Crise política

Realidade do processo de impeachment de Collor não se aplica a Dilma, dizem especialistas

Ambiente político distinto marca diferenças entre o que ocorreu em 1992 e os dias atuais

Franco Benites
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Franco Benites
Publicado em 19/03/2016 às 12:00
Clemilson Campos/Acervo JC Imagem
Ambiente político distinto marca diferenças entre o que ocorreu em 1992 e os dias atuais - FOTO: Clemilson Campos/Acervo JC Imagem
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A ameaça de impeachment que assombrou o ex-presidente Fernando Collor (PTB) em 1992 e hoje paira sobre a presidente Dilma Rousseff (PT) é motivada por razões distintas de acordo com especialistas ouvidos pelo Jornal do Commercio. Para eles, o ambiente político que envolve o pedido de impedimento presidencial contribui para a falta de semelhanças entre o processo sofrido pelo atual senador petebista e pela petista. As diferenças vão desde a acusação levada em consideração para a saída dos presidentes até o peso das figuras políticas nacionais envolvidas na discussão.

Na avaliação do historiador Luiz Antônio Dias, da Universidade de São Paulo (USP), o pedido de impeachment de Collor era mais sólido do que o de Dilma. “Existia uma série de denúncias que atingiam diretamente o presidente, não apenas pessoas ligadas a ele. Com Dilma, o máximo que se tem até agora é que ele supostamente tentou proteger Lula no ministério, mas isso é muito vago e questionável. Não se tem nada concreto”, avalia.

O advogado Jorge da Costa Pinto Neves presidiu a Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE) na época do impeachmet de Collor e também aponta diferenças entre a década de 90 e o momento atual. “O governo tem uma péssima atuação na economia, não tem respaldo político, mas é preciso separar as coisas. Não vejo nada de concreto para se defender o impeachment da presidente. Com Collor, havia”, pontua.

Para o ex-presidente da OAB-PE, no entanto, é preciso sempre estar atento a outros fatos. “A presidente foi infeliz no telefonema com Lula e é algo a se aprofundar, se ela obstaculou a Justiça. Mas o impeachment foi requerido pelas chamadas pedaladas fiscais e não há ilegalidade”, declara.

Já o ex-governador Joaquim Francisco (PSDB), que comandou o Estado quando Collor era presidente, vê um período mais turbulento para Dilma. “As pedaladas agora são algo acessório. Outros fatos foram colocados e podem ser mais graves”, diz. Ele aponta razões para o impedimento do ex-presidente, de quem foi aliado e com quem rompeu posteriormente, ter se desenrolado rapidamente. “Havia uma estabilidade na Câmara  e não existia o fator Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Você também tinha grandes lideranças políticas, como Ulysses Guimarães”, enfatizou.

O ambiente político nacional também é mencionado pelo cientista político Nuno Coimbra Mesquita, da USP. “Em 1992, no impeachment de Collor, você tinha líderes que apontavam o caminho e gozavam de apoio da sociedade”, diz. 

O cientista político Francisco da Fonseca, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é outro a ressaltar   distinção na situação de Dilma e Collor perante o risco de impeachment. “Collor não tinha quem o defendesse, era um outsider praticamente, alguém sem base política. Dilma tem a base do PT para dar suporte e isso precisa ser levado em consideração. O PT deixou um legado social muito importante no País e existem pessoas que vão defender isso nas ruas”, afirma.


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