Homenagem

Marco Maciel ganha sessão solene promovida pela Assembleia Legislativa

Esposa e filho de Marco Maciel representaram o pernambucano durante ato comemorativo

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Publicado em 08/08/2016 às 21:16
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Esposa e filho de Marco Maciel representaram o pernambucano durante ato comemorativo - FOTO: Ricardo Labastiê/JC Imagem
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Os 50 anos de atuação política do ex-senador e ex vice-presidente da República Marco Maciel foram homenageados nesta segunda-feira (8) com uma sessão solene na Assembleia Legislativa. O pernambucano, que hoje vive em Brasília e está afastado da vida pública por conta do Mal de Alzheimer, foi representado no evento pela esposa Anna Marial Maciel e pelo filho João Maurício.

“Foi realmente um homenagem muito bonita. Só tenho a agradecer”, disse Anna Maria, que se emocionou durante o discurso da deputada estadual Priscila Krause (DEM), escolhida para falar em nome da família. Já João Maurício destacou a ligação do pai com o Estado. “Foi uma grande honra para a família e tenho certeza que para ele também. Ele tem uma verdadeira devoção por Pernambuco”, afirmou.

A homenagem a Marco Maciel teve a participação dos ministros Mendonça Filho (Educação) e Bruno Araújo (Cidades) e de quatro ex-governadores. Além de Mendonça, que administrou o Estado por sete meses em 2006, estiveram no ato Gustavo Krause, Roberto Magalhães e Joaquim Francisco. O governador Paulo Câmara (PSB), que está em São Paulo, foi representado pelo secretário estadual das Cidades, André de Paula, que se considera um dos muitos afilhados políticos de Maciel. 

“Foi um  homenagem justa a uma figura pública de dimensão extraordinária. Ele teve uma carreira política exemplar em defesa dos interesses de Pernambuco”, destacou Mendonça Filho. Por sua vez vez, Bruno Araújo disse que Marco Maciel era um visionário. “É um homem além do seu tempo. O Brasil discute reforma política hoje e ele fazia isso há mais de 25 anos. Escrevia e articulava sobre o tema”, defendeu.

A sessão solene da Assembleia Legislativa foi de autoria do presidente da Casa, deputado estadual Guilherme Uchoa (PDT). Ontem, o presidente entregou a Anna Maria Maciel uma placa comemorativa pelos 50 anos de vida política de Marco Maciel e destacou que seu primeiro mandato eletivo foi no Legislativo pernambucano, EM 1966.

Uchoa destacou que Maciel teve uma atuação política sem manchas. “Marco Maciel tem uma carreira política irretocável”, apontou o presidente da Assemblema Legislativa. 

Para André de Paula, a solendiade de ontem foi um reconhecimento necessário ao ex-senador. “Todas as homenagens são oportunas e serão sempre aquém do muito que ele fez por Pernambuco. Ele se doou por inteiro, tinha uma capacidade de trabalho inigualável e fez política a vida toda enquanto a lucidez permitiu”, destacou.

Casada há 50 anos com Marco Maciel, Anna Maria Maciel falou brevemente, no fim da solenidade, e se emocionou bastante durante o discurso de Priscila Krause. A deputada se considerada adeptada do macielismo e ressaltou que falar em nome da família Maciel era um “insuperável emoção”. “Tomo emprestada de meu pai (Gustavo Krause) a mais completa definiação de Marco Maciel: é o ser humano menos imperfeito que conheci em toda minha vida”, declarou.

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TRICOLOR DE CORAÇÃO

Nesta terça-feira, o Santa Cruz Futebol Clube, time de Marco Maciel, fará uma homenagem ao pernambucano. O responsável pelo ato é o ex-presidente do clube, João Caixero. "Vamos homenagear Maciel pelo tricolor que ele é e pelos serviços prestados ao Santa Cruz. Ele participou ativamente da história coral e nunca faltou ao clube, ajudando na ampliação do Arruda", enfatiza.

A homenagem realizada pelo Santa Cruz ocorrerá no anfiteatro localizado no estádio do Arruda e também terá a participação da esposa e do filho de Maciel. O evento começará às 9h da terça porque logo em seguida Anna Maria Maciel e João Maurício viajam de volta para Brasília. 

De acordo com João Caixero, foram convidados dirigentes e torcedores de outros clubes do Recife, como o Sport e o Náutico, e do interior. "Ele tinha amigos em todos os lugares. Fora isso, a homenagem é ao tricolor e também ao pernambucano", relata.

Na ocasião, João Caixero lançará o livro "Santa Cruz de Corpo e Alma", publicação que conta a história do clube e tem passagens dedicadas a Marco Maciel.

DOCUMENTÁRIO

Um documentário produzido pela TV Câmara foi lançado na última sexta-feira para marcar os 50 anos de vida pública do pernambucano. O vídeo foi intitulado 'Marco Maciel: a política do diálogo', tem 44 minutos de duração e ficará disponível no site www.camara.gov.br.

Para produzir o vídeo sobre Marco Maciel, os jornalistas da TV Câmara percorreram Brasília e as cidades do Recife e São Paulo. A maior parte dos documentários produzidos pela Câmara dos Deputados tem depoimento dos homenageados, mas devido ao estado de saúde do ex-senador pernambucano a equipe de documentaristas buscou reconstruir a história dele a partir do depoimento de amigos, familiares e políticos.

