Rumo a 2014

Roberto Amaral: ''A candidatura do PSB à Presidência está madura''

Em entrevista ao JC, vice-presidente do PSB afirma que o partido está se preparando para as eleições de 2014, inclusive para disputar a Presidência da República

Ciro Carlos Rocha
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Ciro Carlos Rocha
Publicado em 25/08/2013 às 6:41
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Com longa militância política, desde a juventude no Ceará, Roberto Átila Amaral Vieira reorganizou nacionalmente o PSB nos anos 80, junto com nomes como Antônio Houaiss, Evandro Lins e Silva e Jamil Haddad. Partiu dele, inclusive, a articulação para o ingresso de Arraes na legenda, em 1990. Nesta entrevista, Roberto Amaral, vice-presidente do partido, fala do País, de 2014 e do projeto da candidatura do governador Eduardo Campos à Presidência.

JORNAL DO COMMERCIO – Como está o PSB para o projeto 2014?

ROBERTO AMARAL – O partido está se preparando para isso, está se estruturando. Mas, evidentemente, não basta ter um bom candidato. Para uma candidatura à Presidência da República, é fundamental ter um bom candidato, mas não basta isto. Você precisa de estrutura. E, no nosso entendimento, para a estrutura é importante nós termos umas boas nominatas de candidatos a deputado federal e a deputado estadual em todos os Estados. Esta foi a nossa preocupação dessa reunião (semana passada, no Recife). E nessa primeira fase, estamos dando o enfoque ao Sul e Sudeste. Em seis Estados da Federação, você tem cerca de 60 por cento do eleitorado. Nós vamos investir nisto.

JC – O PSB teve uma experiência de campanha presidencial em 2002, com Anthony Garotinho. Que comparativo o senhor faz daquele período com esse agora, com a perspectiva de uma possível candidatura do governador Eduardo Campos?

ROBERTO AMARAL – Primeiro, ali, se eu posso dizer, era uma candidatura operacional. O que eu quero dizer com isso? É que nós estávamos, naquele momento, ameaçados pela cláusula de barreira. Então, o objetivo ali era fazer com que nós alcançássemos a cláusula de barreira e puxássemos, como toda a candidatura presidencial puxa, as nossas bancadas. E nós tivemos excelente desempenho nas eleições proporcionais. Agora, é diferente. De certa forma, o Garotinho era um candidato que saía do Rio de Janeiro, e do PDT, para vir para o PSB. Agora, a expectativa de candidatura é a do Eduardo Campos, que é um quadro dirigente do partido, governador de Estado. Então, não é uma candidatura operacional. É uma candidatura, vamos dizer assim, fundamental, essencial para difundir as ideias do partido e em condições de disputa. É uma candidatura competitiva.

JC – O senhor acha, então, que a candidatura própria do PSB à Presidência, agora, com Eduardo, está madura?

ROBERTO AMARAL – Está madura, é uma candidatura madura, é uma candidatura viável. Agora, nós estamos atentos ao quadro nacional, Nós, por exemplo, hoje, não sabemos quem é o candidato da oposição. Hoje, você não sabe se o candidato (da oposição) é Aécio ou se é Serra. A única coisa certa que nós temos hoje, para análise do quadro, é a certeza da candidatura da presidente Dilma (Rousseff, PT). Esse é o quadro que está aí. A Marina... Não sabemos se a Marina será candidata, não sabemos se a Rede sai, não sabemos se o candidato do PSDB será Serra ou Aécio e muito menos sabemos se os dois sairão candidatos (na hipótese de Serra trocar o PSDB por outra sigla).

JC – Uma candidatura de Eduardo não seria uma candidatura de oposição?

ROBERTO AMARAL – Não, não é em hipótese alguma uma candidatura de oposição. Mas é uma candidatura que promete avançar nas conquistas já alcançadas. Na nossa compreensão, há algumas correções a serem feitas, e nós nos candidatamos a fazer essas pequenas correções, essas correções de curso e aprofundar o governo de uma opção que reúne a opção popular com a eficiência da gestão.

