Entrevista

Marina Silva sobre Joaquim Barbosa: engrandece qualquer partido

Porta-voz nacional da Rede, a ex-senadora garante que nunca convidou o ex-ministro do STF para se filiar ao partido

Franco Benites
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Franco Benites
Publicado em 22/07/2017 às 13:00
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Porta-voz nacional da Rede, a ex-senadora garante que nunca convidou o ex-ministro do STF para se filiar ao partido - FOTO: Divulgação
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Candidata à presidência da República em 2014, a ex-senadora Marina Silva (Rede) analisa o cenário político do País e não poupa críticas a Michel Temer (PMDB), aos ex-presidentes Lula (PT) e Dilma Rousseff (PT) e ao senador Aécio Neves (PSDB-MG). Para Marina, foram os partidos dessas lideranças políticas que levaram o Brasil “para o buraco”. Em conversa com o repórter Franco Benites, a ex-senadora defendeu o juiz Sérgio Moro, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e a Lava Jato. Sobre a eleição de 2018, Marina diz que ainda não decidiu se será candidata. Veja, aqui, a primeira parte da entrevista.

JORNAL DO COMMERCIO – Tem algo acertado para que Joaquim Barbosa se filie à Rede?

MARINA – Conversei com ele sobre o momento dramático que o País está vivendo, mas não tratei de filiação. O ministro Joaquim Barbosa é uma pessoa relevante, deu uma grande contribuição para o Brasil e continua dando. Com certeza será muito bem-vindo na cena política brasileira tão carente de pessoas que possam ajudar a melhorá-la. Mas, até por respeito a sua contribuição e a sua estatura, essa decisão é uma que ele próprio vai tomar. Mas não há dúvidas de que pessoas como ele e Ayres Britto (ex-presidente do STF) são personalidades da nossa vida pública que engrandecem qualquer partido.

JC – A senhora está satisfeita com a atuação da Rede no Congresso?

MARINA - A Rede é um partido pequeno, temos apenas dois anos de idade e conseguimos o nosso registro a duras penas porque houve uma série de manobras para impedir isso. Só conseguimos o nosso registro depois que o PT, PMDB, PSDB e seus satélites mudaram a legislação para que diminuísse o nosso fundo partidário, o nosso tempo de televisão e a possibilidade de participar dos debates. A Rede é o 28º partido em fundo partidário, tem apenas 12 segundos de televisão e, segundo os critérios que aprovaram para participar de debates, se precisará de nove deputados e a Rede só tem quatro. Mesmo assim, temos uma atuação com nossos deputados. Fomos nós que tomamos a iniciativa em relação à cassação do Delcídio do Amaral e do Eduardo Cunha e que entramos no Conselho de Ética com o pedido de averiguação da cassação do senador Aécio Neves. A Rede tem dado a sua contribuição, mas obviamente o que queremos é melhorar a qualidade da política. A nossa escolha nunca foi de quantidade e sim de qualidade. Nunca nos fixamos em eleição por eleição. Pensamos no que é melhor para o município, para o estado, para o País. Somos um partido plural, diverso.

JC – A Rede vai apoiar a reeleição do governador Paulo Câmara?

MARINA – Contribuímos com o governo com Sérgio Xavier (secretário estadual de Meio Ambiente). Esse processo de apoio é uma discussão da Rede em Pernambuco. Respeitamos os fóruns locais, mas queremos que os partidos que têm uma posição de ajudar a melhorar esse processo dramático que o País está vivendo possam continuar a caminhar juntos e que ajudem a quebrar a polarização que já deu o que tinha que dar. É preciso construir um novo caminho, que seja capaz de amadurecer a democracia e institucionalizar as conquistas. Infelizmente até hoje isso não aconteceu. O Plano Real deveria ser preservado pelos governos do PT e do PMDB. Não foi e levamos o País à crise. As políticas sociais dos governos do PT tinham que ser institucionalizadas para que não fossem secundadas em qualquer que seja o governo. Isso é fazer política de forma a não confundir projeto de País com projeto de poder e não confundir a institucionalização das conquistas com a fulanização e a partidarização.

JC – O discurso do deputado Bolsonaro (PTC-RJ) lhe surpreende ou incomoda? Ou lhe é indiferente?

MARINA – Foi um esforço muito grande para as conquistas ligadas aos direitos humanos, das mulheres, das populações indígenas, da defesa do meio ambiente, para que isso seja anulado ou que tenha qualquer tipo de retrocesso. Nos momentos de crise, quando a sociedade se decepciona com aqueles que fizeram promessas que não conseguem cumprir, às vezes surgem essas pessoas com atitudes contrarias à democracia, mas a sociedade já tem o amadurecimento necessário para saber que, ainda que a democracia seja imperfeita, ela é a forma mais adequada de tratar as nossas imperfeições. Só uma democracia permite que existam aqueles que se colocam politicamente contra ela. As ditaduras não permitem os posicionamentos contrários. A polarização nos levou para esse abismo. Vamos resolver os problemas com mais polarização? Com certeza não. Vamos fazer uma reforma política que estabeleça um lugar para que a sociedade seja protagonista. Defendo a lista independente, que se quebre o monopólio dos partidos e que se tenha as candidaturas cívicas.

JC - Integrantes insatisfeitos com o PSB têm procurado a Rede? As portas estão abertas para eles?

MARINA - A rede tem dialogado com o PSB em torno das questões que interessam ao País nessa crise terrível que estamos vivendo. Tivemos uma relação que foi profícua na eleição de 2014. A rede tem uma posição de respeito com os partidos em relação a sua estrategia e obviamente que desejamos que se torne possível dar continuidade ao legado que foi suscitado em 2014. Essa é uma discussão que cada partido vai fazer no seu tempo porque é preciso respeitar a democracia. Numa democracia os partidos têm os direitos de buscar suas melhores alternativas. Sempre buscamos dialogar com os partidos na busca de salvaguardar os direitos que, agora no governo Temer, estão sendo cada vez mais aviltados com reformas que ainda que necessárias não deveriam ser feitas da forma que estão sendo feitas e da forma que estão sendo propostas.

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