PT x PT

Os bastidores do enredo que levou João da Costa a desafiar o PT

Reuniões com o estafe, conversas com emissários, resposta ao presidente nacional da legenda. O prefeito conversou muito antes de decidir enfrentar a cúpula

Bruna Serra
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Bruna Serra
Publicado em 03/06/2012 às 0:20
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Ao adentrar o auditório do PT municipal na última quinta-feira (31), o prefeito João da Costa vinha de uma jornada marcada por reuniões, em uma das semanas mais tensas de sua vida política. Nos encontros, mais ouviu do que falou. Porém, naquela tarde ele desfiou por mais de meia hora os motivos pelos quais continuaria na disputa pela indicação do partido para Prefeitura do Recife, diferente do que fizera pouco antes o deputado federal Maurício Rands, que seguiu as orientações do estafe petista e tirou o bloco da rua. Dentre as muitas versões propagadas no tresloucado processo interno do PT recifense, uma delas dá conta de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria elogiado a interlocutores a persistência do prefeito.

Na quarta-feira (30), véspera do discurso, João da Costa estava em despacho interno com a secretária de municipal de Gestão e Planejamento, Evelyne Labanca, quando sua secretária bateu à porta e lhe entregou um papel. Um blog local noticiava a renúncia de Rands, até ali seu adversário para a prévia que seria realizada neste domingo (3). A notícia não lhe causou o espanto que se poderia esperar. Desde que desembarcara no Aeroporto Internacional dos Guararapes, na terça (29), o prefeito já suspeitava da desistência do petista preferido do governador Eduardo Campos (PSB). Segundo um interlocutor, João da Costa não esboçou reação, nem mencionou palavra alguma. Não moveu um só músculo do rosto.

Minutos antes da reunião que se desenrolava com Evelyne Labanca, o prefeito almoçara com o secretário de Governo e Turismo, André Campos, e a deputada estadual Teresa Leitão, a quem confidenciou a pressão exercida para que aceitasse o acordo proposto pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão, de deixar a disputa em favor do senador Humberto Costa, visto como candidato ideal para representar o PT na eleição de outubro.

“Chegamos à conclusão de que era necessária uma análise mais ampla da situação. Por isso, decidimos que deveríamos convocar outra reunião para organizar uma posição”, relembra a deputada Teresa Leitão, recém-integrada ao front de João da Costa.

Terminado o expediente de quarta (30), por volta das 22 horas, o prefeito seguiu para o escritório político de André Campos. A casa fica numa rua discreta de Boa Viagem e já foi palco de grandes debates político-eleitorais. O imóvel pertence à família Campos há muitos anos e lá o ex-governador Carlos Wilson Campos, irmão do secretário, falecido em 2009, fechou inúmeras estratégias políticas. Qualquer que fosse a decisão ali tomada, não admitiria recuo. Além do prefeito e de André, a mesa contava com Teresa Leitão; o ex-presidente estadual do PT Jorge Perez; o presidente municipal, Oscar Barreto; o vereador Osmar Ricardo e Aloísio Camilo. Todas as possibilidades foram analisadas à exaustão.

Em silêncio, o prefeito ouviu de todos que não era mais possível recuar e que precisavam manter a postulação, pois já haviam avançado demais. “Quero tomar uma decisão coletiva”, disse João da Costa aos aliados. Era o momento de enfrentar a Executiva nacional. Passava da 1 hora da madrugada quando o prefeito seguiu para casa, no bairro da Macaxeira. Durante todo o tempo em que o grupo esteve reunido, a militância fez uma vigília em frente à sede da executiva municipal, no bairro de Santo Amaro. Com camisas e bandeiras, cantavam a música que se tornou uma espécie de hino da campanha do governador Eduardo Campos em 2006, Madeira do Rosarinho.

Irritados com a proposta da nacional em favor de Humberto, os filiados chegaram a cercar o carro dos observadores do comando petista enviados de São Paulo, causando constrangimento e fazendo o motorista acelerar para evitar confronto

A manhã de quinta-feira (31) começou intensa. Os dois emissários da Executiva nacional foram as primeiras figuras para quem ele disse bom dia. Paulo Frateschi e Vilson Oliveira queriam ouvir o prefeito. Seus apoiadores brincam ao dizer que essa foi a primeira vez que alguém do comando petista se dispôs a ouvir o prefeito. Há, no entanto, quem diga que não é bem assim.

Frateschi perguntou a João da Costa por que as lideranças petistas de Pernambuco não o queriam reeleito. A resposta do prefeito foi direta: “Existem dois polos de poder bem definidos. Não querem que surja uma nova liderança”, teria dito. Os dois polos atendem pelo nome de João Paulo Lima e Silva, seu ex-padrinho político, e Humberto Costa, seu mais novo concorrente.

Terminada a conversa, que reavivou as esperanças do prefeito de ver sua candidatura homologada, ele chegou a um encontro com representantes das principais tendências que estão apoiando sua postulação. Discursou pela enésima vez, destacando os avanços da gestão nas áreas de saúde, educação, habitação, e sobre a importante política de inversão de prioridades que o partido vem desenvolvendo nos 12 anos no comando da capital pernambucana.

Terminado mais esse round, João da Costa telefonou para Rui Falcão e disse: “Não retiro a minha candidatura à reeleição”. Isto posto, encarou o batalhão de jornalistas que o esperavam na sede da Executiva estadual e desabafou, em claro recado aos seus “companheiros”: “Não aceitarei mais achincalhes”.

Na próxima terça (5), o prefeito do Recife terá toda a sua valentia colocada à prova, no que parece ser o último capítulo de uma novela que fez sangrar um partido como poucas vezes foi visto na história política da cidade. A Executiva nacional deverá decidir se homologa a candidatura de João da Costa à reeleição ou se impõe o nome do senador Humberto Costa para o pleito de outubro. Se realmente ocorrer um desfecho, o certo é que será traumático.

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