ELEIÇÕES 2016

Três pernambucanas tiveram desafio duplo nas últimas eleições

Mulheres venceram disputas em cidades de Pernambuco e venceram mais do que a falta de representação feminina

Veronica Almeida
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Veronica Almeida
Publicado em 07/11/2016 às 6:55
Foto: Nelson Jr./ASICS/TSE
Curso pretende capacitar candidatas para as eleições municipais de 2020 - FOTO: Foto: Nelson Jr./ASICS/TSE
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Três pernambucanas tiveram desafio duplo ao alcançar boa votação nas últimas eleições. Além de serem minoria entre os homens, a professora Maria Regina Cunha, em Itaíba, a parteira Maria José Galdino da Silva, em Caruaru, e a professora e liderança indígena Edilene Bezerra Pajeú, de Cabrobó, tinham obstáculos extras.

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A primeira venceu forte grupo político que liderava na cidade por duas décadas. Zezé tornou-se a única representante das parteiras rurais num legislativo municipal no País, e Edilene, chamada também Pretinha entre seu povo, ainda luta pela única vaga de indígena entre vereadores na sua cidade. Tem votos suficientes para ocupar a penúltima cadeira da Câmara Municipal, mas trava batalha jurídica para manter o registro de candidatura questionado em razão do período em que se afastou da escola para se dedicar à campanha.

“Meu caso está no Tribunal Superior Eleitoral. Fui impugnada pelo Ministério Público por causa do prazo de desincompatibilização”, explica. Edilene, 41, que concorreu como Pretinha Truká pelo Partido Verde e vive na Ilha de Assunção, no Rio São Francisco, a 489 quilômetros do Recife, com os mais de cinco mil trukás. É formada em licenciatura intercultural pela Universidade Federal de Pernambuco e trabalhava em escola indígena num contrato temporário com o Estado, como os demais professores indígenas.

Ela conta que pediu afastamento no dia 1º de julho, três meses antes do primeiro turno como previa a legislação eleitoral, mas só foi afastada pelo Estado vinte dias depois. “A assessoria jurídica da Secretaria de Educação alegava que eu não precisava me afastar”, diz. Ela se envolveu em outra polêmica ao publicar foto de crianças com cartazes contrários a PEC do Teto dentro de uma escola pública estadual.

A candidatura de Pretinha foi uma decisão da comunidade. “Já é um desafiogrande um indígena se candidatar a um cargo político. Ser mulher, então, multiplica a dificuldade”. Antes de Pretinha, Maria das Dores dos Santos, Dorinha Pankará (PP), em Carnaubeira da Penha, tornou-se vereadora em 2012. Concorreu mais uma vez este ano e ficou na suplência. 

Referências

Maria Regina Cunha (PTB), 46, professora em Itaíba, a 331 quilômetros do Recife, já foi secretária municipal de saúde,quando compôs a equipe do então marido, prefeito Marivaldo Bispo, aliado do antecessor Claudiano Martins. A aliança política acabou, assim como o casamento. Mas a carreira prosseguiu. Tornou-se vereadora, praticamente a única oposição ao prefeito Juliano Martins (PP), e acabou se elegendo para substitui-lo. “Passei 45 dias visitando o município, comunidade por comunidade. Foi uma vitória incrível. As pessoas conheciam o meu trabalho”. Ela venceu o atual prefeito Juliano Martins (PP), com 7.131 votos.

A agente de saúde Zezé Parteira (PV), 59, do Sítio Barra de Taquara de Cima, mãe de 15 filhos, ajudou a trazer ao mundo duas mil crianças. Entrou para a política este ano pressionada pela comunidade e tornou-se a única mulher entre os 23 eleitos em Caruaru para vereador. Credita o sucesso a Deus – “gastei só R$ 20”– mas tem consciência de que foi eleita pela gratidão do povo que vive longe da cidade. “Tenho que lutar em favor da Zona Rural, das mulheres, das crianças e das 60 mil parteiras comunitárias espalhadas pelo Brasil”.

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