Governador do Estado em 2008 e principal liderança do PSB, Eduardo Campos ajudou o PT nas eleições municipais daquele ano e indicou o hoje secretário estadual Milton Coelho para posto de vice de João da Costa. Quatro anos depois, petistas e socialistas já não falavam a mesma língua e se enfrentaram nas urnas em uma disputa eleitoral que culminou no fim de um ciclo de 12 anos do PT à frente da capital e abriu um fosso imenso entre os dois partidos no Recife.
As articulações para a candidatura do PSB foram feitas diretamente por Eduardo. Em 12 de junho de 2012, ele comunicou oficialmente o fim da aliança em uma coletiva no Palácio do Campo das Princesas. A alegação era de que as brigas internas do PT haviam fragmentado a Frente Popular e que era preciso agir para evitar que o “campo das esquerdas” perdesse as eleições.
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Como primeiro passo para a candidatura própria do PSB, Eduardo exonerou quatro secretários estaduais filiados ao partido: Danilo Cabral (Educação), Geraldo Julio (Desenvolvimento Econômico), Sileno Guedes (Articulação) e Tadeu Alencar (Casa Civil).
Funcionário concursado do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE), Geraldo foi apresentado como a aposta do PSB no dia 20 de junho em uma carta pública endereçada a todos os partidos da ampla coligação encabeçada pelos socialistas e que tinha a participação do PT. Ele foi apontado por Eduardo como um técnico eficiente, que poderia fazer a diferença na prefeitura do Recife.
“Naquele momento, o Recife pedia um perfil que pudesse fazer uma mudança que a cidade precisava, que ia exigir um novo caminho e novas realizações. O conjunto da Frente Popular entendeu que minha história, formação e experiência se encaixavam melhor naquele momento. Todos os companheiros que foram colocados (como possíveis candidatos) têm muita habilidade, talento e história, mas o meu nome foi o que mais se adequou ao momento”, diz Geraldo Julio, hoje candidato à reeleição.
Antes de Eduardo referendar o nome de Geraldo, que havia sido secretário estadual de Planejamento no início do seu governo, o ex-presidente Lula (PT) tentou convencer o governador a manter a aliança com os petistas. A negativa dada a Lula e o projeto eleitoral do PSB no Recife foram vistos pelos petistas, tempos depois, como uma atitude calculada por Eduardo para pavimentar uma futura candidatura à presidência da República contra o PT.
“O conflito do PT abriu uma janela para o PSB dar continuidade à narrativa da ‘nova política’ ao apresentar um candidato como algo novo. Provavelmente, esse cenário, naquele momento, não estava associado a um plano futuro de Eduardo vir a disputar a presidência da República. Muito provavelmente, o foco estava no plano estadual e na disputa de espaço com o PT”, analisa o cientista político Juliano Domingues, da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).
Para o cientista político Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco, Eduardo soube jogar com o desentendimento interno dos petistas. “A briga do PT contribuiu decisivamente a criar todos os problemas. Não que Eduardo Campos não viesse com nenhum candidato disputar a eleição. Qualquer motivação Eduardo encontraria para ter um candidato naquele momento, porque fazia parte do projeto político dele. Ele recuperou a hegemonia no PSB no Estado”, avalia.