JC – Quais as correções que o PSB apontaria para o governo Dilma?

ROBERTO AMARAL – Por exemplo, uma eficiência bem maior na questão do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento). O PAC, principalmente aqui no Nordeste, está muito lento... Ou uma maior prioridade às questões estratégicas como, por exemplo, o programa espacial brasileiro. Programas estratégicos, isso é um símbolo de alguma coisa que pode se avançar. Mas, fundamentalmente, nós precisamos avançar na eficiência da gestão. Ainda agora, em agosto, a execução orçamentária está muito baixa. Nós precisamos aumentar. Diminuir os investimentos públicos de manutenção da máquina e aumentar o investimento público na economia, o investimento que é produtivo. Nós precisamos cativar a economia. O governo está tentando fazer isso, reativar a economia, sem permitir um retorno inflacionário, por menor que seja. Na minha opinião muito pessoal, se há um valor nacional hoje é a rejeição a qualquer risco de inflação. A população brasileira não aceita e nós precisamos assegurar que isso não ocorrerá. Como também a população brasileira não aceita o não desenvolvimento, o não crescimento. Então, essas duas coisas precisam ser conectadas. Precisamos recuperar a confiança do empresariado na economia brasileira. Se nós não recuperarmos isso de imediato, será muito difícil recuperar também o nível de crescimento. Nós temos um nível de crescimento que melhorou, mas melhorou em termos relativos, nós tivemos um crescimento de 0,9%, estamos com expectativa de 2,7%, 3%... É um avanço relativo, mas muito pequeno para as necessidades do País.

 JC – E a atuação dos ministros do PSB, há correções? Como o senhor avalia?

ROBERTO AMARAL – Eu avaliou bem.

 JC – Mas há atrasos também nas obras, não?

ROBERTO AMARAL – O atraso é geral, o atraso é da maquina estatal. Agora, a imprensa e o próprio governo, o comércio, assustados com as ruas, só falam em reforma política. Nós dizemos que essa reforma política é necessária, mas ela tem que ser feita dentro de uma reforma do Estado. Esse Estado que aí está é um Estado que não atende aos interesses da sociedade, da classe média e das classes D e E. É um Estado montado pela social-democracia para atender aos interesses de um projeto “concentracionista” de renda. Nosso projeto é um projeto de distribuição de renda. Temos que mudar o Estado. É um Estado que não funciona, é um Estado lento, que tem mais órgãos de fiscalização do que órgãos de execução. Então, esse Estado precisa de uma reforma urgente.

 JC – O governo Dilma perdeu tempo nisso?

ROBERTO AMARAL – Todos os nossos governos, não só o dela. O governo Lula também perdeu muito tempo para fazer essa reforma. Eu não sei se nesses dois anos que restam do governo Dilma será possível. Mas isso é uma prioridade. Nós deveríamos estar fazendo isso há dez anos. A grande tragédia é que nos nossos governos – e nós participamos dos governos, os dois mandatos de Lula e o mandato de Dilma –, ao final, era mantido o Estado que (o presidente) recebeu. Nós não fomos capazes, o governo não foi capaz de fazer as reformas estruturais. Nós ainda estamos aguardando essas reformas. Por exemplo, a mencionada reforma do Estado, com a desburocratização, a reforma política, com o financiamento público de campanha, a reforma tributária... O Brasil não tributa muito, e tributa injustamente, quem paga imposto no Brasil é o assalariado, não é o milionário. Essa reforma está aí. Veja que o primeiro gesto do Lula, nos primeiros meses de governo, foi levar ao Congresso Nacional um projeto de reforma tributária. Morreu naquele dia. Ninguém fala em reforma tributária. Os Estados e os municípios estão sendo asfixiados por nosso sistema fiscal, pela concentração de serviços nos Estados e nos municípios e a concentração dos recursos na União. E a cada desoneração fiscal do governo, se ele ajuda este ou aquele setor da indústria ou do comércio, ele afeta a receita dos municípios. Essa questão precisa ser enfrentada.

