2018

Doria defende que Lula seja candidato a presidente em 2018

Prefeito de São Paulo, João Doria impõe um discurso anti-petista e anti-lulista. Veja a entrevista

Gilvan Oliveira e Saulo Moreira
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Gilvan Oliveira e Saulo Moreira
Publicado em 12/08/2017 às 20:15
NELSON ANTOINE / ESTADÃO
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Prefeito de São Paulo, João Doria impõe um discurso anti-petista e anti-lulista. Veja a entrevista - FOTO: NELSON ANTOINE / ESTADÃO CONTEÚDO
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Prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB) impõe um discurso anti-petista e anti-lulista quando é instado a avaliar a crise. Mas ao contrário de muitos correligionários e aliados, ele se diz a favor de que o ex-presidente Lula tenha condições de se candidatar à Presidência em 2018. A seguir, trechos da entrevista dele ao JC por telefone, onde também fala sobre uma eventual candidatura sua e a relação com o governador Geraldo Alckmin.

JORNAL DO COMMERCIO – Sobre esse episódio que aconteceu em Salvador em que o senhor foi receber um prêmio e manifestantes atiraram ovos. O senhor viu nisso um fato isolado ou isso é fruto do acirramento político?

JOÃO DORIA – Foi a primeira vez que eu tive esse tipo de enfrentamento, mas é aquilo que o Brasil não precisa. A intolerância, a agressividade, a ameaça, isso é uma política que a ditadura venezuelana vem impondo ao povo venezuelano e que alguns membros da esquerda brasileira acham que devem adotar aqui também. Petistas, a turma do PCdoB, do PSOL, da Rede, não quero dizer todos, mas alguns são adeptos da relação mais bruta, mais dura, mais intolerante, de querer intimidar as pessoas. O Brasil não vai crescer, o Brasil não vai ser uma democracia tomando como parte esse tipo de gestos, agredindo as pessoas, xingando as pessoas, criando constrangimentos para as pessoas. A maioria dos brasileiros não gosta e não quer isso. É lamentável que tenha havido esse fato em Salvador, terra de gente tão boa, terra de meu pai, terem feito isso, com rojões, apontando rojões e jogando ovos nas pessoas. (...) Tinham funcionários da Câmara Municipal, assessores de vereadores do PCdoB, do PT, agindo e incitando. Embora fosse um grupo pequeno, extremamente agressivos.

Espero que ele possa disputar as eleições e perder para que, pela democracia e pelo voto direto, nós possamos nos despedir de Lula, encerrar a fase do mito

JC – O senhor acha que esse episódio aconteceu porque foi no Nordeste, onde o PT e o ex-presidente Lula têm uma penetração eleitoral maior, ou não tem nada a ver?

DORIA – Eu não sou capaz de fazer essa avaliação. Mas no caso da Bahia especificamente, ali temos um governador que é do PT. Espero que ele não tenha tido a leniência de não ter expedido o pedido para a presença da Polícia Militar, ter deixado que a polícia não fizesse o isolamento como deveria ter feito e não fez. Porque o princípio básico em situações como essa é você isolar as pessoas que possam ser alvo de manifestações, principalmente manifestações agressivas dos agressores ali.

JC – O senhor se posiciona como um anti-petista e um anti-lulista. Hoje, na política brasileira, o senhor é a figura que melhor representa esse anti-petismo, anti-lulismo?

DORIA – Eu tenho claramente a minha posição, já tinha antes de ingressar na vida pública e mantenho. Lula, infelizmente eu tenho que falar a verdade, ele é um mentiroso, enganou o Brasil e enganou os brasileiros, enganou até os seus companheiros. Pergunte ao Hélio Bicudo (advogado, coautor do pedido de impeachment de Dilma Rousseff), que foi o fundador do PT, o que ele acha do Lula, qual a opinião dele sobre o Lula, sobre o PT e o petismo hoje. Só para citar um exemplo, o José Álvaro Moisés, professor da Universidade de São Paulo, o que ele acha do Lula, do petismo e do José Dirceu. O PT quase destruiu o Brasil. Em 13 anos assaltaram os cofres públicos, fizeram um desastre econômico que resultou em 14 milhões de brasileiros desempregados, o maior assalto aos cofres da Petrobras, aos cofres públicos da história do País, a pior imagem internacional do Brasil, a pior avaliação de organismos internacionais sobre o Brasil, o maior índice de desconfiança em relação a um país, uma situação dramática na vida nacional, a pior inflação, o mais alto índice de recessão prolongado da história econômica do Brasil. Como é que pode um homem como esse dizer que quer voltar para salvar o Brasil? Salvar do quê? Só se for para salvar daquilo que ele fez, aquilo que ele produziu de mal ou para salvar os seus interesses em apoiar a Venezuela de Maduro, em apoiar os irmãos Castro em Cuba, ou a ditadura boliviana ou a ditadura equatoriana. Chega! O Brasil quer liberdade, o Brasil quer emprego. Os brasileiros, os pernambucanos que estão nos ouvindo agora querem emprego, querem crescimento econômico, o desenvolvimento do país, não o proselitismo e a mentira política de Lula e seus comparsas.

