Mudança

Partidos investem em reposicionamento de marca para atrair eleitores

Agremiações partidárias tentam se remodelar a partir da alteração do nome e projetos

Franco Benites
Cadastrado por
Franco Benites
Publicado em 09/07/2017 às 11:07
Divulgação
Agremiações partidárias tentam se remodelar a partir da alteração do nome e projetos - FOTO: Divulgação
Leitura:

Há uma movimento no Brasil para criar novos partidos ou remodelar os já existentes sem incluir o termo “partido” no nome. A iniciativa vem resultando na formação de agremiações batizadas como Igualdade, Força Brasil, Patriotas, Unidade Popular, Raíz, Avante e Livres. A maioria dessas legendas ainda depende da formalização junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas fica claro que há busca para se distanciar da tradicional imagem dos partidos.

O TSE tem em mãos 61 pedidos de criação de novas legendas e uma quantidade considerável delas não faz nenhuma menção em seu nome à palavra partido. Entre as 35 agremiações já oficializadas, apenas Democratas, Solidariedade, Rede e Podemos rechaçam o termo partido.

O Democratas foi criado como um reposicionamento de marca do antigo PFL (Partido da Frente Liberal), que se formou como uma dissidência do PSD (Partido Democrático Social). Esse, por sua vez, era oriundo da Aliança Renovadora Nacional (Arena), existente no período do bipartidarismo da Ditadura Militar.

Já o Podemos era conhecido como PTN (Partido Trabalhista Nacional) até o final do ano passado. O Solidariedade e a Rede foram fundados dentro da estratégia dos partidos estabelecer uma nova identidade para si.

Para Juliano Domingues, doutor em Ciência Política e coordenador do Grupo de Pesquisa Políticas e Estratégias de Comunicação da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, essa nova onda não é surpresa.

“Desde que deixou de ser obrigatório o uso da palavra ‘partido’, em 1995, foi aberto espaço para esse fenômeno. Em um ambiente desfavorável à política, é até esperado que haja mudanças de nomes. A tentativa é de se descolar daquilo que venha a ser entendido como tradicional pelo eleitor e de se colocar no mercado eleitoral como algo novo ou renovado”, avalia.

O professor de Sociologia do Instituto Mackenzie, Rogério Baptistini, vê a estratégia das legendas de maneira cética.
“Historicamente, não temos uma tradição de partidos fortes e orgânicos, mas nessa conjuntura mais recente da vida política do País o desgaste dos partidos se agravou. O que ocorre simplesmente é uma mudança de capa e isso é trágico para a sociedadade brasileira”, opina.

De acordo com o cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Adriano Oliveira, a o movimento dos partidos pode ser válido desde que não seja apenas cosmético.

“Se os partidos decidiram pela mudança de acordo com pesquisas qualitativas e quantitativas e a definição de uma estratégia, isso pode provocar algo no eleitor. Mas se mudaram porque acharam o nome bonitinho e sem fazer um estudo prévio, isso pode ser um equívoco ou ação ineficiente”, alerta.

A presidente nacional do Podemos, Renata Abreu, que é deputada federal por São Paulo, assegura que o mote da campanha de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos (Yes, we can/Sim, nós podemos) inspirou o partido e que a mudança não é superficial.

“Fizemos pesquisas e conversamos com consultores para procurar entender o que a sociedade quer. A política brasileira precisa ser reiventada e o Podemos representa o sentimento de empoderamento da sociedade”, justifica.

Em processo para transformar o PSL (Partido Social Liberal) em Livres, o presidente nacional do partido, Antônio de Rueda, fala em ineditismo na ação.

“A nossa ideia é ser um partido start up, com uma mudança de dentro para fora. Vamos lançar uma plataforma digital para os filiados se envolverem com as ações e eles vão ter o direito de sair candidato de acordo com asua performance. A gente vai ter métrica das ações dos filiados que se engajarem”, garante.

NEM ESQUERDA, NEM DIREITA

A crise que arrasta para a mesma vala os tradicionais partidos políticos de governo e oposição, além das legendas menores que formam o chamado centrão (PP, PSD, e PR, por exemplo), faz com que o discurso que vem atrelado à reformulação das legendas seja moldado.

“Não tem mais isso de esquerda e direita. Misturou tudo. Somos um partido que mudará esses conceitos com um movimento mais amplo”, destaca o deputado federal Ricardo Teobaldo, que preside o Podemos em Pernambuco.

Além dele, a legenda conta com a participação do advogado Antônio Campos, que disputou a prefeitura de Olinda em 2016 pelo PSB. Nacionalmente, o partido atraiu os senadores Romário (ex-PSB) e Álvaro Dias (ex-PV), que representará o Podemos na disputa presidencial de 2018.

Antônio Eduardo de Rueda, presidente nacional e do diretório pernambucano do Livres, também não coloca o partido entre os tradicionais polos ideológicos.

“A população clama por ética, por um estado menor e em cima disso estamos tentando fazer algo diferente. Queremos liberdade individual. Não nos encaixamos na esquerda e na direita. A gente está mais para o centro, ou centro-direita, vamos dizer assim”, afirma.

A procura pela identificação com o centro é um caminho que deve ser feito por outras legendas. Nos bastidores políticos, fala-se que Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara Federal, quer criar um novo partido nessa linha para deixar de ser visto como um político de direita. Ele vem conversando com o ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM), e o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB).

“O Rodrigo Maia é maior que o Democratas e é ele quem tem o destino do governo Temer em suas mãos porque tem o controle da Câmara. Tem um capital político bem avaliado e talvez queira um partido para si para se articular como uma liderança política a partir de uma instituição nova que viabilize voos mais altos”, diz o professor de Sociologia do Instituto Mackenzie, Rogério Baptistini.

Coordenador de pesquisas eleitorais, o cientista político Adriano Oliveira, da UFPE, diz que o eleitor não está preso à polarização esquerda x direita.

“O conceito de esquerda é uma discussão desnecessária. Temos que entender o mapa mental do eleitor, que substitui a ideologia. Ele exige dos políticos que sejam pessoas confiáveis e tenham uma identidade de valores. Vota-se em fulano porque é a favor da liberação do uso de armas ou é a favor do aborto. É o sentimento que o político está fazendo alguma coisa por ele. Os partidos precisam ter uma identidade com o eleitor e ter a confiança dele”, diz.

Últimas notícias