EDUCAÇÃO

Bolsonaro pediu para não ver dados de falha no Enem 2019 por estar de 'cabeça cheia'

''Ele (o ministro da Educação, Abraham Weintraub) queria apresentar para mim os dados. Eu não quis, (estava) com a cabeça cheia'', disse

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Publicado em 03/02/2020 às 21:14
CAROLINA ANTUNES/PR
O ex-ministro da Educação (Abraham Weintraub) e o presidente Bolsonaro - FOTO: CAROLINA ANTUNES/PR
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O presidente Jair Bolsonaro disse nesta segunda-feira (3) que pediu para não ver dados sobre falhas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) por estar com a "cabeça cheia". "Ele (o ministro da Educação, Abraham Weintraub) queria apresentar para mim os dados. Eu não quis, (estava) com a cabeça cheia. Hoje eu saturei. Não conversei", disse o presidente.

Bolsonaro e Weintraub viajaram juntos a São Paulo nesta segunda (3). Em declaração em frente ao Palácio do Alvorada, quando retornou a Brasília, o presidente minimizou as falhas relatadas por milhares de estudantes sobre a prova. "Quase em todos os ano têm problema. Representa menos de 'zero vírgula alguma coisa' o problema", disse ele.

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Falhas no Enem 2019

O MEC divulgou ter identificado erro na correção de 5.974 provas, de 3,9 milhões participantes da última edição da prova. Mais de 175 mil pessoas, no entanto, questionaram as notas que obtiveram, mas não receberam nenhum retorno da pasta.

As falhas na impressão, segundo a explicação da gráfica Valid, resultaram na correção das provas com gabaritos de versão diferente. O primeiro erro teria ocorrido durante a impressão, com os códigos de barra de identificação do gabarito, que relaciona o candidato à cor da prova feita por ele. A segunda falha ocorreu em um sensor de leitura dos cadernos de prova.

O MEC deu explicações técnicas à Justiça para tentar comprovar que a falha em cerca de 6 mil gabaritos não teve "influência significativa" na nota de todos os 3,9 milhões de candidatos.

A nota técnica enviada pelo MEC deixa claro que foram usadas questões no Enem que não haviam sido pré-testadas, algo que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do MEC responsável pela prova, não tinha explicado até então e que pode prejudicar a margem de erro do exame. O órgão também não divulgou os parâmetros de correção de cada questão, como solicitado pela Defensoria Pública da União (DPU), alegando que são informações sigilosas.

A DPU pedia que o MEC comprovasse "documentalmente" que a alteração das correções de 5.974 provas não interferiu na nota das demais em razão da Teoria da Resposta ao Item (TRI) - modelagem estatística usada no Enem e que atribui pesos diferentes para cada questão, divididas em níveis de complexidade. O Inep disse que a calibragem é feita com amostragem de 100 mil participantes, número superior ao de provas com erros. "Não houve descaracterização da amostra, os parâmetros dos itens não sofreram influência significativa em sua calibração e as proficiências dos participantes continuam sendo estimadas com a mesma precisão", diz a nota.

O fato de Inep ter mencionado que houve "calibragem" dos itens indica que houve questões que não foram pré-testadas, algo que faz parte da TRI. Segundo especialistas, o ideal é que a prova feita por meio de TRI seja composta apenas por essas questões pré-testadas.

O Inep tem o costume de usar questões sem pré-teste porque o banco de itens é muito pequeno, problema que se arrasta desde que o Enem se tornou vestibular, em 2009. As questões hoje são elaboradas por professores de universidades federais, a pedido do governo, mas muitas não são consideradas suficientemente boas para selecionar alunos ou têm outros tipos de problemas e precisam ser descartadas. A quantidade total de itens do banco é mantida em sigilo. As informações são do jornal O Estado de S Paulo.

 

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