NOVO PRESIDENTE

Leite condensado, videogame e garimpo: quem é Jair Bolsonaro?

Torcedor do Palmeiras, fã de pesca e de forró: o perfil do novo presidente Jair Bolsonaro

Paulo Veras
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Paulo Veras
Publicado em 01/01/2019 às 8:00
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O PUBG (PlayerUnknown’s Battlegrounds) é um game que que deu início a toda uma era moderna de jogos de sobrevivência. - FOTO: Foto: reprodução do Instagram
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No dia em que acertou sua entrada no PSL, em um encontro no Recife com Luciano Bivar, presidente da sigla, Jair Bolsonaro pegou uma sanfona nos braços e ensaiou tocar algumas notas, enquanto esperava a redação final da carta de filiação ao partido. Capitão reformado do Exército, deputado do baixo clero do Congresso Nacional desde 1991 e presidente eleito com 55,13% dos votos válidos, Bolsonaro fez uma carreira política marcada por declarações polêmicas, pela simplicidade pessoal e por um discurso de direita com forte apelo eleitoral.

“Ele é louco por forró pé-de-serra e sertanejo raiz”, conta o amigo pernambucano Gilson Neto, veterinário, empresário e dono da banda de forró Brucelose. Os dois se conheceram em 2003, no saguão do Aeroporto de Brasília e começaram a falar sobre pescaria; uma das paixões do novo presidente da República. Em janeiro de 2012, Bolsonaro foi multado por pesca ilegal em uma estação ecológica protegida por lei em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. “Bolsonaro é uma pessoa muito simples. E muito apegado à família. Acho que as pessoas vão se surpreender positivamente com ele na Presidência”, projeta Gilson.

Nas vésperas do início da corrida eleitoral, Bolsonaro – já líder das pesquisas – convidou os principais articuladores de sua campanha para discutir estratégias de atuação. Foi jantar com eles em uma filial do Habib’s. “O curioso é que ele sempre teve uma vida muito simples. Nunca me transmitiu um sentimento de inveja ou complexo por ar-condicionado, tapete vermelho, iates, vida luxuosa. Esses valores não batem com ele”, diz o deputado federal, que garantiu a sigla para a eleição do novo presidente.

Nascido em março de 1955, Bolsonaro ganhou o nome de Jair em homenagem ao boleiro Jair Rosa Pinto, que jogou no Palmeiras nos anos 1950. O time do coração do presidente venceu o último campeonato brasileiro, no início de dezembro, e permitiu ao Jair recém-eleito erguer a taça no estádio Allianz Parque, em São Paulo.

Natural de Glicério, município do interior paulista, Bolsonaro é filho de Olinda Bonturi e de Percy Geraldo Bolsonaro. O pai era dentista prático, militante do MDB e, segundo reportagem do jornal O Globo, foi fichado e monitorado pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), durante o regime militar.

O jovem Jair, porém, se encantou pelo Exército aos 15 anos, quando, em 1970, militares chegaram ao Vale do Ribeira, no sul de São Paulo, para perseguir o guerrilheiro comunista Carlos Lamarca. Ele e outros jovens se embrenhavam na mata em busca dos guerrilheiros. Embora Lamarca só tenha morrido em 1971, na Bahia; o período fez o agora presidente passar a admirar a carreira no Exército. Em 1973, Bolsonaro ingressou na conceituada Academia Militar das Agulhas Negras (Aman).

Mas a sua passagem pelo Exército foi conturbada. Nos anos 1980, praticou garimpo de ouro manual, na Bahia, durante as férias. Uma ficha produzida pelas Forças Armadas o descreveu com uma “excessiva ambição em realizar-se financeira e economicamente” e “deu mostra de imaturidade” ao ser atraído pelo garimpo. Em 1986, escreveu um polêmico artigo para a Revista Veja criticando o baixo soldo dos militares. No ano seguinte, a revista publicou uma reportagem em que dizia que Bolsonaro planejava explodir bombas de baixa potência em banheiros da Vila Militar do Rio de Janeiro e da Aman em outros quartéis, em um protesto contra os baixos salários. Em 1988, o Superior Tribunal Militar o absolveu por insuficiência de provas. No mesmo ano, ele foi para a reserva como capitão, aos 33 anos.