Entre os entrevistados, estão Anna Maria, que vive há mais de 50 anos com Marco Maciel, o ex-governador Gustavo Krause e o ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel, pernambucanos, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e José Sarney e o senador Cristovam Buarque. Assessores próximos a Marco Maciel, que trabalharam com ele por décadas, também dão depoimentos.

O documentário da TV Câmara foi intitulado Marco Maciel: a política do diálogo e tem direção e roteiro da jornalista Dulce Queiroz. A edição e finalização é de Felipe da Cunha e Guem Takenoushi. A produção foi de João Gollo e Lia Tavares. A direção de fotografia ficou a cargo de Kátia Coelho e as imagens são de Cícero Bezerra, Ulov Flamínio, Flávio Estevam e Claudio Adriano. A trila sonora orignal é de Alberto Valério. Toda a equipe atuou sob a coordenação do Núcleo de Documentários da TV Câmara, chefiado por Guga Caldas.

ARTICULADOR POLÍTICO

Marco Maciel é considerado pelos aliados como um político que se destaca na articulação política, gentileza no trato e ética com os recursos públicos. "Ele era um estadista. Poderia ser o primeiro-ministro porque trabalhava construindo pontes e tinha a chamada coragem da conciliação, mas era defensor do presidencialismo", afirma o ex-governador Gustavo Krause, afilhado político de Marco Maciel.

Para a presidente da Academia Pernambucana de Letras, Margarida Cantarelli, era fácil trabalhar com Marco Maciel. Ela fala sobre o período em que serviu ao amigo dos tempos da faculdade de Direito no governo estadual. "Ele só fazia duas operações: somar e multiplicar. Não era de impor nada e tinha enorme capacidade para agregar", atesta.

Os aliados de Maciel dizem que a gentileza do ex-senador era natural, fruto de um perfil que misturava erudição, respeito ao próximo e um forte senso de religiosidade. Ele sempe viajava com uma Bíblia nas mãos, rezava o terço nas primeiras horas de qualquer viagem e não perdia uma missa onde quer que estivesse. 

Outra característica de Maciel enquanto foi atuante em Brasília oi Pernambuco era encarar a política de maneira profissional. Isso significava se indispor com o menor número possível de pessoas e somente se fosse inevitável para deixar o máximo de portas abertas.

"É comum na política que seja tudo para o aliado e nada para o adversário. Mas ele não era assim. Quando ia para um comício em alguma cidade, dizia que não podia deixar de acomodar as outras lideranças. Pensava em todos os detalhes. Era um político profissional nesse sentido", conta o secretário das Cidades de Pernambuco, André de Paula, outro afilhado político de Maciel. 

De maneira prática, esse profissionalismo se manifestava nas respostas a lideranças políticas assinadas à mão, no envio de cartões de aniversário e Natal com mensagens pessoais e em outros gestos. "Quando perdi minha primeira eleição, ele me ligou e me deu uma palavra de conforto mesmo sem eu ser do partido dele", relembra André Régis (PSDB), hoje vereador do Rercife.

Os elogios vêm também de ex-adversários. "Ele fazia política de maneira elevada, não cometia agressões", enfatiza o senador Humberto Costa (PT), que venceu Maciel nas eleições de 2010.

LIGAÇÃO COM OS MILITARES

A ligação de Marco Maciel com os militares sempre foi usada por seus adversários como uma fote de críticas ao currículo macielista. Em 1977, quando o então presidente Ernesto Geisel fechou o Congresso com o chamado Pacote de Abril, Maciel era filiado à Arena e presidia a Câmara dos Deputados. 

"É evidente que a iniciativa dos militares contou com a convivência ou mesmo o apoio dele", diz o cientista político Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco. 

Para os aliados de Maciel, é um erro apontá-lo como conservador devido à relação com os militares. "Ele era um liberal", diz Guilherme Codeceira, seu assessor por três décadas. 

Ex-secretário estadual da Casa Civil quando Maciel governou Pernambuco, a desembargador e presidente da Academia Pernambucana de Letras, Margarida Cantarelli, também defende aliado. "Ele não estava contamiando pelo regime. Foi importante que tivesse alguém do ponto de vista moral dele para fazer a ponte com a sociedade', diz.

O ex-governador Gustavo Krause afirma que Maciel teve papel importante na redemocratização do Brasil e nas costuras políticas que levaram à escolha do civil Tancredo Neves para presidir o País. "Ele foi um artífice da democracia, principalmentenos momentos mais duros. Tinha capacidade de conviver com a divergência e sempre buscou consensos", podenra.

A declaração de Krause é reforçada pelo cientista político Túlio Velho Barreto. "Maciel teve um importante papel no processo da 'chamada 'transiççao pactuada', feita a partir de acordos entre os reformadores do regime militar e a oposição moderada", opina.

Para Túlio Velho Barreto, Marco Maciel soube aproveitar as chances surgidas durante o regime milita e em seguida teve habilidade e capacidade de articulação para se impulsionar politicamente. "Ele foi o mais importnate líder político da direita e dos segmentos conservadores em Pernambuco na segunda metada do século 20", avalia.

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