Entrevista

"Se alguém torturou Gregório, não foi o meu pai", diz Marcelo Villocq

Economista, filho do coronel Villocq contesta a versão de que o pai torturou Gregório Bezerra pelas ruas de Casa Forte

Ayrton Maciel
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Ayrton Maciel
Publicado em 10/03/2012 às 0:30
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“A opinião pública fala só por um lado porque os esquerdistas estão no poder”. Um dos quatro filhos do coronel Villocq, o economista Marcelo Villocq, 63, contesta a versão de que o pai torturou Gregório Bezerra (PCB). “Meu pai andou com ele por Casa Forte. Eu vi. Eu estava lá. Agora, tortura, não”. Mas, assinala:  "Se houve tortura, (ele) nunca participou. Agora, como comandante assumia (as responsabilidades) sempre". A seguir, a entrevista ao JC:  

A IMAGEM
“A imagem que ele deixa é a de um legado diferenciado, um legado de honestidade, dignidade e correção. É uma imagem que levaremos (filhos, família) para sempre. O golpe (31 de março de 1964) foi um movimento político revolucionário. Todos os protagonistas, de um lado e de outro, já foram ouvidos. O que passou, passou”.

RODA DA VIDA
“Estamos vivendo um outro momento, um momento democrático. Os que foram cassados estão no poder, estão mandando. E os militares, hoje, estão vivendo modestamente. O meu pai deixou só uma casa. Os que comandaram o regime militar, nenhum deles deixou riqueza. São épocas diferentes. Naquela época (regime militar 1964-1985), a da ditadura, eles (os militares) tinham o poder, mas não se locupletaram do poder. Um exemplo foi o Mário Andreazza (coronel, ministro dos Transportes nos governos Costa e Silva e Emídio Garrastazu. Médici, e do Interior, no governo de João Figueiredo). Não levou nada. Quando morreu (1988, câncer no pulmão esquerdo), os militares se cotizaram na doença dele (transporte de avião do corpo de São Paulo para o Rio de Janeiro). Combateram o comunismo e a corrupção. O comunismo acabou, mas a corrupção hoje é generalizada”.

MODÉSTIA
“Locupletam-se hoje no governo da democracia. Se hoje tem um (ex) presidente (não diz o nome) com um patrimônio de US$ 2 bilhões, é na democracia. Todos os que voltaram com a abertura política, ficaram muito bem: Zé Dirceu, Genoino (José), Arraes (Miguel). E o coronel Villocq viveu modestamente. Os filhos, a família, vivem modestamente. Não somos filiados a partido nenhum. Eu sou um civil, nunca fui militar, sou um economista aposentado da Celpe. O que ele (coronel Villocq) deixou foi um legado de honestidade, correção e dignidade”.

1964
“Aquilo (episódio da prisão e sufrágio em 64) é história. Quando se vai para uma guerra, mata-se para não morrer. Então, numa revolução daquela, tinha que se tomar cautela para não ser vítima. O alvo dos comunistas eram os militares, combater os militares. O meu pai era ligado a Castelo Branco (general Humberto, um dos líderes e primeiro presidente do regime militar), juntamente com Ibiapina (coronel Hélio Ibiapina Lima, depois general, um dos comandantes do IV Exército). Eles deram total segurança, no Estado (Pernambuco), para salvaguardar a ordem pública”.

VERSÃO 1
“A opinião pública fala só por um lado porque os esquerdistas estão no poder. Ele (Gregório Bezerra) foi um sargento que desertou do Exército. Foi um comunista clandestino do PCB, rodou o mundo às custas do partido. Na Intentona (Comunista) de 1935, no 15º RI (Regimento de Infantaria) de João Pessoa, incendiou o quartel, quando (então) morreu um tenente do Exército, companheiro de academia militar do meu pai. Ele (Gregório) nunca foi penalizado. Era um idealista, como meu pai também. Só que um era ‘do bem’, o outro era ‘do mal’”.

VERSÃO 2
“Antes da revolução (golpe de 31 de março), Gregório Bezerra morava a 300 metros lá de casa, na Estrada das Ubaias, em Casa Forte. Ficou escondido por lá una 15 dias antes da revolução. O alvo dele era meu pai. Eu tinha 15 anos, vivia jogando bola na rua, não sabia de nada. Meu pai, num momento de desabafo, andou com ele por Casa Forte. Eu vi. Eu estava junto. Agora, tortura, o cano (escape) da viatura, não. Ele quis mostrar à população quem era Gregório Bezerra. Todo mundo aplaudiu. Gregório matou oficiais, e o que fez foi muito nocivo à religiosidade”.

VERSÃO 3
“Ele (Gregório) já chegou ensaguentado. Quando foi preso, nos canaviais (pela Força Pública, próximo da Usina Pedrosa, em Cortês, Zona da Mata; depois, em Ribeirão, foi tomado pelo 20º Batalhão de Caçadores de Alagoas e um grupo armado pelo usineiro José Lopes de Siqueira Santos), quase era morto. Meu pai era um engenheiro (militar), não era da política, não era de bater. Teve preso político que reconheceu o bom tratamento. Se algum subordinado fez (torturou), não foi com autorização. Se houve tortura, (ele) nunca participou. Agora, como comandante assumia (as responsabilidades) sempre. 

 

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