Entrevista

"Meus personagens são pedaços da História", diz Fernando Moraes

Jornalista e escritor fala sobre os planos de escrever sobre Lula, Jango, ACM e José Dirceu

Paulo Augusto
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Paulo Augusto
Publicado em 01/11/2011 às 0:10
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Autor de inúmeras biografias, Fernando Moraes não se cansa. Aos 65 anos, acabou de lançar um novo livro e tem outros quatro engatilhados. Ele não sabe qual será o próximo – “não dá para errar o cavalo” –, mas conversou com o JC sobre seus trabalhos.

JORNAL DO COMMERCIO – Além do livro sobre o ex-presidente Lula, o senhor tem outros na agulha. Qual será o próximo a ser lançado?
FERNANDO MORAES – Não sei. Evidente que tudo vai depender um pouco das conversas com Lula, porque se a gente chegar numa convergência de interesses... Mas não sei ainda. Tem o do ACM, que não vou escrever agora e não tenho pressa, porque eu tenho o que ninguém tem e ninguém terá: nove anos de gravações com ele. Nos últimos nove anos da vida dele eu devo ter gravado algumas centenas de horas. E isso ninguém tem, nem vai ter. Claro, eu não faria e não farei o livro só com esse material, tenho que ouvir gente, inimigos, desafetos, namoradas, mas seguramente não será agora. Paralelamente a isso tem outras duas histórias correndo, uma biografia do Darcy Ribeiro e uma história não sobre a vida, mas sobre a morte do Jango.

JC –Tem também um livro sobre o ex-ministro José Dirceu?
MORAES – A história com ele é um plano antigo que eu tinha, que foi interrompido pela demissão dele do governo (Lula), depois pela cassação dele na Câmara, que é fazer sua biografia. Cheguei a ir a Cuba com ele, visitar lugares onde ele foi treinado, onde viveu, gente que treinou ele, gente que dava comida... Esse certamente não é para agora. A gente tava trabalhando nisso quando o destino entortou a vida dele pra outro lado e aí a gente suspendeu a ideia. A hora que ele superar, seja qual for o desfecho, vou voltar a falar com ele, com a perspectiva de fazer.

JC – O senhor disse que o livro do Jango é sobre sua morte...
MORAES – A família e algumas outras pessoas têm indícios de que Jango possa não ter tido uma morte natural, que ele possa ter sido envenenado e que não teria morrido de infarto. Então estive com Maria Tereza (viúva do ex-presidente), com a filha, algumas pessoas da família... Mas ainda não tem nada pronto.

JC – ACM, Dirceu, Lula... O que o atrai nesses personagens, tão distintos entre si?
MORAES – Há uma questão comum entre eles. A possibilidade de contar pedaços da história do Brasil que a gente não conhece. Da ótica do ACM, por exemplo, temos um político conservador, que provavelmente terá sido o único político brasileiro que conviveu durante meio século com o poder. Ou como protagonista ou como testemunha, com um pequeno hiato de dois anos, que foi o período em que Itamar Franco foi presidente. Salvo os dois anos de Itamar, de Juscelino até Lula, Antonio Carlos Magalhães conviveu com o centro do poder no Brasil. Agora, se você olhar nesse ponto de vista, você vai ver que os três, cada um deles, dá a possibilidade de contar um pouco a história do Brasil e até mais, se considerar o Jango também. Agora, não sei qual (livro) sairá primeiro. Tenho 65 anos, não dá pra errar o cavalo, tem que montar no cavalo certo.

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