Entre 1989 e 1991, foi vereador do Rio de Janeiro pelo PDC. Desde então, assumiu como deputado federal passando por partidos tradicionais como PP, PTB, PFL e PSC antes de ingressar no PSL. Segundo o site da Câmara Federal, apresentou 642 proposições. Aprovou uma emenda que mudou o título do trecho da Constituição que fala sobre os militares e uma lei que autorizava o uso do composto conhecido como “pílula do câncer”, cuja eficácia é contestada por instituições como o Instituto do Câncer de São Paulo.

Enriqueceu na política

Em reserva, deputados federais pernambucanos descrevem Bolsonaro como um parlamentar reservado, pouco afeito as amizades do Congresso Nacional, mas que era muito simpático quando tentava amealhar assinaturas para projetos e requerimentos. Atuou sempre no baixo clero, mas se notabilizou por declarações polêmicas sobre mulheres, negros e a população LGBT. Era um aguerrido defensor dos temas que lhe eram caras, como a situação financeira dos militares e contra pautas da militância gay. Em fevereiro de 2017, teve quatro votos ao se candidatar à presidência da Câmara.

“Não convivi de maneira próxima com o presidente eleito Bolsonaro, não tive relação próxima. O que eu posso falar é menos da pessoa, do ex-parlamentar, e mais da minha expectativa em relação ao novo governo, porque todo brasileiro torce para que esse governo possa dar certo. Essa é a minha expectativa, de que ele possa cumprir alguns compromissos que assumiu, que o Brasil possa completar essa agenda de reformas que é tão necessária, acho que precisa ainda que ele explicite melhor alguns compromissos em relação ao tema, por exemplo, do desenvolvimento regional, é preciso saber qual o tipo do compromisso que o governo terá também com obras estruturantes da região Nordeste”, descreve o senador Armando Monteiro (PTB), que foi deputado federal quando Bolsonaro estava filiado ao PTB.

No mandato, Bolsonaro enriqueceu. Declarou R$ 433,9 mil à Justiça Eleitoral em 2006. Afirmou ter R$ 826,6 mil em 2010. Sua renda cresceu ainda mais durante o governo Dilma Rousseff (PT). Saltou para R$ 2 milhões em bens em 2014. E declarou R$ 2,2 milhões na disputa de 2018. É dono de cinco imóveis, várias ações e quatro automóveis, incluindo uma Land Rover.

Na campanha, arrecadou R$ 4,3 milhões. A maior parte do dinheiro, 84,94%, veio de financiamento coletivo. Na corrida eleitoral, gastou R$ 2,4 milhões. Prometeu doar a sobra de campanha para a Santa Casa de Juiz de Fora, onde foi atendido após ser esfaqueado durante um ato de rua no dia 06 de setembro.

Bolsonaro é pai de cinco filhos. Três deles (Flávio, Eduardo e Carlos) estão na política. O quarto, Renan, já demonstrou interesse em seguir a carreira política, segundo o site do pai, Jair. A mais nova, Laura, de 7 anos, é a xodó e foi descrita pelo novo presidente como uma “fraquejada”. É casado com Michelle Bolsonaro, a terceira esposa.

Gosta de comer pão com leite condensado e de jogar videogame com óculos de realidade virtual. Na sala de casa, tem três espadas e um adesivo de arma pintado na parede. Em seu gabinete no Congresso, mandou afixar na parede as fotos dos cinco presidentes da ditadura militar: Humberto Castello Branco, Arthur da Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo. Pelos próximos quatro anos, fotos de Jair Bolsonaro estarão expostas nas repartições públicas federais.

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