não ofendeu, não agrediu. Eles não pegaram o contexto. Aquilo ali, se você analisar, a mulher xingou ele. Ele querendo punição para o estuprador e ela defendendo, em 2003, se você pegar a história você sabe qual é, a mulher defendendo um menor porque era menor, mas era um estuprador. Aí xingou ele. Foi ela que xingou primeiro ele, ofendeu a honra dele, e ele respondeu daquela maneira. É um negócio que não tem o mínimo cabimento. É uma coisa meramente política. Ele vai disputar essas eleições, ele desmascara, ele fala o que tem que falar dessa esquerda aí. Eu acredito que no final o Supremo vai arquivar o processo porque não cabe.

JC - Eu perguntei porque a Ficha Limpa considera o julgamento colegiado.

EVERALDO - Ele não foi nem julgado. O Supremo abriu. Então está na fase para discutir o processo. Não teve julgamento, não teve nada ainda. 

JC - Na visão do senhor ele ganha esse processo?

EVERALDO - Sinceramente, se tiver um negócio desse aí, acabou a Constituição. Tem que rasgar a Constituição. Se não for arquivado esse processo tem que rasgar a Constituição. Tanta coisa para o Supremo discutir e aí os ministros ainda gastam tempo e dinheiro público, aqui dos nossos impostos, para abrir um processo dele, em vez de mandar arquivar. No dia anterior o Supremo arquivou um processo que a Jandira (Feghali, PCdoB-RJ) atacou o Aécio Neves porque ela tinha direito de falar. E no outro dia faz uma coisa dessa. Não dá para entender. Mas enfim. Isso aí é bom porque levantou mais, fez mais propaganda dele. O povo vai vendo aí. A gente acredita de outra maneira. Deu mais propaganda. As pessoas começam a perceber a realidade dos fatos e ver a verdade. Porque essa perseguição com o Jair Bolsonaro.

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