CRÍTICAS

'Vocês são canalhas, patifes. Não são patriotas', esbraveja Bolsonaro em resposta à reportagem da Globo

Nesta terça-feira (29), o Jornal Nacional divulgou que um dos suspeitos da morte de Marielle Franco se reuniu com outro no condomínio de Jair Bolsonaro (PSL) antes do crime e, ao entrar, alegou que ia para a casa do presidente

JC Online e Estadão Conteúdo
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Publicado em 29/10/2019 às 22:29
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Nesta terça-feira (29), o Jornal Nacional divulgou que um dos suspeitos da morte de Marielle Franco se reuniu com outro no condomínio de Jair Bolsonaro (PSL) antes do crime e, ao entrar, alegou que ia para a casa do presidente - FOTO: Reprodução de vídeo
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Após o Jornal Nacional divulgar que um dos suspeitos da morte de Marielle Franco se reuniu com outro no condomínio de Jair Bolsonaro (PSL) antes do crime e alegou que ia para a casa do presidente, o pesselista fez uma transmissão ao vivo nas redes sociais, acusando a Rede Globo de perseguição e fazendo uma série de críticas à emissora.

Vocês são canalhas, patifes. Não são patriotas", esbravejou Bolsonaro em um dos trechos da live, a partir de Riad, na Arábia Saudita, onde encerra o giro pela Ásia e Oriente Médio.

No momento de pico, a transmissão, que durou pouco 23 minutos, estava sendo acompanhada por 107,4 mil pessoas.

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"Fazem a narrativa da reportagem que eu teria sido um dos mentores da morte da vereadora Marielle franco. A Globo diz que minha digital estava em Brasilia, não nega, mas sempre deixa a suspeita no outro lado da ponta", afirmou Bolsonaro.

O chefe da Nação também acusou a Globo de perseguir sua família. "Globo, vocês não prestam, vocês esculhambam minha família 24 horas por dia. É uma canalhice que vocês fazem".

"TV Globo, vocês não têm juízo. Parem de trair o Brasil. Acabou a mamata. Não tem dinheiro público para vocês. Acabou a teta. Eu aguento a porrada, mas fico revoltado quando pegam filhos meus, parentes meus, pessoas que estão ao meu lado. Isso é uma patifaria, TV Globo. Eu não deveria perder a linha, sou presidente, mas confesso que estou no limite com vocês. Se o Brasil der errado, todo mundo vai para o espaço".

Em meio aos protestos que ocorrem em países da América do Sul, Bolsonaro também insinuou que a Globo quer inflamar a população contra ele.

"Será que a Globo quer criar um fato, uma narrativa de que o povo deveria ir às rua para eu me afastar?", questionou.

Sobre a renovação da concessão da emissora, o mandatário disse que não haverá perseguição. "Por que TV Globo e revista Época, essa patifaria? É uma coisa que não dá para definir. Deixe eu governar o Brasil. Vocês perderam. Vocês vão renovar a concessão em 2022, não  vou persegui-los, mas se o processo não estiver limpo, não haverá processo de renovação", afirmou.

O presidente também afirmou que resistirá. "Nós vamos resistir. A verdade está do meu lado. Eu quero servir a minha pátria como presidente da República".

No Twitter, ele publicou uma montagem onde a marca da Rede Globo aparece como um esgoto.

Acusação a Witzel

Na mesma transmissão onde fez uma série de críticas à reportagem da Rede Globo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) acusou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de ter divulgado as informações do caso Marielle Franco para a emissora.

"Senhor Witzel, o senhor só se elegeu governador porque ficou o tempo todo colado ao meu filho Flávio. Ao chegar à presidência (sic), a primeira coisa que fez foi se tornar inimigo dele. Por que? Para concorrer à eleição presidencial em 2022, mas, para chegar lá, ao que tudo indica, tem que destruir a família Bolsonaro, destruindo o que temos de mais sagrado, que é a nossa conduta de combate à corrupção, de honestidade", disse o presidente.

Bolsonaro nega que tenha motivo para matar alguém

O presidente Jair Bolsonaro(PSL) também afirmou que não deve nada a ninguém e que "não tinha motivo nenhum para matar quem quer que seja no Rio de Janeiro". Bolsonaro usou a live para responder à reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo, veiculada pouco antes, que afirmou que um suspeito da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) visitou o condomínio onde ele mora no Rio no dia do crime. "Nós vamos resistir, a verdade está ao meu lado", afirmou o presidente.

Ainda na live, realizada em Riad, na Arábia Saudita, onde está em viagem oficial, Bolsonaro atacou o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC). O presidente acusou o antigo aliado de ter vazado o inquérito sobre Marielle, que "está em segredo de Justiça". Bolsonaro acusou o governador do Rio de querer "destruir" a sua família para "chegar à Presidência da República". "Por que essa sede pelo poder, senhor governador Witzel?", questionou.