JC – O senhor acredita que Lula vai ter condições de ser candidato em 2018?

DORIA – Eu espero que seja. Aliás, eu sou um dos poucos que defende o direito do ex-presidente Lula a ser candidato antes de ser condenado. Ele tem seis indiciamentos e já uma condenação em primeira instância, está em liberdade por uma concessão feita pelo juiz Sérgio Moro, poderia já estar preso preventivamente porque já foi condenado, e vai responder a mais cinco processos que estão em curso nas varas criminais sob o comando da Lava Jato com o juiz Sérgio Moro. Mas eu espero que ele possa disputar as eleições o ano que vem e perder para que, pela democracia e pelo voto direto, nós possamos nos despedir de Lula, encerrar a fase do mito e que o Luiz Inácio possa responder criminalmente pelas falcatruas que fez e pelo assalto ao dinheiro público que promoveu no Brasil.

JC – Apesar de tudo isso que o senhor elencou, o senhor consegue identificar algum fato positivo durante o governo Lula: inserção pessoal, redução da pobreza, ou não?

DORIA – Aquilo que poderia ter sido algo bom e definitivo não foi, porque foi suplantado pelo interesse político pessoal e particularizado, inclusive pelo enriquecimento dos membros do PT. Aliás, vejam lá que todos os tesoureiros do PT enriqueceram. Todos foram indiciados, alguns já condenados e cumprindo pena inclusive na prisão e outros com tornozeleira. Você vê, vários ex-ministros do governo Lula estão presos, cumprindo pena em Curitiba e no Rio de Janeiro. Outros estão indiciados ainda finalizando processos. E o próprio ex-presidente Lula tem seis processos, sendo que um já condenado a nove anos e meio de prisão por enriquecimento ilícito. Os atos positivos poderiam ter se eternizado, ter colocado a gestão para receber aprovação e reconhecimento foram lamentavelmente apagados por posturas desleais, desonestas e desvinculadas do interesse efetivamente nacional.

JC – A cada dia surgem novas especulações sobre uma eventual candidatura sua pelo PSDB à Presidência da República. O senhor já disse em várias ocasiões que a sua relação com o governador Geraldo Alckmin sempre esteve no mesmo lugar e sempre será a melhor possível. Há tucanos que dizem que se Lula for candidato, o senhor seria a melhor opção do partido para disputar a Presidência. Como está isso tudo hoje?

DORIA – A relação com o governador Geraldo Alckmin é a melhor possível. É um homem de bem, um homem correto, construiu toda uma trajetória de vida política e vida pública com base na honestidade, na decência, na transparência e na eficiência. Portanto é um homem por quem eu tenho profundo respeito. Não há a menor possibilidade de um afastamento, de um arranhão sequer nas nossas relações. Nos damos bem, nos respeitamos e assim continuaremos por muitos e muitos anos. Eu não me apresento como candidato à Presidência da República. Fico muito feliz ao ser lembrado, ao ser inserido em pesquisas, sempre bem avaliado, afinal eu tenho apenas sete meses como prefeito de São Paulo. Não tenho vida partidária orgânica, não fui deputado, senador, governador, ministro, secretário. Portanto, a avaliação que se tem hoje da opinião pública é daquilo que eu tenho feito e produzido aqui em São Paulo.

JC – Então o senhor vê hoje o governador Geraldo Alckmin como o melhor quadro para disputar a Presidência em 2018?

