Crise política

"Dilma perdeu governo ao nomear Lula ministro", cravam analistas

Há quem considere que medida foi "renúncia tácita" da presidente

Franco Benites
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Franco Benites
Publicado em 19/03/2016 às 12:05
Helia Scheppa/Acervo JC Imagem
Há quem considere que medida foi "renúncia tácita" da presidente - FOTO: Helia Scheppa/Acervo JC Imagem
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A nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como ministro da Casa Civil foi vista com ressalva por cientistas políticos ouvidos pelo JC. A maioria dos analistas reconheceu a importância política do petista, mas considerou o fato como negativo para a gestão da presidente Dilma Rousseff (PT), considerada como “finalizada”. Entre os estudiosos, há também a avaliação de que a posse do ex-presidente foi uma saída para ele conseguir a transferência de foro e ter seu processo julgado no Supremo Tribunal Federal (STF). 

“É no mínimo engraçado que Dilma coloque no posto mais importante abaixo dela uma político que se gaba de ter eleito ela. Quem vai se submeter a quem? Creio que houve uma renúncia tácita da presidente e ele assume que a pessoa que escolheu para comandar o País não tem competência. Os dois saem perdendo”, afirmou a cientista política Christiane Romeo, do Ibmec. O professor de Filosofia e Ética da Universidade de Campinas (Unicamp), Roberto Romano, é mais duro ao tratar da nomeação de Lula. “Trata-se de um golpe de Estado. Ficou evidente que Dilma não governa e não governará mais. Mas esse golpe começou antes com a interferência de Lula nos ministérios da Fazenda e da Justiça”, disse.

O cientista político Benedito Tadeu Alencar, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), apontou benefícios na ida de Lula para a Casa Civil. “A presença de Lula pode ser o caminho para a superação da crise, que extrapolou o governo e o PT e atinge todos os partidos. Era preciso colocar um ponto de referência para gerar entendimento e o ex-presidente terá condições de cumprir esse papel. Ele vai ser o coordenador político do governo e irá estabelecer diálogo com lideranças do Congresso”, pontuou.

De acordo com o cientista político Adriano Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com Lula no governo Dilma não irá governar mais. “Ela admitiu a sua fragilidade. Teremos um parlamentarismo com o ex-presidente na condição de primeiro-ministro”, enfatizou. Para o cientista político Wagner de Melo Romão, da Unicamp, a petista se viu em uma encruzilhada política. “O convite a Lula é o reconhecimento de Dilma que não tem mais condições de governar. Mas o governo não acabou. Pela experiência do ex-presidente, ele não embarcaria em um navio que não tem mais salvação”, pontuou.

FORO - Para Wagner de Melo Romão, o clima de guerra se estabeleceu de vez entre governo e oposição. “O entendimento de Lula, Dilma e do PT é de que estão dispostos a tudo, inclusive sofrer desgaste por conta dos questionamentos de transferência de foro, para travar o impeachment. Lula é visto como um revólver de um tiro só para salvar o governo do impeachment”, disse.

Para o cientista político Adriano Gianturco, do Ibmec, Lula comprometeu sua biografia. “Ele tinha a imagem de ‘pai dos pobres’ e de um dos melhores presidentes que o Brasil já teve, mas foi para o ministério opara se blindar de uma investigação”, analisou. Essa é o mesmo raciocínio do sociólogo Rodrigo Prando, da Universidade Mackenzie. “Lula tem uma capacidade política ímpar, acima da média, mas por que só agora foi para o ministério? É muito menos por princípios republicanos e mais para conseguir a transferência de foro”, declarou. 

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