Durante toda a transmissão, realizada durante a madrugada saudita, Bolsonaro mostrou-se bastante irritado, falou em tom exaltado e conteve o choro ao menos uma vez. Ele disse estar à disposição para falar com a polícia na investigação sobre a morte de Marielle. "Eu gostaria muito de falar neste processo, conversar com esse delegado", disse. Bolsonaro afirmou que, "pelo que tudo indica", o processo sobre a morte de Marielle está "bichado" e pediu ao Conselho Nacional do Ministério Público que "supervisione o processo".

Repercussão no Twitter

Logo após o Jornal Nacional divulgar que um dos suspeitos da morte da vereadora Marielle Franco, em março de 2018, no Rio de Janeiro, se reuniu com outro no condomínio de Bolsonaro, o Twitter ficou em polvorosa com acusações, ataques e memes. Todos queriam saber quem, de fato, teria atendido o interfone da casa 58, onde reside Jair Bolsonaro. Às 23h50 desta terça-feira (29), #QuemEstavaNaCasa58 estava entre os assuntos mais comentados da rede social, com 38,9 mil menções, reunindo tuítes de críticos do presidente.

Entenda o caso

Registros da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, no Rio, onde mora o presidente Jair Bolsonaro, apontam que Élcio de Queiroz, um dos suspeitos de envolvimento na morte da vereadora Marielle Franco, entrou no local no dia do assassinato, em 14 de março de 2018, dizendo que iria para a casa do então deputado. A informação foi veiculada pelo Jornal Nacional, da TV Globo. Os registros de presença da Câmara dos Deputados, no entanto, mostram que Bolsonaro estava em Brasília e que postou vídeos no Legislativo no mesmo dia.

Como houve citação ao nome do presidente, a lei obriga o Supremo Tribunal Federal (STF) a analisar a situação, afirma a reportagem do JN.

No mesmo condomínio, mora o principal suspeito de matar Marielle, Ronnie Lessa. De acordo com a reportagem, no dia do crime, o porteiro escreveu às 17h10 o nome do suposto visitante, Élcio, os dados do automóvel que ele dirigia - um Logan, placa AGH-8202 - e a residência para a qual ele iria, a de número 58. Élcio é apontado pela polícia como o motorista do carro usado no crime. A casa 58 do condomínio consta como sendo a de Bolsonaro no registro geral de imóveis. O presidente também é proprietário da casa 36, onde mora um dos filhos, o vereador Carlos Bolsonaro (PSL).

Segundo a reportagem, o porteiro contou à polícia que depois que Élcio se identificou, interfonou para casa 58 para confirmar se o visitante tinha autorização para entrar e que identificou a voz de quem atendeu como sendo a do "seu Jair".

Segundo o teor das declarações do porteiro à polícia apuradas pela reportagem, ele acompanhou a movimentação do carro de Élcio após a entrada e notou que o visitante se dirigiu à casa 66 - e não à 58 - do condomínio, onde morava Ronnie Lessa, apontado pelo Ministério Público e polícia como autor dos disparos contra Marielle. "Fontes disseram à equipe de reportagem que os dois criminosos saíram do condomínio dentro do carro de Ronnie Lessa, minutos depois da chegada de Élcio, e embarcaram no carro usado no crime nas proximidades do condomínio", diz a reportagem da Globo.

Segundo o JN, a polícia tenta recuperar arquivos de áudio da guarita do condomínio, cujo interfone é monitorado, para saber com quem, de fato, o porteiro conversou naquele dia e quem estava na casa 58.

Com a citação pelo porteiro do nome do presidente, representantes do Ministério Público do Rio foram a Brasília no último dia 17 para fazer consulta ao presidente do STF, Dias Toffoli. Eles questionaram se podem continuar com investigações, uma vez que o nome de Bolsonaro foi mencionado. Toffoli ainda não respondeu.

O advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, contestou o depoimento. Ele ressaltou que o presidente estava em Brasília no dia do assassinato de Marielle e disse que o depoimento do porteiro é uma "mentira", feita para atacar a imagem e a reputação do presidente.

"Afirmo com absoluta certeza que é uma mentira, fraude, farsa para atacar imagem e reputação do presidente", disse Wassef ao JN. "O presidente não conhece o Élcio."

"Talvez, esse indivíduo tenha ido à casa de outra pessoa e, alguém, com intuito de incriminar o presidente, conseguiu um depoimento falso onde essa pessoa afirma que falou com Jair", declarou o advogado à Globo.

 

 

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