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Carnaval e política andam lado a lado

Folião aproveita o momento de festa para criticar, de maneira irrevente, seus governantes

Mariana Araújo
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Mariana Araújo
Publicado em 26/02/2017 às 7:33
Foto: Ricardo B. Labastier
Folião aproveita o momento de festa para criticar, de maneira irrevente, seus governantes - FOTO: Foto: Ricardo B. Labastier
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O presidente Michel Temer (PMDB) estará no carnaval de Pernambuco. A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) também, assim como o ex-presidente Lula (PT) e o ex-deputado federal e ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB). E é possível que o folião encontre todos lado a lado. Claro que não se trata das personalidades políticas “em pessoa”, mas de máscaras confeccionadas com os seus rostos. Num dos principais pontos de vendas de fantasias de carnaval no Recife, a Comercial Cabus, os três personagens estão esgotados.

Tradicional crítica do folião, as máscaras tiveram uma grande saída este ano. “Teve um grupo de amigos que levou uma de cada, para fazer o Bloco dos Corruptos. Muita gente comprou a máscara de Lula e a fantasia de presidiário”, disse a gerente da loja, Roseli Assis. Trabalhadora da casa há 30 anos, ela afirma que as máscaras de políticos sempre são sucesso no Carnaval. Apenas de Temer, a loja pediu 120 máscaras.

A loja tinha máscaras do ex-presidente da Venezuela Hugo Chavez, o deputado federal Tiririca (PR-SP), o ex-ministro Antonio Palocci, o ex-governador Eduardo Campos, a ex-senadora Marina Silva (Rede), o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), o ex-governador do Rio Sérgio Cabral e o policial federal Newton Ishii, conhecido como “Japonês da Federal”. 

Outro personagem que fará sucesso é o presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Na loja Mana Festas, as máscaras de papel do norte-americano estão esgotadas, assim como do presidente Michel Temer e da ex-presidente Dilma Rousseff. “Saiu tudo para as Virgens”, disse o sócio d loja, Átila Romero.

Dilma e Temer também estão lado a lado na Embaixada dos Bonecos Gigantes, um espaço na Rua do Bom Jesus, no Recife Antigo. Mas, este ano, os personagens não irão às ruas. “Desde 2014 que o boneco de Dilma foi bastante vaiado. Com essa polarização política mais forte, a gente quer evitar que algum oportunista use o desfile a favor ou contra para fazer alguma manifestação”, disse o organizador do espaço, Leandro Cardoso. Ele explicou que não faz os bonecos com conteúdo caricato, apenas como homenagem. E toda vez que há a troca de um presidente, um boneco é feito. 

Entre os 80 bonecos que irão desfilar no Recife e em Olinda, do mundo político há, ainda, a “elite” da Lava Jato, com o juiz federal Sérgio Moro, o policial Newton Ishii e os procuradores do Ministério Público Deltan Dellagnol e Carlos Lima. A eleição de Trump também será lembrada: o novo presidente norte-americano também ganhou sua versão carnavalesca.

BLOCO 

Se, por um lado, os foliões fazem suas críticas isoladas, o bloco Eu Acho é Pouco, que este ano completa 40 anos, cravou sua crítica no dragão gigante que é levado pelo público. O tecido que reveste a alegoria ganhou a frase “Fora Temer”. No ano passado, em atos pró-Dilma, o bloco esteve presente. “Não tem nenhuma novidade. Temos uma visão mais progressista de que esquerda que está no DNA do bloco. O bloco não tem partido político, mas sempre tivemos visões para políticas focadas na população mais pobre”, disse um dos organizadores, Guilherme Calheiros.

O cientista político e professor das faculdades Damas e Estácio, Elton Gomes, lembra que a sátira política no Carnaval não é nova, vem desde os entrudos, no reinado de Dom Pedro II. “De alguma maneira, no Brasil, os festejos populares, principalmente o carnaval, que é transgressor e questiona a ordem, ele tem servido para manifestar a insatisfação popular”, explicou. “Existe um certo padrão, de maneira cíclica, que os cidadãos tendem a satirizar as suas autoridades governantes”, acrescentou.

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