Para o sociólogo e cientista político Antônio Lavareda, experiente em estratégia de comunicação política, o Brasil inaugurou ontem, com as denúncias que envolvem o presidente Michel Temer (PMDB), uma nova fase de incertezas. Mas, para ele, diante deste nó é prudente aguardar o conteúdo das gravações, as instituições terem serenidade e cumprir estritamente o que dita a Constituição Federal.
Leia Também
- Lavareda acredita que Temer está certo ao priorizar a economia
- Manifestantes vão às ruas pedindo a saída de Michel Temer
- Oposição protocola na Câmara pedido de impeachment contra Michel Temer
- 'Se a JBS delatar, é o fim da República', disse Cunha, segundo jornal
- Dono da JBS teria gravado Temer autorizando compra do silêncio de Cunha, diz colunista
“Num momento como esse, alguns setores tentam criar atalhos, como a convocação de eleições diretas. Ainda que uma maioria, conforme pesquisas desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff, deseje eleições diretas, será muito ruim para o País o improviso. A Constituição prevê outro rito”, observou, em entrevista à Rádio Jornal na noite desta quarta (17/05).
Na hipótese de afastamento ou renúncia de Temer, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, assumiria a presidência da República e encaminharia o processo de eleições indiretas. O presidente substituto ficaria no cargo até a posse de um eleito diretamente em outubro de 2018, lembrou Antônio Lavareda.
O cientista político, que em junho do ano passado avaliava que Temer sobreviveria politicamente à impopularidade e à queda de seus ministros, envolvidos com denúncias de corrupção, acredita que agora será bem diferente se as gravações não deixarem dúvidas sobre a participação do presidente na compra do silêncio do deputado Eduardo Cunha, atualmente na prisão. “Se o conteúdo não deixar margem a qualquer reinterpretação pelo presidente, será muito difícil a sua sustentação no cargo”. O material vai demarcar a extensão e profundidade da crise e indicar o seu desfecho, na opinião de Lavareda.
Denúncias devem ter impacto na economia
O sociólogo chama atenção, ainda, para o impacto negativo na economia. “Essa crise política-institucional que corre o risco de se formar joga uma pá de cal naqueles que apostavam na recuperação econômica mais vigorosa no segundo semestre de 2017 e retomada do emprego”.
Mesmo diante do cenário difícil, Antônio Lavareda acredita que o País vai vencer a fase complicada. Há, na opinião dele, uma consolidação democrática ao longo dos mais 30 anos do fim da ditadura. “Mantida a independência dos poderes, o Brasil vai enfrentar e superar essa crise pela via democrática e constitucional”, aposta.