DORIA – É um dos muitos bons quadros do PSDB. O PSDB tem essa vantagem de ser um partido com bons quadros, um partido que tem qualidade, tem inúmeras pessoas que dão ao PSDB essa representatividade de importância. Por isso, inclusive, que muitas vezes as opiniões do PSDB não são iguais. Até porque, como partido democrático que é, ele aceita o contraditório. E você convivendo com tantas boas cabeças, pessoas e pensamentos debaixo da bandeira tucana do PSDB, naturalmente que as opiniões, nem todas elas são convergentes. Geraldo Alckmin é um excelente nome entre muitos bons nomes do PSDB.

JC – Muitos especialistas entendem que a gente está caminhando para um quadro político-eleitoral em que o eleitor prefere votar naquele candidato que é novo, que representa mais uma renovação da política. Nesse aspecto, o senhor não levaria vantagem na medida que representa algo de novo para o eleitor?

DORIA – De fato, o novo foi a opção dos brasileiros nas eleições de outubro de 2016. Há nove meses, essa foi a opção dos eleitores de todo o Brasil, a começar por São Paulo. Eu fui eleito no primeiro turno, 53% dos votos, ganhei do PT. Modéstia a parte, posso dizer que arrasei o PT aqui em São Paulo. Vou falar disso com uma certa dose de bom humor, porque aqui o PT era tido como invencível, até eu ocupar a vaga, a cadeira que eu estou nesse momento de um candidato, que era o prefeito, que era do PT (...). O que eu não vou me furtar é trabalhar e lutar pelo Brasil. Para isso, eu não preciso ser candidato a nada, nem a presidente da República nem nada. Eu preciso continuar cumprindo o meu papel como cidadão, como brasileiro, como prefeito de São Paulo, para defender o que é bom e o que é positivo ao meu ver para o povo e para a comunidade brasileira.

JC – Juntando as duas declarações que o senhor disse há pouco, que o PSDB não é um partido homogêneo, há várias opiniões dentro do mesmo partido e que o PSDB tem que lutar para o que é melhor para o Brasil. Hoje, é melhor para o Brasil o PSDB continuar no governo Temer?

DORIA – O melhor para o Brasil é continuar apoiando as reformas, é continuar acreditando que a política econômica em curso é boa e adequada para a recuperação do Brasil. Não se trata de apoiar ou não o governo Temer, mas a governabilidade e a continuidade das reformas e também da política econômica que vem sendo bem conduzida pelo ministro (Henrique) Meirelles (Fazenda). E tirar um pouco esse foco só partidário, ideológico e fazer um foco no Brasil. Quem está no comando e tem a possibilidade de fazer uma transição equilibrada e serena do Brasil merece respeito, merece ter consideração.

JC – Se o senhor fosse um deputado e estivesse lá na Câmara, teria votado pela investigação ou pelo arquivamento da investigação contra o presidente Temer?

DORIA – Eu não sou parlamentar, eu sou do Executivo. Eu fui eleito para administrar a cidade de São Paulo. Prefiro me abster de responder essa pergunta sobre algo que eu não sou parlamentar, não participei da votação, não tenho voto nem na Câmara nem no Senado. O meu voto aqui é o voto da cidade de São Paulo.

JC – O senhor deve ter acompanhado no noticiário do governo cogitando aumentar imposto. O caminho é esse, aumentar imposto?

DORIA – O caminho é não aumentar imposto. Esse é o caminho mais fácil (aumentar impostos). Mas você não elege um governo para fazer o fácil, você elege o governo para fazer o melhor. O fácil você não precisa eleger e nem ter o discernimento para essa escolha. Eu sou contra, entendo que não é uma boa alternativa o aumento de impostos. A melhor alternativa é a redução de despesas, cortar, reduzir, readequar a função pública, privatizar, conceder, realizar programas de parceria para permitir que as políticas públicas possam continuar a serem realizadas, mas a menor custo e com mais eficiência. Esse atalho fácil e rápido de aumentar impostos precisa ser ceifado.

JC – O que o senhor entende que falta para o PSDB aumentar ou ter mais capilaridade no Nordeste?

DORIA – Falta maior sintonia com o temas do Nordeste e candidatos que estejam com essa sintonia, com a capacidade de se sintonizar que o povo espera. Com maiores lideranças, o PSDB poderá crescer no Nordeste brasileiro, mas para isso deverá forjar novas gerações de líderes jovens ou considerar a eficiência daqueles que já militam na política, com a vida pública, mesmo não tendo militância partidária e atraí-los para o PSDB. No caso presidencial, é uma candidatura forte, robusta, que eles saibam interpretar as necessidades da região Nordeste do País, sobretudo na geração de empregos, na geração de oportunidades e na diminuição da pobreza.

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