JC – E essa discussão que o diretório do PSB de São Paulo colocou, de possível entrega dos cargos ao governo Dilma...

ROBERTO AMARAL - Não foi cogitada, é uma posição de São Paulo, não foi discutido, nós não temos razão para isso. A nossa presença no governo (Dilma) deriva de nosso apoio às eleições anteriores. Não tem nada a ver com a nossa postura agora. No momento em que o PSB se decidir a ter candidatura, formular a candidatura, nós vamos discutir isso. Eu quero repetir uma frase do Eduardo Campos: “2014 será tratado em 2014”. Não sei porque essa preocupação com cargos, nós não estamos ocupando esses cargos para utilizar em benefício partidário, nós estamos usando no sentimento de benefício do País. É o exemplo do trabalho do Fernando (Bezerra) Coelho. Então, nós não vamos nos recusar a continuar contribuindo para o sucesso da administração (Dilma). Nós queremos o sucesso da administração. Nós não jogamos no quanto pior, melhor. Quanto pior, pior.

 JC – Que sentimento o senhor tem hoje, no partido, de uma possível candidatura Eduardo à Presidência? É majoritária?

ROBERTO AMARAL – Eu quase que diria que é unânime. Todo o partido sonha em ter uma candidatura própria. Se nós tivermos condições de ter a candidatura própria, nós teremos, e o candidato é o Eduardo.

 JC – O senhor falou, há pouco, que no quadro a única coisa certa é a candidatura Dilma. O senhor acredita na possibilidade de Lula entrar, se a presidente Dilma não segurar ou melhorar sua popularidade?

ROBERTO AMARAL – Pode ser, a sua pergunta reforça a minha resposta. Eu queria tirar mais conclusões. Não adianta, a gente faz política não é com o que a gente sonha, é com os dados da realidade objetiva, o concreto. Dito de outra forma: muita coisa pode alterar-se nos próximos meses. Por que essa pressa agora, nessas decisões, de entrar no governo, sair de governo? Se essa entrevista estivesse sendo feita há dois meses, nós estaríamos dizendo outra coisa. Quem de nós, aqui, eu ou você, previa a erupção das ruas? Quem no Brasil inteiro, além de nós dois, previu essa erupção, previu esse levantamento, esses protestos? Quem de nós sabe quais são as consequências desses protestos? Quem de nós sabe o conteúdo desses protestos? Quem sabe qual será a repercussão disso no plano político? Então, são coisas novas que estão acontecendo e que podem ocorrer. Nós estamos a mais de um ano e meio das eleições, a um ano das convenções. Tem, muita água ainda para rolar. Então, nós temos de ter calma e ter objetivo. O PSB está calmo, está tranquilo. Agora, eu quero deixar claro o seguinte: quem vai estabelecer a pauta e a agenda do PSB é o PSB. O que nós vamos fazer, nós é que vamos decidir. E quando nós vamos fazer, nós é que vamos decidir. Nós não vamos ser pressionados, não vamos ceder a pressões, não vamos alterar o nosso organograma. Nós vamos discutir com os dados concretos. Quanto mais concretos, melhor. E quanto mais fluídos, mais difíceis serão as decisões, mas elas serão tomadas.

 JC – 2014 será um ano de grandes desafios?

