Repercussão

Maia fala em 'ameaça à liberdade' e Lula chama de abuso a denúncia contra Glenn

Jornalista foi denunciado pelo MPF no âmbito da Operação Spoofing

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Publicado em 21/01/2020 às 19:44
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Segundo boletim médico divulgado nesta terça, Lula foi medicado com antibióticos por via venosa e encontra-se "clinicamente estável" - FOTO: José Cruz/Agência Brasil
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A denúncia feita nesta terça-feira, 21, pelo Ministério Público Federal de Brasília contra o jornalista Glenn Greenwald causou reações de políticos de diferentes partidos no Twitter. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), classificou a denúncia como uma "ameaça à liberdade de imprensa". "Jornalismo não é crime. Sem jornalismo livre não há democracia", escreveu.

O MPF denunciou Glenn e outros seis investigados no âmbito da Operação Spoofing, que apura invasão e roubo de mensagens de celulares de procuradores da força-tarefa da operação Lava Jato e do então juiz federal Sergio Moro.

>> Glenn Greenwald afirma que denúncia do MPF é 'ataque à liberdade de imprensa'

Procuradoria ressaltou que o jornalista não era alvo das investigações, mas que, durante a análise de um computador apreendido na casa de Walter Delgatti Netto, o "Vermelho", foi encontrado um áudio de um diálogo entre Luiz Molição e Glenn. Uma liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, proibia que o jornalista fosse investigado no âmbito da Spoofing.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também se manifestou e saiu em defesa de Glenn Greenwald, dizendo que o jornalista é "vítima de mais evidente abuso de autoridade contra a liberdade de imprensa e a democracia".

Já o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), compartilhou a notícia da decisão da Promotoria e disse que "quem sabe (Glenn) vai conhecer a cadeia". "Glenn Greenwald sempre disse que adorava o Brasil e queria conhecer o país a fundo. Quem sabe agora vai conhecer até a cadeia... talvez jogar futebol com o Freixo...", postou.

O senador e ex-governador Álvaro Dias afirmou que "Glenn e seus comparsas têm grandes chances de puxar uma longa cana". "Um verdadeiro rosário de crimes praticados. O Glenn Greenwald e seus comparsas têm grandes chances de puxar uma longa cana. Tudo isso com concurso de pessoas e concurso material, várias pessoas praticando vários crimes, e algumas qualificadoras", escreveu Dias.

A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP), jurista e uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma Rousseff (PT), também defendeu a denúncia. "Sugiro àqueles que estão criticando a denúncia ofertada, no DF, a leitura das páginas 52 a 62 do documento, em especial os diálogos", disse.

Esquerda critica

Outros políticos ligados à esquerda se manifestaram com críticas à ação da Promotoria, como os deputados Ivan Valente (PSOL-SP), Sâmia Bomfim (PSOL-SP), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Gláuber Braga (PSOL-RJ), Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PT-PR).

A ex-deputada e candidata à vice-presidente nas eleições de 2018, Manuela D'Ávila (PCdoB) também classificou a denúncia como um ataque à imprensa. "A Polícia Federal após longa investigação declarou que Glenn não cometeu nenhum crime e que agiu com muita cautela. Estamos diante de um forte ataque à liberdade de imprensa!", afirmou.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) - que é ex-juiz federal - considera "muito difícil sustentar juridicamente" a denúncia e a classificou como "terraplanismo jurídico". Já o ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) classificou a ação do procurador como "sem pé nem cabeça".

O também candidato presidencial em 2018 Guilherme Boulos (PSOL) ironizou a denúncia do Ministério Público. "O MPF denunciou Glenn Greenwald. Acusação: fazer jornalismo", afirmou.

ABRAJI SE MANIFESTA

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou nota em que considera a denúncia contra o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept, uma violação à liberdade de imprensa. Greenwald foi denunciado pelo Ministério Público (MPF) nesta terça-feira, 21, por supostamente ter aconselhado um hacker durante a invasão de celulares de autoridades públicas.

Na nota, a associação ressalta que, ao investigar o caso, a Polícia Federal não encontrou indícios de que Greenwald tivesse envolvimento nos crimes. "A conclusão está em relatório da PF de dezembro de 2019", diz a nota.

A Abraji afirma que os diálogos apresentados como provas não confirmam as acusações do promotor Wellington Divino Marques de Oliveira, que assinou a denúncia.

"Em nenhum momento, Greenwald buscou 'subverter a ideia de proteção a fonte jornalística em uma imunidade para orientação de criminosos', como afirma o procurador Oliveira", diz a nota da associação. "O procurador afirma também que Greenwald sabia que Molição e o grupo ainda estavam interceptando conversas privadas, quando conversaram. Mais uma vez, o diálogo transcrito não confirma a acusação."

A associação ainda faz uma apelo à Justiça Federal para que não aceite a denúncia "em respeito não apenas à Constituição, mas à lógica". "É um absurdo que o Ministério Público Federal abuse de suas funções para perseguir um jornalista e, assim, violar o direito dos brasileiros de viver em um país com imprensa livre e capaz de expor desvios de agentes públicos", completa a Abraji.

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