VERBA INDENIZATÓRIA

Ex-comissionados operam empresas suspeitas que receberam R$ 1,7 milhão da Alepe

TCE mostra que sócios de empreendimentos que receberam verba indenizatória da Alepe tinham bom trânsito no Legislativo

Paulo Veras
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Paulo Veras
Publicado em 19/08/2017 às 8:29
Fotos: Diego Nigro/JC Imagem
TCE mostra que sócios de empreendimentos que receberam verba indenizatória da Alepe tinham bom trânsito no Legislativo - FOTO: Fotos: Diego Nigro/JC Imagem
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Ex-comissionados e pequenos imóveis estão por trás das sete empresas beneficiadas em R$ 1,7 milhão de verba indenizatória da Assembleia Legislativa, que o Tribunal de Contas não conseguiu comprovar suas existências. O JC esteve nos endereços de seis delas, mas não conseguiu encontrar os fornecedores que durante dois anos teriam prestado serviços que vão de locação de transportes à material de expediente para 20 deputados estaduais e dois ex-deputados.

A auditoria do TCE mostra que antes de prestarem serviços vultosos aos parlamentares, sócios dos empreendimentos já tinham bom trânsito no Legislativo. A S & Silva Entregas Rápidas, que o TCE aponta não ter veículos para realizar sua atividade principal, foi a que mais recebeu recursos: R$ 622,1 mil. Ela é administrada por Sérgio José da Silva, que a auditoria descobriu ter sido comissionado da Alepe entre 2009 e 2015, e por Igor Gustavo de Lucena, que trabalha para uma terceirizada da Casa de Joaquim Nabuco.

O número 54 da Rua do Sol, em Olinda, onde a firma deveria funcionar, é um imóvel fechado. Segundo os vizinhos, a casa serviu, nos dois últimos anos, como sede de um motoclube que se mudou no último mês. Na Alepe, Sérgio foi assessor especial do deputado José Humberto Cavalcanti (PTB). O gabinete do petebista gastou R$ 34,2 mil com a empresa. Procurado, José Humberto não respondeu. Sérgio não atendeu as ligações do JC. Ele foi exonerado da Câmara Federal, onde atuava, pelo deputado Fernando Monteiro (PP), até que o caso seja apurado.

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O JC também não encontrou nenhuma casa com o número 145 na Rua 23 de Novembro, em Peixinhos, onde teriam operado quatro empresas que receberam R$ 473 mil. O presidente da associação de moradores e comerciantes do bairro é titular de uma delas: a José Flávio Alves do Nascimento ME. Segundo o TCE, Analaiza Florêncio da Silva é sócia de outras duas: a T.R. Locação de Veículos adota “Flávio Nascimento” como nome de fantasia e a FF Consultoria emite notas fiscais com o email [email protected]

Na defesa encaminhada ao TCE, o prefeito de Olinda e ex-deputado Lupércio (SD) diz que Flávio se apresentava como representante da locadora de veículos. A auditoria diz ainda que Tula Rouse Beltrão de Lima foi uma das sócias do negócio, apesar de Flávio assinar os recibos. Tula também é sócia da Beltrão & Assunção Cursos e Assessoria, outra na mira do TCE.

Antes de abrirem os negócios, todos tiveram atuação na Alepe. Analaiza foi secretária parlamentar do deputado Everaldo Cabral (PP) no ano de 2012. Flávio ocupou o mesmo posto no gabinete de Gustavo Negromonte (PMDB) entre 2013 e 2014. Ele foi substituído na vaga por Tula. Everaldo e Gustavo não aparecem na lista de deputados que destinaram verba indenizatória para nenhuma das firmas.

O JC esteve na casa que os vizinhos dizem ser de Flávio, mas ninguém atendeu. Em um consultório ligado à associação que funciona na mesma rua, um homem que não quis se identificar disse que ele só estaria no local na segunda-feira. Gustavo Negromonte disse desconhecer que os ex-assessores possuíam empresas. Everaldo Cabral não retornou o contato.

AÇAÍ NO LUGAR DE PAPELARIA

Em Rio Doce e em Jardim Atlântico, vizinhos disseram lembrar de uma papelaria nos endereços que o TCE aponta como sendo da Shirleidy Osny Dantas Papelaria, que recebeu R$ 266 mil das verbas indenizatórias. Em duas diligências, porém, a auditoria não conseguiu confirmar a existência da empresa, nem se ela é a mesma. Nos registros da Alepe, a firma seguiu assinando contratos até dezembro de 2016, embora comerciantes dos dois locais garantam que as duas lojas fecharam há mais de um ano.

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“Teve uma papelaria. Mas faz mais de um ano que eles saíram e desapareceram. Eles vendiam artigos de papelaria, detergente, água sanitária, faziam trabalho de Internet, xerox, diversos serviços. Papel higiênico eles vendiam também. Era uma salada”, conta Carlos Artur, dono de uma loja de produtos para automóveis na Rua Jornalista Edson Regis. No local, hoje funciona uma hamburgueria.

Na Avenida Coronel Frederico Lundgren, há uma loja de açaí no endereço da firma que atendia os deputados. “Era uma papelaria. Não cheguei a conhecer a moça que era a inquilina. Ela fechou há muito mais de um ano. Uma vez chegou correspondência aqui com esse nome, mas ela já não estava mais”, diz Débora Valença, lojista.

O presidente da Alepe, Guilherme Uchoa (PDT), anunciou que os valores serão devolvidos voluntariamente pelos parlamentares. Ele também disse que todas as empresas deixarão de contratar com a Alepe por tempo indeterminado. A Casa também disse que o dinheiro foi liberado porque os fornecedores apresentaram cadastro regular nos órgãos competentes e as notas fiscais dos serviços prestados.

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