ROBERTO AMARAL – Nós sabemos que vamos enfrentar grandes desafios em 2014. E há uma decisão: quaisquer que sejam esses desafios, nós os enfrentaremos. E para enfrentar quaisquer que sejam esses desafios, nós precisamos fortalecer a nossa estrutura político-eleitoral. O que é isso: 1º – A nossa organização, Estado por Estado. 2º – O maior número possível de candidatos. Quem carrega candidatura são os candidatos. Os candidatos estaduais federais, e a majoritária. Nós queremos nos preparar para ter o maior numero possível de candidatos nas majoritárias, seja para governador, que é nossa preferência, seja para vice-governador, seja para o Senado. E nós precisamos – para sermos governo, para sermos oposição, para sermos o que quer que seja – aumentar e muito a nossa atual bancada. Por uma característica da eleição brasileira, o sistema legislativo brasileiro, pela lei eleitoral, a vida dos partidos é determinada pelo numero de deputados. O numero de deputados determina o tempo de televisão (dos partidos), determina o seus recursos do fundo partidário, determina as comissões que você vai ocupar nos Legislativos, determina até o numero de funcionários que você vai ter nas casas legislativas. Então, nós precisamos nos concentrar nisso. E quanto mais candidatos a deputado federal, estadual, e nas majoritárias, maior divulgação você tem da sigla, o que é fundamental, e mais quadros você têm defendendo a nossa candidatura (presidencial). Essa é a nossa estratégia, e é uma estratégia óbvia. Eu não sei porque as pessoas não acreditam.

 JC – Aqui em Pernambuco há uma expectativa em relação ao ministro Bezerra Coelho. Não é a primeira vez que ele aparece como possível candidato majoritário, é um sonho antigo dele, e mais uma vez ele não aparece, digamos assim, como um candidato natural. E, aí, se especula que ele pode deixar o PSB se não for o escolhido...

ROBERTO AMARAL – Eu não consigo imaginar Fernando Coelho fora do partido, ele é um quadro integrado. Eu não vou falar sobre a sucessão em Pernambuco, sou o último a falar, quem fala sobre a sucessão aqui (Pernambuco) é Eduardo. Eu digo que Fernando Coelho é um quadro do partido, um quadro que tem honrado o partido no ministério. Nós estamos satisfeitos com o desempenho dele. Não consigo imaginar por que razões menores ele saia do partido. Agora, a sucessão aqui eu não falo nada, quem fala é o governador Eduardo Campos.

 JC – O senhor conviveu com Miguel Arraes no comando do PSB durante muito tempo, e agora vem convivendo com Eduardo. Que diferenciação o senhor apontaria?

 

ROBERTO AMARAL - Primeiro, tem uma diferenciação geracional. Quem convidou Miguel Arraes para entrar no PSB foi Roberto Amaral. E nós acertamos o ingresso dele em 1989, na manhã do dia seguinte ao comício da Candelária, da campanha de Lula (contra o Collor). Estivemos aqui conversando com ele. Nós já vínhamos conversando. Foi uma conversa entre Miguel Arraes, Jamil Haddad (então senador) e eu. Arraes entrou (no PSB) em 90. Nós reorganizamos todo o PSB. Do grupo que organizou nacionalmente o partido, em 1985, o único sobrevivente sou eu. Fomos eu, Jamil, Antônio Houaiss e Evandro Lins e Silva. Então, quem era (naquele momento) Arraes? Era a nossa vocação para transformar o PSB num partido de massas. Nós tínhamos a tradição de um partido de classe média, um partido de intelectuais, precisávamos romper com isso, e a forma ideal foi o Arraes, que era um quadro da esquerda brasileira, da resistência à ditadura, uma vítima que resistiu, um quadro onde não havia nada contra a administração dele e que nos trazia as massas, como realmente ele trouxe. Eduardo é um processo de consolidação dessa fase. Ele junta essa memória. Embora jovem, ele traz consigo esse pedaço de história, e está associando ao nosso partido uma imagem de sucesso da gestão. Para nós, é muito importante o reconhecimento de Pernambuco à administração de Eduardo. E nós usamos isso para começar a construir o que estamos chamando de o modelo do PSB de governança. São duas fases que se completam.

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